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Violência afeta óleo e
assusta investidores
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
O premiê interino do Iraque,
Iyad Allawi, prometeu ontem "estudar um projeto de privatização", mas não deu detalhes. Mencionou o assunto em meio a um
apelo para que a comunidade internacional participasse da reconstrução de seu país.
Dilip Hiro, especialista em Iraque radicado em Londres, disse à
Folha que privatizações estavam
nos planos de Paul Bremer, chefe
da Autoridade Provisória da Coalizão, que encerrou ontem sua
missão em Bagdá, e do vice-presidente americano, Dick Cheney.
Segundo o analista, os EUA precisaram recuar para não violar as
Convenções de Genebra, que definem os limites de atuação de forças estrangeiras de ocupação.
Bremer e Cheney pretendiam
privatizar 200 empresas, sem limites para a participação estrangeira no capital, diz Hiro. Mas, ao
lado de obstáculos jurídicos, a
violência interna desestimulou
potenciais interessados.
O Estado controla o petróleo, o
gás, a eletricidade, as telecomunicações e os transportes. Monopólios estatais estavam na lógica de
centralização do regime deposto.
Valérie Marcel, pesquisadora
do Royal Institute of Internacional Affairs, em Londres, disse à
Folha que não se pensou em privatizar a estatal de petróleo. O plano estudado pelos EUA estava na
adoção de contratos de risco.
Mas o roteiro só seria desencadeado depois de uma lei sobre riquezas naturais, que poderá ser
elaborada pela Assembléia a ser
eleita em janeiro próximo.
Outro especialista, Gerald Butt,
editor da "Middle East Economic
Survey", disse à Folha que, sem
segurança interna, os contratos
de risco não serão atraentes.
Os atos de sabotagem interrompem com freqüência o fornecimento de eletricidade. Segundo
Butt, os contratos de risco também deverão superar as resistências da tecnocracia iraquiana, anterior à ditadura de Saddam, que
controla o setor do óleo.
O premiê Allawi disse há dias
que as sabotagens em refinarias e
oleodutos já deram ao país US$ 1
bilhão em prejuízos.
Segundo dados veiculados no
site da Opep, cartel mundial do
petróleo, seriam necessários US$
20 bilhões para que o Iraque atinja
o patamar de produção do final
dos anos 70 (3,7 milhões de barris
diários). O país hoje produz 2,5
milhões. Só 1.600 dos 2.300 poços
estão ativos. O Iraque tem a terceira maior reserva mundial comprovada, atrás da Arábia Saudita e
do Canadá.
Medida "acadêmica"
Butt disse que a reativação de
um Banco Central foi um passo
na boa direção, mas será uma medida "meramente acadêmica" se
o sistema financeiro não tiver
condições para funcionar.
"O problema é saber se o sistema é robusto o bastante para resistir à falta de eletricidade, aos seqüestros e aos atentados", disse.
A seu ver, o país tampouco possui instrumentos estatísticos confiáveis. Não se sabe, por exemplo,
qual a inflação. A impressão é
apenas que ela desacelerou, porque o dinheiro dura mais tempo
no bolso dos consumidores.
O quadro de insegurança desencoraja investidores externos e
iraquianos interessados em abrir
negócios de pequeno porte, afirma o especialista.
Há por fim a dívida externa, de
US$ 120 bilhões. O FMI, diz Valérie Marcel, propôs que os credores cancelassem até 95% do que
deveriam teoricamente receber. A
dívida é um dos gargalos para a
reconstrução do país.
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