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Brasil desaprova
plataforma do
ex-presidente
DO ENVIADO A BUENOS AIRES
A satisfação do governo Luiz
Inácio Lula da Silva com a perspectiva de vitória de Néstor
Kirchner é menos entusiasmo pelo candidato em si e mais oposição a Carlos Menem.
Kirchner é pouco conhecido do
PT. Governa uma Província (Santa Cruz) cuja capital fica mais perto da Antártida do que de Buenos
Aires e pouco se manifestou sobre
temas internacionais.
Menem, ao contrário, é arquiconhecido, a ponto de já ter batido boca, indiretamente, com Lula. Só por isso já
seria um constrangimento ético
para Lula sentar-se à mesa com
Menem.
Protocolo à parte, há problemas
mais concretos. Como a Folha já
relatou no sábado, o principal assessor econômico de Menem, Pablo Rojo, defende o alinhamento
total da Argentina com os EUA,
em temas como comércio e segurança hemisférica, em troca de
uma ajuda financeira de entre
US$ 25 bilhões e US$ 30 bilhões.
Além disso, outro assessor de
Menem, Jorge Castro -seu ex-chefe de Inteligência e hoje apontado como futuro chanceler, se Menem ganhar-, quer uma participação conjunta de Brasil e Argentina no Plano Colômbia, criado pelos Estados Unidos para enfrentar o narcotráfico e, de quebra, a guerrilha colombiana.
São duas teses que Brasília encara com horror.
Já Kirchner oferece "passar dos
acordos comerciais à cooperação
política", como diz Juan Pablo Lohlé, porta-voz da campanha para
assuntos diplomáticos e citado
por alguns jornais argentinos como possível chanceler.
A cooperação política superaria, diz Lohlé, os diferendos comerciais e deveria estender-se ao plano estratégico.
No caso específico da Alca
(Área de Livre Comércio das
Américas), a diferença de propostas também é grande. O programa
de Menem defende "uma rápida
integração", ao passo que Kirchner prefere que, primeiro, Brasil e
Argentina acertem suas posições
comuns e definam claramente
suas divergências.
"Primeiro, a Argentina deve
acertar a sua agenda com o Brasil
e, a partir dela, negociar a Alca",
afirma Lohlé.
O fato de o presidente Eduardo
Duhalde ser o padrinho da candidatura Kirchner contribui para o
entusiasmo do governo Lula. Foi
com Duhalde o primeiro encontro de Lula após a vitória eleitoral,
ainda antes da posse, e as relações
são tidas como muito fluidas.
Mais: os dois governos estão fazendo um genuíno esforço para
"limpar a mesa", a linguagem diplomática para designar a tentativa de superar uma lista de 24 itens
de divergências na área comercial, legados pelas administrações
anteriores de um lado e de outro.
(CR)
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