São Paulo, sexta-feira, 29 de abril de 2011

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ANÁLISE

Ataque é revés para onda de revoltas por mais democracia no mundo árabe

SAMY ADGHIRNI
DE SÃO PAULO

O atentado de Marrakech é o primeiro ato terrorista a ensanguentar o mundo árabe -com a notável exceção do Iraque- desde o início da revolta popular que já varreu duas ditaduras e tornou disfuncionais ao menos três outros regimes na região.
Ninguém assumiu a autoria, mas as suspeitas se voltam para o terrorismo islâmico, que parece ter imprimido sua marca na ação: atacar um lugar público e causar o máximo de mortes.
Dias atrás, sujeitos autodenominados membros da Al Qaeda elegeram no YouTube Marrocos como alvo.
O atentado mostra que os militantes islâmicos ultrafanáticos continuam vivos e eficazes, apesar da impressão generalizada de que vinha funcionado bem a repressão orquestrada pelo Ocidente com os árabes.
A ação também parece sinalizar que os grupos mais radicais não se contentam com as concessões recém-oferecidas em nome da paz social. O rei do Marrocos, Mohamed 6º, anistiou e libertou há dez dias clérigos tidos como os mais extremistas do país. A Síria fez o mesmo.
As mortes mostram, ainda, que os esforços e energias mobilizados pelos serviços secretos árabes para reprimir ou diluir manifestações antigoverno podem ter contribuído para criar brechas na frente da repressão a extremistas.
O atentado ocorreu justamente no país árabe onde havia a maior expectativa de reformas em resposta às ruas.
Em março, Mohamed 6º prometeu o que nem os mais fervorosos seguidores esperavam dele: transformar o atual regime de monarquia absoluta de direito divino em monarquia parlamentar.
Razões existiam para confiar na promessa. O monarca distanciou-se da brutalidade generalizada praticada por seu pai e antecessor (Hassan 2º) e implementou ao longo de 12 anos de reino algumas reformas socioeconômicas.
Ao contrário da Tunísia ou da Líbia, manifestantes marroquinos não pediram a saída de seu líder. O maior problema do Marrocos é a miséria, não a repressão.
O rei será cobrado a reagir ao ataque de ontem.
Por mais que zele pela boa imagem projetada, Mohamed 6º ordenou resposta implacável aos atentados de Casablanca (2003). Houve prisões arbitrárias e torturas.
Ontem mesmo houve marcha em Rabat para pressionar o rei a não repetir a dose.
Líderes árabes às voltas com levantes não costumam perder ocasiões de ressuscitar o fantasma terrorista para aplacar oposicionistas.


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