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Honduras se divide sobre consulta por nova Constituinte
Em meio a ameaça de crise institucional, país decide se apoia ou não a controversa iniciativa do presidente Manuel Zelaya
Forças Armadas, igreja e
até quadros governistas se opõem por considerar que mandatário tenta viabilizar reeleição, mas Zelaya nega
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA
(HONDURAS)
Flertando com uma grave
crise institucional, os hondurenhos estão divididos sobre se
irão hoje às urnas apoiar a iniciativa do presidente Manuel
Zelaya de convocar uma Assembleia Constituinte. A consulta, declarada ilegal pelo
Congresso, pela Promotoria e
pela Justiça, sofre forte oposição das Forças Armadas, da
Igreja Católica e até de parte do
governista Partido Liberal.
Zelaya quer obter apoio popular para a instalação da chamada "quarta urna" nas eleições de 29 de novembro, simultaneamente presidencial, legislativa e municipal. É uma consulta sobre uma consulta: o
aliado do presidente Hugo
Chávez quer que os eleitores
decidam se apoiam ou não a
convocação de uma nova Constituinte dentro de cinco meses.
Os críticos da proposta acusam Zelaya de tentar mudar a
Constituição para poder se
candidatar novamente à Presidência -em Honduras, o mandato é de quatro anos, sem direito à reeleição. Caso não haja
mudanças, seu período se encerrará em janeiro.
Zelaya, 56, nega que queira
permanecer no poder após o final do seu atual mandato, embora admita que, "se houver
vontade popular", postulará
novamente à Presidência.
"As pessoas não sabem do
que se trata a consulta. Não sabemos se é para mudar a Constituição, se é para o presidente
se reeleger ou se é para eliminar as eleições de novembro",
disse ontem à Folha o porteiro
Juan Castro, 40. Como a maioria dos críticos a Zelaya, ele diz
que não votará hoje e teme que
haja violência nas ruas.
Ao seu lado, o também porteiro Jesus Moreno, 50, diz que
irá votar a favor da proposta de
Zelaya e que apoia a sua reeleição. "Honduras precisa muito
de mudança, e o presidente
tem ajudado a gente mais humilde." Ele acredita que a votação ocorrerá de forma pacífica.
Dúvidas sobre apuração
Sem o apoio das Forças Armadas e de outras instituições
do Estado, a votação de hoje está sendo organizada por funcionários públicos do Executivo e
militantes governistas em praças e outros locais improvisados. Ainda não está claro como
será feita a apuração.
O enfrentamento entre o
Executivo e os outros Poderes
gerou acusações mútuas de golpe de Estado e levou os militares a patrulhar as ruas durante
a última semana, principalmente na quinta-feira.
Ontem, o comércio voltou a
funcionar normalmente em
Tegucigalpa. Durante a tarde,
as ruas apresentavam os tradicionais engarrafamentos, em
parte em consequência da forte
chuva que caía sobre a cidade.
Os governistas planejam instalar 15 mil urnas e distribuir 2
milhões de cédulas pelo país, o
segundo mais pobre da América Central, com uma população
de 7,9 milhões (cerca de metade da Grande São Paulo).
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