São Paulo, quarta-feira, 28 de abril de 2010

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Analistas não creem em ação organizada do PCC

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

É bastante remota -e muito fantasiosa- a hipótese de que o PCC (Primeiro Comando da Capital) tenha participado como organização no atentado contra o senador paraguaio Robert Acevedo. A avaliação é do cientista político Guaracy Mingardi, pesquisador do Fórum Nacional de Segurança Pública e estudioso da facção criminosa há cerca de cinco anos.
"Os pistoleiros podem fazer parte do PCC, mas a organização não tem braços fora do país", diz Mingardi. A hipótese dele é que os autores do atentado tenham sido contratados para matar o senador. Ele frisa que integrar o PCC não significa agir em nome do grupo.
Segundo Mingardi, a força do PCC está nas prisões. Mingardi estima que, no Estado de São Paulo, a facção controle 80% dos presídios. Para ele, o poder da facção é superestimado pela polícia, principalmente no que diz respeito ao tráfico de drogas. "O PCC não é como o Comando Vermelho, que domina o tráfico no Rio", afirma.
Wagner Mesquita, delegado da Polícia Federal de Curitiba que investigou os negócios no Paraguai de Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, diz concordar com a hipótese de Mingardi.
"Acho muito difícil o PCC promover ações no Paraguai. O mais provável é que os pistoleiros tenham sido contratados para esse crime", afirma.
De acordo com Mesquita, o Paraguai é o território usado por facções criminosas para trazer cocaína da Bolívia para o Brasil. É de lá que sai também a maior parte da maconha vendida no país. Mas não há indícios de que o PCC tenha montado bases naquele país, afirma.
Beira-Mar foi o traficante brasileiro que mais negócios manteve no Paraguai, segundo investigações da PF. Na Operação Fênix, de 2008, a PF descobriu que ele tinha duas bases naquele país: uma perto de Foz do Iguaçu e outra nas proximidades de Guaíra.
Tinha também uma fazenda de 3.400 hectares, usada para misturar a cocaína vinda da Bolívia com xilocaína ou cafeína para aumentar o lucro. Nas escutas telefônicas, os traficantes tinham um codinome para esse processo: diziam que iam "vacinar o gado". Um avião de Beira-Mar trazia a droga para o Brasil.
A investigação da PF apontou que as bases eram um negócio de Beira-Mar no Paraguai, não do Comando Vermelho.
O juiz federal Sérgio Moro, de Curitiba, que condenou Beira-Mar a 29 anos de prisão por crimes que ele cometeu quando estava preso, determinou que a fazenda fosse sequestrada, mas dois anos depois a ordem não foi cumprida.


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