São Paulo, domingo, 29 de janeiro de 2006

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MISSÃO NO CARIBE

Batalhão brasileiro nega a ocorrência diária de mortes de civis e diz que há uso intensivo de armas não-letais

Tropa cumpre regras rígidas, diz militar

CAROLINA VILA-NOVA
DA REDAÇÃO

O batalhão do Brasil atualmente no Haiti disse que são "incoerentes" os relatos de soldados brasileiros à Folha sobre a morte quase diária de civis em confronto com militares da ONU no país.
O Batalhão Haiti negou também que haja o uso apenas de munição letal e afirmou que as tropas são treinadas para atuar de acordo com rígidas normas.
Apesar de a Minustah reconhecer a ocorrência eventual de mortes de civis em enfrentamentos -os chamados "danos colaterais", no jargão militar -, o batalhão afirma que pelo menos desde a chegada do quarto e último contingente de soldados brasileiros no Haiti, em 16 de novembro, não foram registrados casos do tipo.
"Cada contingente passa aqui seis meses. Fazendo uma conta rápida, são 180 dias [com um morto por dia]. Não está meio exagerado isso? Seria uma chacina", disse à Folha por telefone, de Porto Príncipe, o tenente-coronel Fernando da Cunha Matos, da assessoria de imprensa do Batalhão Haiti, sobre a afirmação de que "não passa um dia" sem que um haitiano seja morto.
Matos também refutou a afirmação de que as armas usadas têm alta letalidade, afirmando que o número de feridos é muito superior ao número de mortos.
Segundo ele, o Exército usa um fuzil FAL 7,62 mm, e o fuzileiro naval, um M16 calibre 5,56 mm. "Os dois são armas militares e empregam munição de alta velocidade, mas daí a dizer que elas só matam é exagero", disse.
"O nosso contingente emprega ostensiva e intensivamente armamento não-letal", disse Matos, ressalvando que não responde pelos contingentes anteriores.
Segundo o militar, todo disparo de armamento feito por um soldado, mesmo de bala de borracha, tem de constar em relatório diário sobre a quantidade de tiros disparados, o calibre e a situação do confronto. "Não basta dizer que a tropa consumiu dez tiros. Tem de dizer como, por que, onde, em que direção."

Direito de defesa
Matos diz ainda que todos os soldados, independentemente do contingente, são treinados para agir segundo regras da ONU pelas quais o direito de defesa deve ser proporcional à agressão sofrida.
"Para você abrir fogo diretamente contra uma pessoa, ela tem de estar armada, apontando e atirando em você. A regra é tão restrita que, se essa pessoa virar de costas e fugir, você não pode atirar nela, ainda que ela já tenha atirado em você", explicou.
O chefe do Escritório de Comunicações da Minustah, o canadense David Wimhurst, há dois meses no Haiti, diz que a ONU não faz contabilidade nos confrontos que envolveram suas tropas e os grupos armados locais. "Já pedi esse levantamento, mas ainda não deu tempo de providenciá-lo."


Colaborou Laura Capriglione, da Reportagem Local


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