São Paulo, quarta, 28 de maio de 1997.



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PÓS-ELEIÇÃO
Autoridades dos dois países trocam acusações, mas vitória de moderado pode mudar relação bilateral
Degelo depende dos EUA, diz Khatami

das agências internacionais

O presidente eleito do Irã, Mohammad Khatami, disse que está nas mãos do governo norte-americano tomar a iniciativa de um eventual degelo nas relações entre os dois países.
"As nossas relações com os Estados Unidos vão depender de percebermos mudanças na atitude deles em relação a nós, mas infelizmente não temos visto nada," disse Khatami na primeira entrevista coletiva depois da grande vitória eleitoral de sexta-feira passada.
Falando a jornalistas em Paris, onde acompanhava o presidente Bill Clinton no encontro Otan-Rússia, o porta-voz da Casa Branca, Mike McCurry, defendeu a política dos EUA.
Os Estados Unidos tentam isolar o Irã, que acusam de sabotar o processo de paz no Oriente Médio, apoiar o terrorismo internacional e pretender ter armas nucleares. O Irã nega essas acusações.
As relações dos dois países são hostis, desde que radicais mantiveram 52 norte-americanos reféns na embaixada dos EUA em Teerã (capital do Irã), de 1979 a 1981.
"As coisas que nos preocupam e incomodam sobre o comportamento do Irã no mundo precisam mudar para que pensemos de forma mais liberal sobre o papel do Irã na comunidade internacional," disse McCurry.
A Secretária de Estado Madeleine Albright, que também estava em Paris, disse que os Estados Unidos "consideram importante que o Irã apóie o processo de paz do Oriente Médio, não se envolva na criação e posse de armas de destruição em massa e não apóie o terrorismo".
E acrescentou: "Tudo depende de como o novo governo vai agir nessas questões".
Apesar da linha-dura dos EUA, alguns observadores acreditam que o governo norte-americano pode agora repensar sua política de isolar o Irã, depois da eleição de um clérigo relativamente moderado para a Presidência daquele país.
A eleição de Khatami "lança uma luz totalmente nova sobre o regime", disse Kenneth Katzman, ex-analista da CIA (a agência de inteligência dos EUA), que atualmente acompanha o Irã para o Serviço de Pesquisa do Congresso.
Segundo Katzman, a vitória de Khatami sobre um candidato apoiado pelo establishment religioso fundamentalista mostra que o sistema iraniano está se tornando mais pluralista, sem necessariamente se afastar de suas bases islâmicas e revolucionárias.
Richard Murphy, subsecretário de Estado entre 1983 e 1989, disse que a Casa Branca deve reagir de mente aberta à eleição de Khatami. De um modo geral, a Europa tem uma posição mais pragmática em relação ao Irã do que os EUA.
A eleição de Khatami provavelmente vai aumentar a pressão dos europeus sobre os EUA para que o país desista de arregimentar uma aliança contra o Irã.
Clinton e o presidente da França, Jacques Chirac, "conversaram brevemente" sobre o Irã ontem. Mas não há qualquer indício de que a França desistiu de apoiar o diálogo com Teerã.



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