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São Paulo, quinta-feira, 28 de agosto de 2003

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Terrorismo também é questão social, afirma presidente Toledo

JULIA DUAILIBI
ENVIADA ESPECIAL A LIMA

Além da queda na popularidade, o presidente do Peru, Alejandro Toledo, convive com outro problema: a sombra do terrorismo que ronda o país. Toledo não nega a ameaça, mas afirma que o combate ao terror não é um assunto "estritamente militar".
"Não é um tema só de fuzis, mas de educação, de saúde", afirmou Toledo em entrevista à Folha, anteontem, em Lima.
Segundo os EUA, a guerrilha Sendero Luminoso está se rearticulando, após desmonte no governo de Alberto Fujimori (1990-2000). Acusado de corrupção e violações dos direitos humanos, Fujimori está exilado no Japão.
O forte esquema de segurança montado na visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nesta semana, deixou claro que o terrorismo ainda é uma das maiores preocupações do Peru.
Fujimori era apontado como autoritário. Toledo hoje é criticado por não conseguir articular as ações do governo, além de não ter obtido mudanças relevantes na situação de miséria social do país.
Sobre a enorme impopularidade (é aprovado por 14% da população, segundo pesquisa divulgada na segunda), diz que "conduzir a economia com responsabilidade" significa pagar o "preço". Leia abaixo trechos da entrevista.
 

Folha - O Sendero Luminoso e o Movimento Revolucionário Tupac Amaru estão se articulando novamente no seu governo?
Alejandro Toledo -
O terrorismo não surgiu agora. Fujimori não acabou com o terrorismo. Houve avanços. Mas ficaram rescaldos, grupos pequenos de terroristas que estão escondidos numa área da selva nos rios Ene e Apurímac. Existem rescaldos, mas não é uma renascimento do terrorismo. Nós temos uma política muito firme: o terrorismo e o narcotráfico são uma aliança estratégia perversa, mas não lhes damos um só centímetro. Fujimori não terminou, avançou de maneira importante.

Folha - Como é essa política?
Toledo -
Precisamos de uma vontade política e de uma posição para afirmar que o terrorismo não é um tema estritamente militar. Para enfrentar o terrorismo, não podemos ter só armas. Precisamos investir mais em saúde, educação, agricultura, estradas para os pobres, que foram sempre excluídos. (...) Não é um tema só de fuzis, mas de educação, de saúde. É um tema militar, mas não exclusivamente militar.

Folha - A economia do país vai bem, mas ainda assim a população peruana o avalia mal.
Toledo -
O presidente Lula não teve o que eu tive. Foi eleito em um governo democrático. Ele não recebeu uma ditadura corrupta. Eu recebi um país com altas expectativas sociais, com instituições democráticas frágeis, um país desalentado porque o enganaram. Mas fui eleito para tomar decisões de Estado. Pensando nas próximas gerações. Não para tomar decisões de governo, pensando nas próximas eleições.
Conduzir a economia com responsabilidade significa pagar esse preço. Poderia amanhã aumentar a minha popularidade sem nenhum problema: gasto mais. Posso entregar dinheiro, posso queimar reservas internacionais. Posso entregar mais comida. Aumento o déficit fiscal que leva a inflações e hiperinflações. Os pobres ficam mais pobres. (...) Venho de um povoado muito pobre. Meus pais eram agricultores e me ensinaram que, para colher, temos de plantar, colocar água, cuidar. Em 2006 [no fim do mandato] colherei. Julguem-me em 2006.

Folha - Enquanto isso Fujimori está com a popularidade alta.
Toledo -
Se tem tanta popularidade, por que não vem ao Peru? Seria um erro numa partida de futebol em que não há gols no primeiro tempo sair do estádio antes do final do jogo. Sua equipe não fez gols ainda, apesar de ter jogado bem. Mas uma partida tem 90 minutos.


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