São Paulo, terça-feira, 28 de março de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Hamas apresenta gabinete e fala pela primeira vez em negociação

DA REDAÇÃO

O governo palestino chefiado pelo grupo terrorista Hamas aceita retomar as negociações de paz com Israel por meio de mediadores, mas não dobrará diante das pressões internacionais para moderar suas posições. A declaração foi feita pelo premiê nomeado, Ismail Haniyeh, que apresentou ontem o novo gabinete palestino.
Foi a primeira vez que Haniyeh falou em negociações, mas a declaração deve ter pouco efeito, já que o Hamas continua irredutível em sua recusa a abandonar a violência e reconhecer o direito de existência de Israel, pré-condições dos mediadores do Quarteto de Madri (EUA, UE, ONU e Rússia), para o reinício do diálogo.
"Nosso governo estará pronto para o diálogo com o Quarteto para acabar com o estado de luta", disse Haniyeh. Proferido na véspera de mais uma eleição israelense dominada pelo conflito, o discurso pode ter ajudado a manter dormente o chamado "efeito Hamas", um potencial destruidor de propostas moderadas em Israel. Mas não convenceu os governos americano e israelense.
"O que vemos dos líderes do Hamas é jogo duplo e ginástica verbal. Vemos um sinal de que as coisas vão mudar e então há imediatamente um recuo", disse Mark Regev, porta-voz da Chancelaria israelense. A Casa Branca reagiu de forma semelhante.
O terror e as formas de lidar com o problema sempre foram temas dominantes na política israelense, mas nenhuma eleição foi tão diretamente afetada por ele como a de 1996, quando o trabalhista Shimon Peres deixou escapar o que era considerada uma vitória certa após uma série de atentados do Hamas, que deixou quase 60 mortos.
Em seu discurso ao Parlamento palestino, Ismail Haniyeh evitou usar a palavra "resistência", com a qual geralmente o Hamas justifica os ataques a Israel, preferindo o termo "direito de autodefesa". Ele não explicou como pretende avançar o processo de paz, mas o presidente do Parlamento, Abdel Aziz Duaik, também do Hamas, disse que o grupo reconheceria Israel em troca da retirada da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental.
Haniyeh insistiu que os cortes na ajuda financeira internacional não mudarão a posição do Hamas. "Quem acha que a pressão econômica pode levar nosso governo a sucumbir ou enfraquecer a determinação de nosso povo está enganado", disse. O Parlamento palestino deve aprovar hoje ou amanhã o novo gabinete.


Com agências internacionais

Texto Anterior: Líder ausente encerra ciclo e dá tom do novo
Próximo Texto: Europa: França faz jornada de protestos, mas periferia segue alheia
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.