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São Paulo, domingo, 28 de dezembro de 2003

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No Brasil, dados estão dispersos

DA REDAÇÃO

No Brasil, as Forças Armadas vêm negando sistematicamente a existência de documentos sobre o período. Em julho, o "Diário da Justiça" publicou decisão da juíza Solange Salgado, da 1ª Vara Federal do Distrito Federal, determinando a quebra do sigilo sobre as informações militares acerca da guerrilha do Araguaia, movimento armado organizado pelo PC do B, sufocado entre 1972 e 1975.
Mesmo que o governo federal não tivesse recorrido da sentença, é duvidoso que algum documento acabasse vindo à tona: "O Exército brasileiro não possui, em seus arquivos, nenhum documento, muito menos fragmento histórico, sobre o fato em tela", declarou o Centro de Comunicação Social do Exército em maio último.
É provável que muitos arquivos já tenham sido efetivamente destruídos. Em 1982, o PMDB venceu as eleições para governador em nove Estados, e o PDT, em um. Diante da iminência da chegada da oposição ao poder, cada Dops (Departamento de Ordem Política e Social) teria incinerado parte dos papéis sobre o período, como revelou, em 1998, o delegado Ediraldo Brandão, responsável pelo Dops de Minas. Operação similar teria ocorrido no Amazonas.
Em Goiás, os documentos do Dops foram entregues para a 3ª Brigada de Infantaria Motorizada do Exército em 1982. Os papéis foram devolvidos ao governo de Goiás em 1995, mas provavelmente acabaram expurgados.
Em 1983, pouco antes da posse dos governadores, o presidente João Baptista Figueiredo (1979-1985) avocou para a Polícia Federal os inquéritos políticos, retirando-os da alçada dos Estados. É provável que em 1985, antes que Figueiredo transmitisse o poder para a oposição, outros arquivos tenham sofrido uma depuração.
Em 1992, o secretário nacional da PF, Romeu Tuma, transferiu cerca de 2 milhões de documentos dos extintos Dops para o Arquivo do Público do Estado de São Paulo. Outro tanto foi transferido, no mesmo ano, para o Arquivo Público do Estado do Rio.
Outras coleções também foram abertas: a do Dops do Paraná tinha documentos sobre desaparecidos no regime militar, e a do Dops do Rio de Janeiro registrava o enterro da ex-militante da ALN Sônia Angel com nome de Esmeralda Siqueira de Aguiar.
É provável que muitos documentos ainda estejam guardados. O problema é localizá-los.



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