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MISSÃO NO CARIBE
Batalhão brasileiro nega a ocorrência diária de mortes de civis e diz que há uso intensivo de armas não-letais
Tropa cumpre regras rígidas, diz militar
CAROLINA VILA-NOVA
DA REDAÇÃO
O batalhão do Brasil atualmente
no Haiti disse que são "incoerentes" os relatos de soldados brasileiros à Folha sobre a morte quase
diária de civis em confronto com
militares da ONU no país.
O Batalhão Haiti negou também que haja o uso apenas de
munição letal e afirmou que as
tropas são treinadas para atuar de
acordo com rígidas normas.
Apesar de a Minustah reconhecer a ocorrência eventual de mortes de civis em enfrentamentos
-os chamados "danos colaterais", no jargão militar -, o batalhão afirma que pelo menos desde
a chegada do quarto e último contingente de soldados brasileiros
no Haiti, em 16 de novembro, não
foram registrados casos do tipo.
"Cada contingente passa aqui
seis meses. Fazendo uma conta
rápida, são 180 dias [com um
morto por dia]. Não está meio
exagerado isso? Seria uma chacina", disse à Folha por telefone, de
Porto Príncipe, o tenente-coronel
Fernando da Cunha Matos, da assessoria de imprensa do Batalhão
Haiti, sobre a afirmação de que
"não passa um dia" sem que um
haitiano seja morto.
Matos também refutou a afirmação de que as armas usadas
têm alta letalidade, afirmando
que o número de feridos é muito
superior ao número de mortos.
Segundo ele, o Exército usa um
fuzil FAL 7,62 mm, e o fuzileiro
naval, um M16 calibre 5,56 mm.
"Os dois são armas militares e
empregam munição de alta velocidade, mas daí a dizer que elas só
matam é exagero", disse.
"O nosso contingente emprega
ostensiva e intensivamente armamento não-letal", disse Matos,
ressalvando que não responde pelos contingentes anteriores.
Segundo o militar, todo disparo
de armamento feito por um soldado, mesmo de bala de borracha, tem de constar em relatório
diário sobre a quantidade de tiros
disparados, o calibre e a situação
do confronto. "Não basta dizer
que a tropa consumiu dez tiros.
Tem de dizer como, por que, onde, em que direção."
Direito de defesa
Matos diz ainda que todos os
soldados, independentemente do
contingente, são treinados para
agir segundo regras da ONU pelas
quais o direito de defesa deve ser
proporcional à agressão sofrida.
"Para você abrir fogo diretamente contra uma pessoa, ela tem
de estar armada, apontando e atirando em você. A regra é tão restrita que, se essa pessoa virar de
costas e fugir, você não pode atirar nela, ainda que ela já tenha atirado em você", explicou.
O chefe do Escritório de Comunicações da Minustah, o canadense David Wimhurst, há dois meses no Haiti, diz que a ONU não
faz contabilidade nos confrontos
que envolveram suas tropas e os
grupos armados locais. "Já pedi
esse levantamento, mas ainda não
deu tempo de providenciá-lo."
Colaborou Laura Capriglione,
da Reportagem Local
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