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São Paulo, terça-feira, 29 de abril de 2003

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IRAQUE OCUPADO

Conferência sobre futuro do país é marcada por ausências proeminentes e divergências entre participantes

Iraque terá governo interino em um mês

Pablo Martinez Monsivais/Associated Press
O presidente George W. Bush (dir.) beija líder islâmico após discurso para a comunidade árabe em subúrbio de Detroit (Michigan)


DA REDAÇÃO

A administração provisória americana no Iraque e os cerca de 300 líderes do país que participaram ontem de uma conferência em Bagdá fixaram um prazo de um mês para a escolha do governo interino que deverá administrar o país por dois anos e criar condições para a promoção de eleições democráticas.
"Todos os esforços devem ser feitos para a promoção de uma conferência nacional dentro de quatro semanas que selecionará um governo interino para o Iraque", declarou o líder da administração provisória, o general da reserva Jay Garner, que assumiu o Iraque após a derrubada de Saddam Hussein, há 20 dias.
Apesar do quórum três vezes superior ao da primeira conferência, no último dia 15, o evento foi marcado pela ausência de líderes proeminentes como Massoud Barzani, do Partido Democrático do Curdistão, Jalal Talabani, da União Patriótica do Curdistão, e de Ahmed Chalabi, do grupo oposicionista exilado Congresso Nacional Iraquiano. O CNI pediu uma reunião amanhã com Garner, o que não foi confirmado ontem.
O Conselho Supremo para a Revolução Islâmica no Iraque, grupo xiita sediado no Irã, enviou uma delegação de baixo escalão. O grupo, que defende um Estado islâmico no Iraque, vinha se recusando a trabalhar com os EUA, que exigem um governo laico.
Milhares de xiitas -cerca de 60% da população iraquiana- foram ontem às ruas da capital protestar contra sua baixa representação nos debates e pedir maior união com os sunitas.
Ontem, em um subúrbio de Detroit (Michigan) onde 30% da população têm ascendência árabe, o presidente americano, George W. Bush, declarou a exilados iraquianos que os EUA "não têm a intenção de impor seu tipo de governo ou sua cultura", mas de defender um regime iraquiano que "proteja os direitos de todos". "Havia quem, em nosso país, duvidasse que o povo iraquiano quisesse a liberdade. Eles estavam errados."

Projeto americano
O plano americano para o Iraque, após 24 anos de ditadura, é criar, em dois anos, condições que Washington julgue adequadas para a promulgação de uma Constituição democrática e a promoção de eleições diretas. No intervalo, o país seria administrado por um governo interino de iraquianos endossado pelos EUA.
É um modelo semelhante ao implantado no Afeganistão após a derrubada da ditadura do Taleban pelos EUA, em 2001, que alimenta críticas sobre a submissão do presidente interino, Hamid Karzai, a Washington.
Até a escolha do governo interino, o comando do Iraque caberá a Garner, que presidiu a reunião de ontem junto com o representante de Bush, Zalmay Khalilzad.
"Começamos o processo democrático para os filhos do Iraque hoje, no aniversário de Saddam Hussein", disse o general. Se estivesse vivo, Saddam fez ontem 66 anos. Ele não é visto há 20 dias.
A maior dificuldade dos americanos será reunir grupos tão díspares -como curdos, xiitas, ex-membros da ditadura e oposicionistas exilados- sob o seu guarda-chuva administrativo. A reunião de ontem foi pontuada por divergências entre os grupos, sobretudo quanto ao tamanho do papel americano no país.
O debate se estendeu por dez horas e teve seu início atrasado em duas horas pela demora dos participantes nos inúmeros postos de checagem americanos.

Com agências internacionais


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