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AVENTURA
Livros do escritor francês estimulam iniciativas como reconstruir farol em lugar inóspito e volta ao mundo em balão
Verne inspira peripécias no fim do século
LÉO GERCHMANN
de Buenos Aires
Um grupo de nove aventureiros
franceses está seguindo até o "fim
do mundo", no extremo sul da
América do Sul, numa expedição
com o mesmo destino narrado pelo escritor francês Júlio Verne
(1828-1905) em "O Farol do Fim
do Mundo", publicado no ano de
sua morte.
Um outro sonho digno da imaginação de Júlio Verne também começou a ser perseguido ontem,
quando três europeus partiram da
Suíça para tentar dar a volta ao
mundo, sem escalas, em um balão.
Foi o livro "Cinco Semanas num
Balão", a história de uma sensacional viagem de balão nos céus da
África, que lançou Verne para o
estrelato ao ser publicado na França em 1863, e deu início à sua série
de "viagens extraordinárias".
O objetivo final da atual expedição ao "fim do mundo" é exatamente reconstruir o farol citado
no clássico da literatura mundial.
Apesar de inóspito, o local do farol tem nome: é San Juan de Salvamento, a leste da Ilha dos Estados,
a 300 km de Ushuaia, a capital da
província da Terra do Fogo, no sul
da Argentina.
Sete dos expedicionários franceses foram até Ushuaia por via aérea. Os outros dois vieram de veleiro da França. Juntos, farão a travessia de barco da Terra do Fogo
até San Juan de Salvamento.
Há no grupo, além de carpinteiros, um pintor, um fotógrafo, um
ilustrador e um músico. Cada um
fará à sua maneira o registro da
viagem.
Num container, segue o material
de construção para a reconstrução
do farol.
"Ilha do Diabo"
O responsável pela missão é o
navegador francês André Bronner, 42, que esteve duas vezes na
Ilha dos Estados, tirou fotos e as
expôs na França, em busca de patrocínio para o projeto.
A resistência inicial que foi mostrada pelos demais viajantes convidados por Bronner, também
acostumados a aventuras em alto-mar, pode ser explicada pelo
nome pelo qual o local é conhecido: ilha do Diabo.
Além do clima chuvoso, da nebulosidade, do frio e do isolamento, o mar da região é tido como um
dos mais violentos do mundo.
Nas duas vezes em que empreendeu a travessia, em fevereiro de 93
e em março de 94, Bronner passou
dificuldades, viveu como um náufrago, mas se convenceu de que era
possível sobreviver e reconstruir o
farol.
Há cem anos, o farol evitava naufrágios e dificultava os saques dos
piratas. Hoje, a construção está reduzida a escombros.
A expedição tem apoios de peso:
os próprios governos argentino e
francês, os municípios de Ushuaia
e La Rochelle (França), cidade natal dos aventureiros, além de 37
empresas dos dois países. O empreendimento está orçado em US$
200 mil.
O presidente da França, Jacques
Chirac, foi um dos principais incentivadores da viagem. Em visita
a Buenos Aires, ele presenteou o
presidente argentino, Carlos Menem, com um exemplar original,
de 1905, do livro de Verne.
O romance "O Farol do Fim do
Mundo", de Júlio Verne, que foi
publicado inicialmente em forma
de folhetim (entre 15 de agosto e 15
de dezembro de 1905 na revista
francesa "Le Magasin d'Éducation et de Récréation"), relatava a
importância do farol em meio a
uma trama de heróis e piratas.
Do farol, vinha a luz que protegia
os heróis das emboscadas. Em
1971, houve uma adaptação para o
cinema, dirigida por Kevin Billington, com Kirk Douglas.
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