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Avanço militar rápido ignorou velhas prioridades
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Até parece que os generais americanos não fizeram a lição de casa. Qualquer cadete da academia
militar de West Point sabe que
quanto mais um exército avança,
mas difícil fica o seu suprimento.
E também sabe que a prioridade
absoluta de qualquer avanço é
manter a retaguarda segura para
que os suprimentos possam continuar fluindo sem interrupção.
Essas verdades antigas foram
deixadas de lado, pois se achou
que o regime de Saddam Hussein
cairia de podre. Não caiu.
A aposta em um avanço dramático pelo deserto, a versão moderna de uma longa carga de cavalaria, falhou, lamentavelmente para
os americanos. Não houve a rebelião contra o regime que faria o
avanço se dar em meio a uma população não hostil. Os generais
iraquianos não se intimidaram
com o "choque e pavor".
Não é a primeira vez na história
militar que generais procuram
dar um passo maior do que as
pernas. Hoje os oficiais mais importantes na região não são os
que comandam tropas combatentes, mas os que as suprem. Será
deles a palavra final de quando
um ataque a Bagdá será possível.
Amadores e profissionais
A pausa foi feita para acumular
suprimentos antes de se continuar o avanço contra a capital.
Logística é para profissionais, tática é para amadores.
Esse ditado costuma ser usado
pelos oficiais de serviços de intendência, pois nas forças armadas
em todo o mundo é considerado
mais glamouroso pertencer às armas combatentes (infantaria, cavalaria, artilharia, aviação e engenharia de combate).
Apenas uma parte pequena das
tropas anglo-americanas é de fato
combatente. Os militares costumam chamar isso de "relação
dentes versus rabo" ("teeth and
tail", em inglês). Para cada militar
na frente são necessários vários
outros em apoio de retaguarda.
Ao contrário do que se poderia
imaginar, o avanço tecnológico
tornou mais difícil a tarefa dos intendentes. Já na Segunda Guerra
Mundial uma divisão mecanizada
precisava receber cerca de 650 toneladas de suprimentos por dia.
Hoje as necessidades podem passar de mil toneladas.
Atualmente os tanques gastam
muito mais combustível. Só para
fazer o motor de um tanque M-1
Abrams funcionar são necessários cerca de vinte litros de óleo
diesel. Seu avanço não se mede
em quilômetros por litro de combustível, como nos automóveis, e
sim em litros por quilômetro.
As armas modernas também
têm uma cadência de tiro muito
superior. Fuzis automáticos podem em segundos disparar todo
um carregador de vinte ou trinta
balas, tanto que a versão mais nova do fuzil americano, o M1-A2,
ganhou um dispositivo "limitador de rajada", limitando a três
balas cada vez se se dispara em
modo automático.
Segundo um relato de Dexter
Filkins, correspondente do "The
New York Times" junto aos fuzileiros navais americanos, um
comboio de 300 veículos transporta suprimento para a 1ª Divisão de Marines suficiente para
apenas alguns dias. Se o combate
se intensificar, o gasto de munição aumenta muito.
Os fuzileiros navais têm pelo
menos um ponto a favor: todo
marine é treinado para ser proficiente no tiro com fuzil. Mesmo
generais de marines têm de manter a eficácia no uso da arma.
Isso torna um comboio de marines bem mais capaz de autodefesa. "Não somos apenas motoristas de caminhões. Somos motoristas de caminhões armados",
disse um marine ao correspondente do "Times".
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