São Paulo, domingo, 28 de junho de 1998

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Jornal de Kosovo sofre intimidação

ROBERT FISK
do "The Independent", em Pristina

A televisão sérvia o chama de "jornal terrorista", o que é estranho, porque o "Koha Ditore" (algo como "Tempo Diário") não publica editoriais, nem reportagens contendo nenhum indício das opiniões de seus jornalistas.
Quando o Exército de Libertação de Kosovo (ELK) dominou um terço da Província iugoslava, o jornal, produzido para a comunidade étnica albanesa de Kosovo, maioria na região, nem sequer publicou mapa para mostrar a área sob seu controle.
O "Koha Ditore" chega a vender 30 mil exemplares por dia apenas quatro anos depois de ser fundado numa Província onde as autoridades sérvias têm todos os motivos possíveis para querer acabar com o jornal.
O diário perdeu temporariamente um terço de sua circulação devido ao fechamento dos trens entre a capital de Kosovo, Pristina, e a cidade de Pec, que se encontra sob o controle do ELK. Mas ainda é vendido no exterior -na Alemanha, na Suíça, no Reino Unido, na Holanda e na Macedônia, embora não na Albânia.
Num dia mediano, o tablóide de 16 páginas publica sete artigos e pelo menos uma foto em sua primeira página, mas lota suas páginas internas com matérias produzidas por seus 13 jornalistas (o mais velho dos quais tem 27 anos) e até 50 colaboradores.
Trinta jovens trabalham na redação, sob a direção de cinco editores. Muitos buscam notícias na Internet ou na agência albanesa local de notícias.
Há alguns meses, a polícia espancou o editor executivo, Veton Surroi. Depois, arrombou seu escritório e atacou o diretor administrativo do jornal, Luan Dobroshi. Um fotógrafo foi perseguido pelo prédio e atirou-se de uma janela, quebrando a perna ao cair na calçada. Os jornalistas desconfiam que foi uma vingança sérvia pela visita feita por um diplomata dos Estados Unidos à sede do jornal, alguns dias antes.
"Não procuramos furos ou entrevistas exclusivas", disse Virtyt Gacaferri, 24, um dos repórteres veteranos do diário. "Podemos dizer que damos voz à oposição política albanesa e, às vezes, publicamos matérias especiais."


Tradução de Clara Allain



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