São Paulo, terça-feira, 29 de agosto de 2006

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Justiça confirma vantagem de Calderón

Mesmo com votos anulados, conservador vence; Obrador radicaliza discurso e fala em "governo paralelo" no México

Juízes afirmam não haver provas de fraude; candidato da esquerda diz que não respeita instituições que não representam o povo

RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL


O Tribunal Federal Eleitoral (Trife) do México deu o primeiro passo ontem para confirmar a vitória do conservador Felipe Calderón na eleição para a Presidência do México, realizada em 2 de julho.
Depois de examinar 9% das urnas onde foram apontadas irregularidades, o tribunal anulou 237.736 votos, distribuídos por todos os partidos. Com a decisão, Calderón perdeu 81.080 votos, e seu rival de esquerda Andrés Manuel López Obrador, 76.897. Subtraídos os votos anulados, a vantagem de Calderón sobre Obrador ainda é de 239.751 votos, ou 0,57 ponto percentual.
Ainda ontem, os juízes do Trife voltaram a rejeitar a recontagem total dos votos, afirmando que não foram apresentadas provas de fraudes. O Tribunal tem até o dia 6 de setembro para declarar a validade das eleições e proclamar o vencedor, que toma posse em 1º de dezembro.
López Obrador, ex-prefeito da Cidade do México e candidato pelo PRD (Partido da Revolução Democrática), denunciou fraude generalizada e pedia a recontagem geral, "voto por voto, urna por urna". Sobre a decisão de ontem, ele apenas disse que "já esperava".
No último domingo, antecipando-se ao resultado desfavorável, López Obrador radicalizou seu discurso.
Em comício para milhares de pessoas no Zócalo, a principal praça da Cidade do México, ele disse que, se o tribunal ratificasse a vitória de Calderón, candidato pelo mesmo PAN (Partido da Ação Democrática) do presidente Vicente Fox, seria "usurpação por um presidente espúrio".
Obrador convocou uma convenção de todos os partidos de esquerda e de seus simpatizantes para 16 de setembro, dia da Independência Mexicana. Na convenção, o esquerdista deve ser nomeado "presidente legítimo ou chefe de governo na resistência", como sugeriu o próprio candidato.
Há um mês, milhares de militantes pró-López Obrador estão acampados e bloquearam 10 quilômetros da principal avenida da capital, o Paseo de la Reforma, além do Zócalo, onde Obrador está acampado.

Governo paralelo
Ainda no discurso de domingo, Obrador disse que criará "um governo paralelo" e afirmou que há a necessidade de refundar as instituições do país. "Não temos nenhum respeito pelas instituições, que não são as do povo, e nós vamos criar nossas instituições. O povo é quem manda e tem o direito inalienável de mudar sua forma de governo."
Sob críticas de ser messiânico, Obrador disse que "os poderosos chamavam Benito Juárez de índio fedorento, e Zapata e Pancho Villa de bandoleiros. Conheço a história".
Não é o único sinal de que a vitória de Calderón continuará a ser contestada e haverá novos confrontos. No dia da Independência Mexicana, há um tradicional desfile militar, entre o Paseo de la Reforma e o Zócalo, a área ocupada pela manifestação da esquerda.
Obrador afirmou que os acampamentos não serão retirados para o desfile militar.
Calderón, ex-ministro da Energia do presidente Vicente Fox, afirmou ontem que defenderá "a decisão dos mexicanos e que não cairá na provocação". Gladis Boladeras, assessora de imprensa do conservador, disse ontem à Folha ter certeza de que o resultado é favorável a Calderón. "Ele só vai se pronunciar após a decisão oficial do tribunal. Ao contrário da oposição, nós respeitamos as instituições", disse. "Obrador só aceitaria o resultado se fosse vencedor."
Calderón obteve 35,9% dos votos em uma eleição onde o índice de abstenção foi de 41%. Dos 71 milhões de eleitores mexicanos, 14,9 milhões votaram no conservador. No México, não há segundo turno.


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