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O IMPÉRIO VOTA - RETA FINAL
Como senador, democrata criticou a Guerra do Golfo, muito menos custosa para os EUA, e apoiou a invasão do Iraque por Bush
Discursos mostram oscilações de Kerry
TODD S. PURDUM
DO "NEW YORK TIMES"
O senador John Kerry subiu ao
pódio do Senado em 11 de janeiro
de 1991 para fazer um discurso
inequívoco e apaixonado contra a
aprovação de uma resolução que
autorizava o primeiro presidente
Bush a lançar mão da força para
expulsar as forças iraquianas de
Saddam Hussein do Kuait.
"Será que devemos ir à guerra
simplesmente porque um homem -o presidente- toma
uma série de decisões unilaterais
que nos prendem numa sinuca
que torna a guerra em grande medida inevitável?", indagou Kerry.
Em 9 de outubro de 2002, Kerry
se levantou no Senado para fazer
um discurso muito diferente:
uma arenga atormentada de 45
minutos em que manifestou seu
apoio relutante ao pedido de
George W. Bush por autorização
para desarmar Saddam, quase
certamente pela força.
"Ao apoiar o presidente, o Congresso demonstrará que nosso
país está unido em sua determinação de tirar" o arsenal do Iraque, disse Kerry, "e estaremos
afirmando o direito e a responsabilidade do presidente de conservar a segurança dos americanos."
Esses votos sobre questões de
guerra e paz, entre os milhares de
votos que Kerry deu ao longo de
quase 20 anos, acabaram por ser
vistos como uma espécie de metáfora de sua carreira no Senado,
um estudo nos conflitos entre
convicção e cálculo, clareza e confusão, conflitos esses que marcaram boa parte de sua vida política.
As diferenças entre os dois momentos, com 11 anos de distância
entre ambos, foram muitas. Em
1991, a ONU já tinha autorizado a
ação militar; a votação no Senado
se deu quatro dias antes do fim do
prazo-limite internacional para o
início da guerra. Em 2002, o governo Bush ainda aguardava o
apoio da ONU, e o voto do Senado era visto como alavanca de influência. Enquanto isso, os ataques de 11 de setembro de 2001 tinham mudado muita coisa no
pensamento americano, como
disse Kerry antes de dar seu voto.
Para Kerry, pessoalmente, porém, a mudança mais importante
pode muito bem ter sido que, em
2002, ele já tinha decidido concorrer à Presidência, ele próprio,
mesmo que ainda não tivesse declarado publicamente sua intenção. Ele estava encarando o poder
presidencial e seu próprio histórico de duas décadas como "senador liberal de Massachusetts", como diz Bush, de maneira nova e
mais defensiva. A votação aconteceu duas semanas antes das eleições da metade do mandato presidencial, e a Casa Branca estava
contente com a oportunidade de
fazer senadores democratas declararem suas posições -e colocá-los em situação difícil.
O que acabou acontecendo é
que Kerry vem passando boa parte de sua campanha atual defendendo sua escolha em ambas as
votações: tanto contra a autorização do uso da força em uma guerra que acabou sendo breve e bem
vista, quanto a favor da autorização de outra guerra que vem sendo muito mais longa e divisória.
Toda a carreira de Kerry no Senado tem sido igualmente complicada. Enquanto o "The National Journal" classificou Kerry como o membro mais liberal do Senado, baseado nos votos que deu
em 2003, seu histórico de votos e
de discursos proferidos em toda
sua carreira é mais eclético e menos previsível do que essa classificação pode parecer indicar.
Tradução de Clara Allain
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