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INGLATERRA PARA OS INGLESES
Capital britânica registrou, em 99, mais de 63 denúncias de intolerância racial por dia
Casos de racismo disparam em Londres
RICARDO GRINBAUM
DE LONDRES
Quem anda pelas ruas do distrito de Newham, no extremo nordeste de Londres, vê uma cidade
muito diferente das imagens de
cartão-postal da praça Picadilly
Circus ou do relógio Big Ben.
Em Newham, mais da metade
da população é negra ou mestiça,
a maioria das lojas tem letreiros
escritos em hindi e muitas pessoas evitam sair de casa à noite,
com medo da violência.
Newham é o local onde há o
maior número de ataques por
motivos raciais no Reino Unido.
No ano passado, foram registradas mais de 1.300 denúncias na região, mil a mais do que em 1998.
"Aqui se concentram muitos
trabalhadores desempregados e
jovens sem perspectiva que acabam se transformando em "hooligans" (desordeiros) racistas", disse à Folha Barry Bracken, da
Alert, instituição dedicada a combater o racismo. "A vida aqui não
é fácil", afirmou Bracken.
Newham é um exemplo extremo de uma das questões que mais
inquietam os britânicos no momento. Até poucos anos atrás,
quando se falava em racismo na
Europa pensava-se logo nos grupos de neonazistas alemães ou
nos partidos de extrema direita da
Áustria, da Itália ou da França.
Agora, há um medo de que esteja havendo um crescimento no
número de "hooligans" racistas
no Reino Unido.
Só em Londres, a polícia registrou 23.346 denúncias de agressão
por motivos raciais no ano passado, mais de 63 por dia. É o dobro
do número de casos registrados
na cidade no ano anterior, além
de superar o total de denúncias
feitas em 1998 em todo o território
do Reino Unido.
Os políticos e os acadêmicos pedem cautela, no entanto, no exame dos números. Para eles, o crescimento pode revelar um acirramento do ódio racial, mas também pode indicar que as pessoas
estão se sentindo cada vez mais à
vontade para fazer as denúncias.
O tratamento às denúncias de
racismo mudou radicalmente nos
últimos tempos, depois do chamado relatório McPherson, que
revelou como a polícia fez vista
grossa ao assassinato do adolescente negro Stephen Lawrence,
morto por uma gangue de jovens
brancos no sul de Londres. Depois disso, a polícia foi forçada a
mudar seus métodos.
"O racismo é uma questão preocupante aqui, mas o Reino Unido
é um dos países que reagem com
maior rapidez ao problema", disse Gurbux Singh, presidente da
Comissão por Igualdade Racial,
principal organização a combater
o racismo no país.
Radicalização política
No Reino Unido, ainda não
existem movimentos racistas fortemente organizados como os
neonazistas alemães. E o partido
de extrema direita, o Nacional
Britânico, é um nanico na política
nacional.
O que mais preocupa, no entanto, é que pode estar havendo uma
radicalização política em função
do aumento da chegada de imigrantes de países pobres.
"Em algumas regiões, a violência é grande, especialmente quando existem muitos jovens brancos
desempregados. Se eles vêem negros ou imigrantes asiáticos ou latinos subindo na vida, com carrões, eles partem para a violência", disse Mike Best, diretor do
jornal "The Voice", que representa as minorias do Reino Unido.
Um caso emblemático do ódio
racial no Reino Unido ocorreu em
abril do ano passado, quando
uma bomba com pregos explodiu
no mercado de Brixton, no sul de
Londres, muito frequentado por
negros e por pessoas de origem
asiática. A explosão deixou 40
pessoas feridas e matou um bebê
de 1 ano e 11 meses.
Foram noticiados recentemente
tantos casos de agressões racistas
que houve quem tentasse tirar
proveito da história. Em abril,
Chris Cotter, namorado de uma
das atletas mais importantes do
Reino Unido, Ashia Hansen, recordista mundial do salto triplo,
apresentou uma denúncia grave.
Cotter disse que foi esfaqueado
por uma gangue porque ele é
branco e estava namorando uma
atleta negra. Na semana passada,
a polícia descobriu que Cotter inventou toda a história para aproveitar a comoção no Reino Unido
em torno do racismo e se promover. Acabou na cadeia.
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