DA REDAÇÃO

A questão das supostas armas de destruição em massa iraquianas gerou uma contenda entre a rede de rádio e TV britânica BBC e o gabinete do premiê Tony Blair. Richard Sambrook, diretor da BBC News, acusou ontem o assessor de imprensa de Blair, Alastair Campbell, de usar a discussão sobre as armas por causa de "desavenças pessoais".
"Nossa posição é firme sobre o fato de o governo ter tentado intimidar a BBC em sua cobertura dos eventos que levaram à guerra e da guerra em si", escreveu Sambrook em carta a Campbell. Anteontem, Campbell acusou a BBC de mentir sobre a questão das armas para fomentar uma campanha contra Blair e sua equipe e exigiu uma retratação.
O premiê é alvo de dois inquéritos no Parlamento britânico que investigam o uso de relatórios de inteligência sobre o suposto arsenal químico e biológico iraquiano, cuja existência, até agora, não pôde ser provada. Os parlamentares investigam se o premiê distorceu ou exagerou informações contidas nos dossiês para promover seu ponto de vista -de que o Reino Unido deveria se aliar aos EUA e invadir o Iraque porque o país representaria uma ameaça iminente à paz.
As investigações começaram após o correspondente de defesa da BBC, Andrew Gilligan, dizer, em maio, que a assessoria de Blair reescreveu um relatório para que o premiê convencesse o Parlamento da necessidade de invadir o Iraque.
Entre as informações questionadas está a de que o então ditador Saddam Hussein teria condição de lançar um ataque químico e biológico em 45 minutos. O analista afirmou ainda que o serviço secreto não gostou das alterações e que membros da inteligência disseram que a informação sobre a capacidade quase imediata de ataque viera de uma fonte suspeita, cujo depoimento não foi cruzado com o de outra fonte, como é a praxe.
O governo negou ter alterado os documentos. "Até que a BBC reconheça que isso é uma mentira, vou continuar insistindo", disse Campbell.