|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Analistas não creem em ação organizada do PCC
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
É bastante remota -e muito
fantasiosa- a hipótese de que o
PCC (Primeiro Comando da
Capital) tenha participado como organização no atentado
contra o senador paraguaio Robert Acevedo. A avaliação é do
cientista político Guaracy Mingardi, pesquisador do Fórum
Nacional de Segurança Pública
e estudioso da facção criminosa
há cerca de cinco anos.
"Os pistoleiros podem fazer
parte do PCC, mas a organização não tem braços fora do
país", diz Mingardi. A hipótese
dele é que os autores do atentado tenham sido contratados
para matar o senador. Ele frisa
que integrar o PCC não significa agir em nome do grupo.
Segundo Mingardi, a força do
PCC está nas prisões. Mingardi
estima que, no Estado de São
Paulo, a facção controle 80%
dos presídios. Para ele, o poder
da facção é superestimado pela
polícia, principalmente no que
diz respeito ao tráfico de drogas. "O PCC não é como o Comando Vermelho, que domina
o tráfico no Rio", afirma.
Wagner Mesquita, delegado
da Polícia Federal de Curitiba
que investigou os negócios no
Paraguai de Luiz Fernando da
Costa, o Fernandinho Beira-Mar, diz concordar com a hipótese de Mingardi.
"Acho muito difícil o PCC
promover ações no Paraguai. O
mais provável é que os pistoleiros tenham sido contratados
para esse crime", afirma.
De acordo com Mesquita, o
Paraguai é o território usado
por facções criminosas para
trazer cocaína da Bolívia para o
Brasil. É de lá que sai também a
maior parte da maconha vendida no país. Mas não há indícios
de que o PCC tenha montado
bases naquele país, afirma.
Beira-Mar foi o traficante
brasileiro que mais negócios
manteve no Paraguai, segundo
investigações da PF. Na Operação Fênix, de 2008, a PF descobriu que ele tinha duas bases
naquele país: uma perto de Foz
do Iguaçu e outra nas proximidades de Guaíra.
Tinha também uma fazenda
de 3.400 hectares, usada para
misturar a cocaína vinda da Bolívia com xilocaína ou cafeína
para aumentar o lucro. Nas escutas telefônicas, os traficantes
tinham um codinome para esse
processo: diziam que iam "vacinar o gado". Um avião de Beira-Mar trazia a droga para o Brasil.
A investigação da PF apontou que as bases eram um negócio de Beira-Mar no Paraguai,
não do Comando Vermelho.
O juiz federal Sérgio Moro,
de Curitiba, que condenou Beira-Mar a 29 anos de prisão por
crimes que ele cometeu quando estava preso, determinou
que a fazenda fosse sequestrada, mas dois anos depois a ordem não foi cumprida.
Texto Anterior: Entrevista: Senador culpa "cooperativa narcotraficante" Próximo Texto: Congresso dos EUA é redefinido por latinos Índice
|