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São Paulo, terça-feira, 29 de abril de 2003

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Brasil desaprova plataforma do ex-presidente

DO ENVIADO A BUENOS AIRES

A satisfação do governo Luiz Inácio Lula da Silva com a perspectiva de vitória de Néstor Kirchner é menos entusiasmo pelo candidato em si e mais oposição a Carlos Menem.
Kirchner é pouco conhecido do PT. Governa uma Província (Santa Cruz) cuja capital fica mais perto da Antártida do que de Buenos Aires e pouco se manifestou sobre temas internacionais.
Menem, ao contrário, é arquiconhecido, a ponto de já ter batido boca, indiretamente, com Lula. Só por isso já seria um constrangimento ético para Lula sentar-se à mesa com Menem.
Protocolo à parte, há problemas mais concretos. Como a Folha já relatou no sábado, o principal assessor econômico de Menem, Pablo Rojo, defende o alinhamento total da Argentina com os EUA, em temas como comércio e segurança hemisférica, em troca de uma ajuda financeira de entre US$ 25 bilhões e US$ 30 bilhões.
Além disso, outro assessor de Menem, Jorge Castro -seu ex-chefe de Inteligência e hoje apontado como futuro chanceler, se Menem ganhar-, quer uma participação conjunta de Brasil e Argentina no Plano Colômbia, criado pelos Estados Unidos para enfrentar o narcotráfico e, de quebra, a guerrilha colombiana.
São duas teses que Brasília encara com horror.
Já Kirchner oferece "passar dos acordos comerciais à cooperação política", como diz Juan Pablo Lohlé, porta-voz da campanha para assuntos diplomáticos e citado por alguns jornais argentinos como possível chanceler.
A cooperação política superaria, diz Lohlé, os diferendos comerciais e deveria estender-se ao plano estratégico.
No caso específico da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), a diferença de propostas também é grande. O programa de Menem defende "uma rápida integração", ao passo que Kirchner prefere que, primeiro, Brasil e Argentina acertem suas posições comuns e definam claramente suas divergências.
"Primeiro, a Argentina deve acertar a sua agenda com o Brasil e, a partir dela, negociar a Alca", afirma Lohlé.
O fato de o presidente Eduardo Duhalde ser o padrinho da candidatura Kirchner contribui para o entusiasmo do governo Lula. Foi com Duhalde o primeiro encontro de Lula após a vitória eleitoral, ainda antes da posse, e as relações são tidas como muito fluidas.
Mais: os dois governos estão fazendo um genuíno esforço para "limpar a mesa", a linguagem diplomática para designar a tentativa de superar uma lista de 24 itens de divergências na área comercial, legados pelas administrações anteriores de um lado e de outro. (CR)


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