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ORIENTE MÉDIO
Saída israelense do sul do Líbano reformula política na região
Retirada enfraquece controle sírio
THOMAS L. FRIEDMAN
DO "THE NEW YORK TIMES"
Na última vez em que estive na
"zona de segurança" israelense no
sul do Líbano, eu estava sendo
conduzido para os diferentes lugares por um agitado assessor de
imprensa do exército israelense,
em seu velho Mercedes.
Andávamos em alta velocidade
em uma estrada perto de Marjayoun quando um veículo blindado de transporte de tropas pertencente ao Exército do Sul do Líbano (ESL), apoiado por Israel, se
aproximou, também em alta velocidade, vindo no sentido oposto.
Seu veículo derrapou e acabou arranhando nosso Mercedes. Tanto
eles quanto nós andávamos tão
rápido, e o veículo de transporte
era tão pesado, que simplesmente
arrancou fora a porta do motorista de nosso carro.
Foi essa a última imagem que tive da região ocupada pelo Exército de Israel.
A "zona de segurança" israelense no sul do Líbano era um lugar
desse tipo -um pouco improvisado, um pouco maluco, em parte
zona mortal, em parte teatro do
absurdo, um lugar onde valia tudo.
Quem imaginava que a retirada
israelense da zona pudesse ser ordeira e bonitinha simplesmente
nunca esteve no sul do Líbano.
Mas não se deixe levar pela confusão momentânea. Não é isso o
mais importante. O importante é
que a retirada israelense guarda
significado geopolítico enorme
para o Oriente Médio.
À sua própria maneira, o sul do
Líbano vem sendo a pedra angular da política no Oriente Médio.
Esse território vem mantendo um
conjunto de relacionamentos e
possibilitando que se evite a obrigação de responder a todo um
conjunto de grandes perguntas.
E adivinhe o quê? A corajosa e
estratégica decisão tomada pelo
premiê Ehud Barak de promover
a retirada acaba de remover essa
pedra angular, e agora todos na
região serão obrigados a ajustar-se à nova realidade.
Nos últimos 20 anos, a "zona de
segurança" foi o lugar onde Israel
e a Síria puderam travar uma
guerra por procuração e descarregar seus ódios, matando libaneses
em lugar de matar-se uns aos outros.
Foi o lugar onde a Síria pôde
manter os combatentes libaneses
do Hizbollah ocupados, de maneira que não atacassem os sírios
no Líbano. Foi uma fronteira onde o Irã, atuando por meio dos
guerrilheiros libaneses, pôde derramar sangue israelense.
E foi a ocupação israelense do
sul do Líbano que forneceu a todos os governos árabes a desculpa
necessária para tolerarem a ocupação síria do Líbano. Vejamos,
entretanto, o que vai acontecer
agora: a Síria, que não pode mais
sangrar Israel por meio do sul do
Líbano, passa a ter muito menos
poder de manipulação.
Ou terá de entrar em guerra diretamente com Israel, arriscando
tudo, ou terá de dar passos decisivos em direção à paz, aceitando os
termos básicos estipulados pelo
governo de Israel para um acordo
sobre as colinas do Golã, tomadas
da Síria em 1967.
O Hizbollah, enquanto isso, terá
que decidir o que fazer com sua
vitória. Acaba de expulsar Israel
do Líbano, e isso lhe conferiu
enorme prestígio.
O Hizbollah tem duas opções
possíveis: levar sua investida
adiante até Jerusalém e ser totalmente destroçado por Israel ou
voltar-se a Beirute e usar essa vitória militar para conseguir uma
parte maior do poder para governar o Líbano. Meu palpite pessoal
é que o Hizbollah vai acabar voltando-se a Beirute.
Finalmente, se a fronteira entre
Israel e Líbano vier a se estabilizar,
Barak poderá concluir que uma
retirada unilateral seria a melhor
maneira de lidar também com a
Cisjordânia: simplesmente traçar
a linha que o governo de Israel deseja, dizer "tchau" e desistir de
tentar chegar a um acordo de paz
com os palestinos.
É bom lembrar o seguinte: agora que o Hizbollah expulsou os israelenses à força do sul do Líbano,
será muito mais difícil para o presidente da Autoridade Nacional
Palestina, Iasser Arafat, ceder território a Israel ou fazer qualquer
tipo de concessão. Isso lhe faria
parecer um covarde aos olhos dos
árabes.
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