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Justiça confirma vantagem de Calderón
Mesmo com votos anulados, conservador vence; Obrador radicaliza discurso e fala em "governo paralelo" no México
Juízes afirmam não haver provas de fraude; candidato da esquerda diz que não respeita instituições que não representam o povo
RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL
O Tribunal Federal Eleitoral
(Trife) do México deu o primeiro passo ontem para confirmar
a vitória do conservador Felipe
Calderón na eleição para a Presidência do México, realizada
em 2 de julho.
Depois de examinar 9% das
urnas onde foram apontadas irregularidades, o tribunal anulou 237.736 votos, distribuídos
por todos os partidos. Com a
decisão, Calderón perdeu
81.080 votos, e seu rival de esquerda Andrés Manuel López
Obrador, 76.897. Subtraídos os
votos anulados, a vantagem de
Calderón sobre Obrador ainda
é de 239.751 votos, ou 0,57 ponto percentual.
Ainda ontem, os juízes do
Trife voltaram a rejeitar a recontagem total dos votos, afirmando que não foram apresentadas provas de fraudes. O Tribunal tem até o dia 6 de setembro para declarar a validade das
eleições e proclamar o vencedor, que toma posse em 1º de
dezembro.
López Obrador, ex-prefeito
da Cidade do México e candidato pelo PRD (Partido da Revolução Democrática), denunciou fraude generalizada e pedia a recontagem geral, "voto
por voto, urna por urna". Sobre
a decisão de ontem, ele apenas
disse que "já esperava".
No último domingo, antecipando-se ao resultado desfavorável, López Obrador radicalizou seu discurso.
Em comício para milhares de
pessoas no Zócalo, a principal
praça da Cidade do México, ele
disse que, se o tribunal ratificasse a vitória de Calderón,
candidato pelo mesmo PAN
(Partido da Ação Democrática)
do presidente Vicente Fox, seria "usurpação por um presidente espúrio".
Obrador convocou uma convenção de todos os partidos de
esquerda e de seus simpatizantes para 16 de setembro, dia da
Independência Mexicana. Na
convenção, o esquerdista deve
ser nomeado "presidente legítimo ou chefe de governo na resistência", como sugeriu o próprio candidato.
Há um mês, milhares de militantes pró-López Obrador estão acampados e bloquearam
10 quilômetros da principal
avenida da capital, o Paseo de la
Reforma, além do Zócalo, onde
Obrador está acampado.
Governo paralelo
Ainda no discurso de domingo, Obrador disse que criará
"um governo paralelo" e afirmou que há a necessidade de
refundar as instituições do
país. "Não temos nenhum respeito pelas instituições, que
não são as do povo, e nós vamos
criar nossas instituições. O povo é quem manda e tem o direito inalienável de mudar sua forma de governo."
Sob críticas de ser messiânico, Obrador disse que "os poderosos chamavam Benito Juárez
de índio fedorento, e Zapata e
Pancho Villa de bandoleiros.
Conheço a história".
Não é o único sinal de que a
vitória de Calderón continuará
a ser contestada e haverá novos
confrontos. No dia da Independência Mexicana, há um tradicional desfile militar, entre o
Paseo de la Reforma e o Zócalo,
a área ocupada pela manifestação da esquerda.
Obrador afirmou que os
acampamentos não serão retirados para o desfile militar.
Calderón, ex-ministro da
Energia do presidente Vicente
Fox, afirmou ontem que defenderá "a decisão dos mexicanos
e que não cairá na provocação".
Gladis Boladeras, assessora de
imprensa do conservador, disse
ontem à Folha ter certeza de
que o resultado é favorável a
Calderón. "Ele só vai se pronunciar após a decisão oficial
do tribunal. Ao contrário da
oposição, nós respeitamos as
instituições", disse. "Obrador
só aceitaria o resultado se fosse
vencedor."
Calderón obteve 35,9% dos
votos em uma eleição onde o
índice de abstenção foi de 41%.
Dos 71 milhões de eleitores
mexicanos, 14,9 milhões votaram no conservador. No México, não há segundo turno.
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