São Paulo, domingo, 28 de dezembro de 1997.




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Fiscalização vai controlar coleta de fezes de cachorros

de Buenos Aires

Os portenhos donos de cachorros, além de pagar taxas a partir de 98, terão de acoplar um microchip na coleira, no qual estarão registrados o estado de saúde, a matrícula e o nome do responsável, para a identificação dos animais.
Haverá fiscalização especializada para flagrar quem utiliza ou não o sistema computadorizado de coleta de fezes.
Serão distribuídos 3.000 sacos plásticos pela cidade, colocados dentro de depósitos que o usuário abrirá com cartões nos quais haverá a identificação do cão. Para a fiscalização, os inspetores serão equipados com pistolas identificadoras. Terá acesso ao cartão quem pagar a taxa anual de US$ 20.
Haverá a abertura de licitação nacional e internacional para se estabelecer a empresa que elaborará o novo sistema computadorizado. Uma licitação nacional estabelecerá a empresa que distribuirá os sacos plásticos pela cidade.
As taxas e multas servirão para sustentar o sistema. Estarão livres desses encargos os cães do policiamento, os que servem como guia e os de aposentados.
Os "passeadores de cachorro", uma espécie de babá canina muito comum em Buenos Aires, terão de pagar matrículas que oscilarão entre US$ 200 e US$ 400.
Para esses profissionais, que costumam conduzir até cerca de oito ou nove cães ao mesmo tempo, as multas deverão ser mais altas do que as cobradas dos donos de cachorros.
Enquanto os donos pagarão entre US$ 50 e US$ 500, os "passeadores" terão de desembolsar entre US$ 120 e US$ 1.200.
Saúde pública
A previsão é de que todo o sistema seja adotado dentro de nove meses. Segundo dados da Intendência (Prefeitura) de Buenos Aires, 47% dos donos de cachorros utilizam o passeio público para os seus animais expelirem suas fezes.
O principal problema identificado pela saúde pública é que as fezes dos cães podem transmitir doenças.
Para dar um caráter de saúde pública e evitar a idéia de que há uma perseguição a cães em Buenos Aires, as explicações da administração municipal mostram também que os microchips a serem colocados nas coleiras servirão também para o caso de eles se perderem.
Reação irada
As alterações legais que se desenham para a vida dos cachorros portenhos deverão ser combatidas com unhas e dentes por seus donos. A Folha entrevistou 13 donos de cachorros no Jardim Botânico. De 9 deles ouviu que a medida não será cumprida.
A expectativa de sonegação corresponde, por exemplo, às estimativas feitas pelos zeladores Roberto Quinones, 47, e Beatriz Ripoll, 46, casados e auto-intitulados "pais" da cadela pastor alemão Anni.
"Eu tenho certeza de que 80% das pessoas não vão pagar essa taxa. É um absurdo. Na época do Alfonsín (o ex-presidente Raúl Alfonsín), tentaram fazer o mesmo, mas não deu certo. As pessoas não pagavam. Eu mesmo paguei dois meses e depois parei. Não durou muito para a taxa parar de ser cobrada", disse Quinones.
Quinones tem Anni há um ano. Antes dela, teve outros cachorros. Ele se diz um admirador de cães, gatos e outros animais. Considera a taxa "um desrespeito às pessoas que têm os seus animais como se fossem filhos".
Anni sai para passear uma vez por dia, das 8h às 13h, com um passeador profissional. Os seus donos não podem acompanhá-la, pois trabalham. No resto do tempo, ela fica dentro do apartamento, que tem uma área espaçosa.
Quinones afirma que ele e sua mulher cuidam muito da limpeza e dão instruções para o passeador limpar as fezes feitas por Anni em suas andanças matutinas. (LG)



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