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IRAQUE SOB TUTELA
Para analistas americanos, só haverá paz com autonomia real; contratos atuais não poderão ser revistos
EUA controlarão economia e segurança
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
Os EUA continuarão dominando, na prática, as duas principais
áreas de seu interesse no Iraque: a
militar e a econômica -onde os
contratos de reconstrução em vigor não poderão ser revogados.
Não há nenhuma previsão para
a retirada dos milhares de soldados americanos. O novo governo
tem autonomia para pedir a saída
das tropas, mas não deve fazê-lo.
O novo líder iraquiano, Iyad
Allawi, assume o posto comandando uma única divisão armada
de 8.000 homens (Saddam Hussein tinha 70 divisões) e a recentemente batizada Guarda Nacional
de 40 mil homens com pouquíssimo treino e comprometimento.
Na área econômica, todos os
contratos fechados antes da transição anunciada ontem terão autonomia em relação ao novo governo -ou seja, não podem ser
desfeitos até o seu término.
Segundo analistas ouvidos pela
Folha, os americanos continuarão no poder apesar de os EUA estarem se esforçando para tirar
suas impressões digitais do Iraque e, assim, tentar obter uma pacificação mais rápida.
Apesar da necessidade de o presidente George W. Bush se desembaraçar do Iraque na reta final da campanha eleitoral, 6 em
cada 10 americanos acreditam
que fazer a transição em um momento de instabilidade como o
atual é um "sinal de fracasso", segundo pesquisa Gallup/CNN.
Segundo o Center for American
Progress, centro de pesquisas independente de Washington, Paul
Bremer, ex-administrador americano no Iraque, assinou anteontem um edito que dá imunidade
perante as novas e eventuais leis
iraquianas aos contratos já em andamento.
Na área do petróleo, o novo governo terá autonomia, mas os
americanos ainda não prestaram
contas sobre onde e como foram
gastos os mais de US$ 20 bilhões
arrecadados desde a invasão.
Os EUA continuarão tendo autonomia sobre o destino das verbas aprovadas pelo Congresso
americano para o Iraque, especialmente os US$ 18,4 bilhões extras que estão sendo gastos agora.
Mesmo o status jurídico da
maioria dos prisioneiros iraquianos, incluindo Saddam Hussein,
ficará inalterado até que o Iraque
consiga reformular todo o seu sistema judiciário, o que pode demorar meses, senão anos.
Segundo Gayle Smith, especialista em reconstrução do Center
for American Progress, o Iraque
não será estabilizado se os EUA
não derem autonomia de fato sobre os recursos que vêm sendo
gastos no país.
Segundo ela, mais da metade do
dinheiro empregado na reconstrução está sendo destinado, na
prática, à segurança.
Smith sugere que US$ 2 bilhões
dos US$ 18,4 bilhões que estão
sendo liberados agora sejam destinados a projetos tocados por comunidades e que a maior parte
dos funcionários de empresas
americanas contratadas para a reconstrução seja substituída por
iraquianos.
"Por causa da segurança, os
EUA pagam dez vezes mais a funcionários americanos do que pagariam a iraquianos", diz Smith.
Segundo Lawrence Korb, ex-secretário da Defesa no governo Ronald Reagan (1981-89), as funções
das empresas americanas contratadas no Iraque deveriam, onde
for possível, ser ""transferidas o
mais rápido possível para os iraquianos", como forma de legitimar a transição.
Para Philip Crowley, assistente
especial para assuntos de Segurança Nacional no governo Bill
Clinton (1993-2001), a transição
no Iraque, do comando do Departamento da Defesa dos EUA
para a supervisão do Departamento de Estado, também deverá
reforçar a sensação de prevalência
dos americanos sobre o governo.
A nova embaixada dos EUA no
Iraque poderá ter 3.000 pessoas,
entre civis americanos e outras
pessoas subordinadas a um comando militar.
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