São Paulo, domingo, 28 de junho de 1998

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Cidade teve "aula prática' sobre consumo de álcool

do enviado especial

Durante sua gestão como prefeito, Antanas Mockus desenvolveu outros projetos polêmicos relacionados ao combate à violência.
Ele propôs que os alunos de segundo grau participassem de atividades nas quais o uso do álcool e suas consequências fossem discutidas por meio de jogos. Ao final, haveria uma experiência prática, acompanhada de um professor.
"Isso vem da idéia de Platão de que uma pessoa mais experiente pode ajudar o jovem a experimentar coisas novas de maneira prudente e ilustrada", disse Mockus, que é professor-assistente da Faculdade de Matemática da Universidade Nacional e também se interessa por filosofia.
Os alunos participariam de dois jogos. O primeiro informaria sobre os efeitos do álcool, as dosagens de cada bebida etc. No segundo, cada participante interpretaria um papel típico do universo do álcool: o bêbado violento, a mulher vítima de violência etc.
"Depois, haveria uma confraternização em que os jovens beberiam junto com o professor e, por fim, uma avaliação", diz.
A idéia foi muito combatida e acabou não sendo implementada oficialmente. "Mas provocou discussão e acho que acabou sendo testada em algumas escolas", diz.
Mockus também promoveu "jornadas de vacinação contra a violência infantil". Cerca de 40 mil pessoas, desde crianças até adultos, tornaram públicos maltratos sofridos durante a infância.
As seções ocorreram em parques e praças. O voluntário desenhava numa bexiga o rosto da pessoa que o maltratou quando criança. O rosto então era colocado sobre um corpo e a pessoa dizia tudo o que tinha vontade para o boneco à sua frente.
Depois, pendurava numa árvore uma mensagem relacionada à idéia de não-violência. Por fim, recebia uma vacina (gotas de água) contra a violência infantil.
Também foram criados novos locais de atendimento a mulheres e crianças vítimas de violência doméstica. O número de casos atendidos saltou de 15 mil na administração anterior para 75 mil.
Um terceiro projeto, apenas parcialmente realizado, foi o desarmamento da população de Bogotá, onde estima-se que existam cerca de 200 mil cidadãos armados (60 mil têm porte de arma).
Inicialmente, o prefeito queria suspender os portes de arma durante os finais de semana. Mas a medida não foi em frente porque requeria a aprovação de outros níveis de governo.

Desarmamento voluntário
Promoveu-se, então, uma campanha de desarmamento voluntário: 2.538 armas foram entregues por seus proprietários em igrejas de Bogotá (em troca de um bônus no valor de US$ 80). As armas foram fundidas e transformadas em colheres de bebê.
"A posse de uma arma é um fator de risco a mais na vida do cidadão comum", diz Mockus. "Para cada indivíduo que a utiliza para se defender, 42 são vítimas de problemas com a arma." (OD)



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