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Terrorismo também é questão social, afirma presidente Toledo
JULIA DUAILIBI
ENVIADA ESPECIAL A LIMA
Além da queda na popularidade, o presidente do Peru, Alejandro Toledo, convive com outro
problema: a sombra do terrorismo que ronda o país. Toledo não
nega a ameaça, mas afirma que o
combate ao terror não é um assunto "estritamente militar".
"Não é um tema só de fuzis, mas
de educação, de saúde", afirmou
Toledo em entrevista à Folha, anteontem, em Lima.
Segundo os EUA, a guerrilha
Sendero Luminoso está se rearticulando, após desmonte no governo de Alberto Fujimori (1990-2000). Acusado de corrupção e
violações dos direitos humanos,
Fujimori está exilado no Japão.
O forte esquema de segurança
montado na visita do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, nesta semana, deixou claro que o terrorismo ainda é uma das maiores
preocupações do Peru.
Fujimori era apontado como
autoritário. Toledo hoje é criticado por não conseguir articular as
ações do governo, além de não ter
obtido mudanças relevantes na situação de miséria social do país.
Sobre a enorme impopularidade (é aprovado por 14% da população, segundo pesquisa divulgada na segunda), diz que "conduzir
a economia com responsabilidade" significa pagar o "preço". Leia
abaixo trechos da entrevista.
Folha - O Sendero Luminoso e o
Movimento Revolucionário Tupac
Amaru estão se articulando novamente no seu governo?
Alejandro Toledo - O terrorismo
não surgiu agora. Fujimori não
acabou com o terrorismo. Houve
avanços. Mas ficaram rescaldos,
grupos pequenos de terroristas
que estão escondidos numa área
da selva nos rios Ene e Apurímac.
Existem rescaldos, mas não é uma
renascimento do terrorismo. Nós
temos uma política muito firme: o
terrorismo e o narcotráfico são
uma aliança estratégia perversa,
mas não lhes damos um só centímetro. Fujimori não terminou,
avançou de maneira importante.
Folha - Como é essa política?
Toledo - Precisamos de uma
vontade política e de uma posição
para afirmar que o terrorismo
não é um tema estritamente militar. Para enfrentar o terrorismo,
não podemos ter só armas. Precisamos investir mais em saúde,
educação, agricultura, estradas
para os pobres, que foram sempre
excluídos. (...) Não é um tema só
de fuzis, mas de educação, de saúde. É um tema militar, mas não
exclusivamente militar.
Folha - A economia do país vai
bem, mas ainda assim a população
peruana o avalia mal.
Toledo - O presidente Lula não
teve o que eu tive. Foi eleito em
um governo democrático. Ele não
recebeu uma ditadura corrupta.
Eu recebi um país com altas expectativas sociais, com instituições democráticas frágeis, um
país desalentado porque o enganaram. Mas fui eleito para tomar
decisões de Estado. Pensando nas
próximas gerações. Não para tomar decisões de governo, pensando nas próximas eleições.
Conduzir a economia com responsabilidade significa pagar esse
preço. Poderia amanhã aumentar
a minha popularidade sem nenhum problema: gasto mais. Posso entregar dinheiro, posso queimar reservas internacionais. Posso entregar mais comida. Aumento o déficit fiscal que leva a inflações e hiperinflações. Os pobres
ficam mais pobres. (...) Venho de
um povoado muito pobre. Meus
pais eram agricultores e me ensinaram que, para colher, temos de
plantar, colocar água, cuidar. Em
2006 [no fim do mandato] colherei. Julguem-me em 2006.
Folha - Enquanto isso Fujimori está com a popularidade alta.
Toledo - Se tem tanta popularidade, por que não vem ao Peru?
Seria um erro numa partida de futebol em que não há gols no primeiro tempo sair do estádio antes
do final do jogo. Sua equipe não
fez gols ainda, apesar de ter jogado bem. Mas uma partida tem 90
minutos.
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