São Paulo, quinta, 29 de janeiro de 1998

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AVENTURA
Livros do escritor francês estimulam iniciativas como reconstruir farol em lugar inóspito e volta ao mundo em balão
Verne inspira peripécias no fim do século

LÉO GERCHMANN
de Buenos Aires

Um grupo de nove aventureiros franceses está seguindo até o "fim do mundo", no extremo sul da América do Sul, numa expedição com o mesmo destino narrado pelo escritor francês Júlio Verne (1828-1905) em "O Farol do Fim do Mundo", publicado no ano de sua morte.
Um outro sonho digno da imaginação de Júlio Verne também começou a ser perseguido ontem, quando três europeus partiram da Suíça para tentar dar a volta ao mundo, sem escalas, em um balão.
Foi o livro "Cinco Semanas num Balão", a história de uma sensacional viagem de balão nos céus da África, que lançou Verne para o estrelato ao ser publicado na França em 1863, e deu início à sua série de "viagens extraordinárias".
O objetivo final da atual expedição ao "fim do mundo" é exatamente reconstruir o farol citado no clássico da literatura mundial.
Apesar de inóspito, o local do farol tem nome: é San Juan de Salvamento, a leste da Ilha dos Estados, a 300 km de Ushuaia, a capital da província da Terra do Fogo, no sul da Argentina.
Sete dos expedicionários franceses foram até Ushuaia por via aérea. Os outros dois vieram de veleiro da França. Juntos, farão a travessia de barco da Terra do Fogo até San Juan de Salvamento.
Há no grupo, além de carpinteiros, um pintor, um fotógrafo, um ilustrador e um músico. Cada um fará à sua maneira o registro da viagem.
Num container, segue o material de construção para a reconstrução do farol.
"Ilha do Diabo"
O responsável pela missão é o navegador francês André Bronner, 42, que esteve duas vezes na Ilha dos Estados, tirou fotos e as expôs na França, em busca de patrocínio para o projeto.
A resistência inicial que foi mostrada pelos demais viajantes convidados por Bronner, também acostumados a aventuras em alto-mar, pode ser explicada pelo nome pelo qual o local é conhecido: ilha do Diabo.
Além do clima chuvoso, da nebulosidade, do frio e do isolamento, o mar da região é tido como um dos mais violentos do mundo.
Nas duas vezes em que empreendeu a travessia, em fevereiro de 93 e em março de 94, Bronner passou dificuldades, viveu como um náufrago, mas se convenceu de que era possível sobreviver e reconstruir o farol.
Há cem anos, o farol evitava naufrágios e dificultava os saques dos piratas. Hoje, a construção está reduzida a escombros.
A expedição tem apoios de peso: os próprios governos argentino e francês, os municípios de Ushuaia e La Rochelle (França), cidade natal dos aventureiros, além de 37 empresas dos dois países. O empreendimento está orçado em US$ 200 mil.
O presidente da França, Jacques Chirac, foi um dos principais incentivadores da viagem. Em visita a Buenos Aires, ele presenteou o presidente argentino, Carlos Menem, com um exemplar original, de 1905, do livro de Verne.
O romance "O Farol do Fim do Mundo", de Júlio Verne, que foi publicado inicialmente em forma de folhetim (entre 15 de agosto e 15 de dezembro de 1905 na revista francesa "Le Magasin d'Éducation et de Récréation"), relatava a importância do farol em meio a uma trama de heróis e piratas.
Do farol, vinha a luz que protegia os heróis das emboscadas. Em 1971, houve uma adaptação para o cinema, dirigida por Kevin Billington, com Kirk Douglas.



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