São Paulo, quinta-feira, 29 de abril de 2004

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GUERRA SEM LIMITES

Comissão do 11 de Setembro questionará o presidente e seu vice

Bush se diz "ansioso" para depor hoje

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

Em sessão considerada "histórica", o presidente dos EUA, George W. Bush, e seu vice, Dick Cheney, prestarão depoimento a portas fechadas hoje na Casa Branca perante a comissão do Congresso que investiga os atentados do 11 de Setembro.
Bush disse ontem que está "ansioso" para falar à comissão sobre o que fez no dia dos ataques e no período anterior a eles.
"Será uma boa oportunidade para ajudar essas pessoas [os parlamentares] a escrever um relatório que ajude os presidentes, no futuro, a lidar com ameaças terroristas ao país."
Apesar desse discurso, Bush tomou todas as precauções possíveis para se proteger e evitar que o depoimento acabe atrapalhando a sua campanha eleitoral.
Bush relutou o quanto pôde para depor, mas cedeu à pressão da comissão e de familiares das cerca de 3.000 vítimas dos atentados. Representantes das famílias disseram esperar que os parlamentares sejam "persistentes" o bastante para definir se Bush ignorou advertências sobre os ataques.
O depoimento não será gravado ou transcrito. Bush e Cheney estarão juntos para evitar que a comissão encontre contradições nas versões da cúpula do governo sobre o que a Casa Branca sabia e fez em relação à ameaça de ataques.
Bush e Cheney vêm se preparando juntos há dias para o depoimento, no qual o presidente deve tomar a iniciativa de dar a maior parte das respostas.
Depoimentos recentes à comissão mostraram que Bush foi informado, em 6 de agosto de 2001, que a rede Al Qaeda planejava ataques nos EUA e que tinha interesse em seqüestrar aeronaves.
Também perante a mesma comissão, o ex-coordenador da área antiterrorismo da Casa Branca Richard Clark afirmou que Bush ignorou vários alertas sobre a Al Qaeda enquanto permanecia "obstinado" sobre o Iraque.
Durante a sessão de hoje, prevista para começar às 9h30 e sem hora para terminar, serão tomadas apenas notas por um funcionário da comissão e por outro da Casa Branca. Com isso, Bush pretende eliminar qualquer chance de que os depoimentos sejam tornados públicos, mesmo que sob pedido formal da Justiça.
Depoimento prestado pelo ex-presidente Bill Clinton (1993-2001) no ruidoso caso Monica Lewinsky, por exemplo, foram gravados em vídeo e divulgados.
No início, Bush tentou até mesmo evitar a criação da comissão, composta por cinco membros de seu partido, o Republicano, e por cinco democratas.
Antes de aceitar o encontro de hoje, Bush insistiu para que o depoimento ocorresse apenas perante o presidente e o vice da comissão -o que lhe foi negado.
Os resultados dos trabalhos da comissão do 11 de Setembro deverão ser conhecidos nos próximos meses, durante a fase mais quente da campanha eleitoral.
O maior "patrimônio" de Bush nessa eleição é o discurso da guerra contra o terror e da segurança interna, áreas nas quais o presidente ainda é considerado melhor do que seu virtual oponente, o democrata John Kerry.
Pesquisa do "Washington Post" deste mês, no entanto, revelou que 63% dos americanos acreditam que Bush poderia ter "feito mais" para impedir os ataques -em 2002, esse percentual era de 53%.


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