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São Paulo, sábado, 29 de março de 2003

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Treinamos para outro inimigo, diz general dos EUA

JIM DWYER
DO "THE NEW YORK TIMES", NO IRAQUE

A remoção do regime iraquiano provavelmente demorará mais do se imaginou inicialmente, disse ontem o tenente-general William Wallace, comandante das Forças Armadas no golfo Pérsico.
"O inimigo contra o qual estamos lutando é um pouco diferente daquele que treinamos para enfrentar, por causa de suas forças paramilitares", afirmou. "Nós sabíamos que elas existiam, mas não sabíamos como lutariam."
O general disse que o mau tempo e a resistência obstinada das forças iraquianas provocaram o atraso, mas não especificou quanto tempo a mais será necessário para que as forças anglo-americanas atinjam o objetivo.
Antes da guerra, a possibilidade de que Saddam Hussein caísse assim que o ataque começasse foi ventilada com frequência em Washington. Mas, nos últimos dias, o presidente dos EUA, George W. Bush, tem enfatizado que o conflito não terminará em breve e não será fácil.
O general apenas afirmou publicamente o que muitos soldados americanos têm dito entre eles. Wallace é comandante do 5º Corpo, que controla todas as unidades do Exército que participam da invasão. Deu suas declarações durante visita a um recém-instalada base americana no centro do Iraque, cuja localização exata não pode ser revelada.
Ao ser questionado se os combates dos últimos dias haviam aumentado as chances de a guerra se estender por um período mais longo do que o planejado, ele respondeu: "Começa a parecer que será assim."
Embora uma vitória rápida e decisiva fosse importante do ponto de vista político, a realidade do campo de batalha está tornando essa hipótese pouco provável.
Além das condições do tempo e da resistência feroz por parte dos iraquianos, também as linhas de suprimento americanas precisam alcançar as forças que avançaram com mais rapidez em direção à capital iraquiana, Bagdá.
Os comboios precisam garantir o abastecimento de comida, água e combustível, entre outros suprimentos, do Kuait até as linhas de frente do Exército dos EUA, a cerca de 600 km de distância.
Algumas das colunas de transporte levaram cinco dias para cumprir três quartos do trajeto mesmo sem enfrentar oposição direta. Congestionamentos, tempestades de areia que reduziram a visibilidade a alguns metros, problemas nos veículos são alguns dos desafios enfrentados.
A 3ª Divisão de Infantaria, que liderou a avanço americano rumo a Bagdá, está a cerca de 60 km da capital, mas seus estoques de água -fundamental em qualquer circunstância, mas mais ainda no meio do deserto iraquiano- estão baixos. Assim como as reservas de refeições prontas para o consumo e de combustível.
E a segurança dos comboios não está garantida no sul do Iraque e no longo caminho da fronteira kuaitiana até as cercanias de Bagdá. Em alguns casos, eles se afastaram perigosamente das tropas que deveriam protegê-los.
"Sabíamos que teríamos de fazer uma pausa em algum momento para incrementar nossa logística", disse o general Wallace. "Mas não calculamos que teríamos três dias de tempestades de areia."
"Diante do tempo, das longas distâncias e das demais dificuldades, meu julgamento em relação ao nosso desempenho militar é o melhor possível", afirmou. "Tivemos que fazer uma pausa. Mas ainda estamos lutando contra o inimigo todas as noites. E estamos fazendo o que é necessário para colocar mais pressão sobre ele do que temos conseguido colocar."


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