São Paulo, domingo, 28 de maio de 2000


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Costureira boliviana sofre perseguição

DE LONDRES

Quando a costureira boliviana Mercedes mudou para um sobrado na região norte de Londres, achou que estava chegando ao paraíso da classe operária britânica.Todas as casas têm dois andares, jardim na entrada e carro na garagem. As ruas são limpas, tranquilas e silenciosas.
"Parece um paraíso, mas é um inferno", diz ela, que pediu para não ser identificada. "Muitos dias pensei em cometer alguma loucura, mas não fiz porque sou uma pessoa muito religiosa."
O inferno da imigrante boliviana e de seu marido africano são os vizinhos ingleses. Eles moram num bairro operário, onde o desemprego chega a 15% da população em idade produtiva, resultado do fechamento de indústrias na região metropolitana de Londres.
"Eles não aceitam nenhum vizinho negro ou mestiço, especialmente se você começa a fazer algum dinheiro", diz a costureira.
Durante quatro anos, um grupo de jovens desempregados provocou arruaça quase todas as noites na porta da casa de Mercedes. Eles jogavam pedras, pichavam as paredes, ameaçavam tocar fogo na casa e chegaram a bater no marido dela, para forçá-los a se mudar.
"Eles é que têm de sair, porque não fizemos nada de errado e, além disso, em outros lugares poderiam acontecer os mesmos problemas", diz Mercedes.
Mercedes conseguiu expulsar pelo menos um agressor da vizinhança. Num processo movido pela administração regional da prefeitura, a Justiça ordenou que um dos "hooligans" racistas deixasse a casa onde morava e que era de propriedade do município.
Mercedes é um exemplo extremo de quem sofre perseguição por motivos raciais por um longo período, por mais de quatro anos. Mas, nas áreas de forte concentração de imigrantes do Terceiro Mundo, não são raros os casos de agressões.
As ofensas podem se resumir a um xingamento, mas em alguns casos vão a extremos. Na cidade de Berinsfield, o mecânico Chris Barton andava na rua, à noite, quando um carro parou ao seu lado, com quatro jovens brancos. Eles jogaram gasolina em seu rosto e puseram fogo. "Eles ficaram rindo enquanto acenderam o fogo", disse ele. (RG)


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