São Paulo, sexta-feira, 29 de setembro de 2000

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POLÊMICA
Medicamento é usado na Europa, mas ativistas antiaborto estavam impedindo a venda no mercado americano
Governo dos EUA aprova pílula do aborto


DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS


As autoridades de saúde dos Estados Unidos aprovaram ontem a comercialização da pílula do aborto RU-486, depois de 12 anos de polêmica em torno da venda do medicamento no país.
A RU-486, que pode provocar uma interrupção da gravidez sem a necessidade de cirurgia, foi lançada na França em 1988 e já é usada no Reino Unido, na Suécia e em outros países europeus, mas os ativistas antiaborto conseguiram adiar, até agora, a entrada do medicamento nos Estados Unidos, onde o aborto é legal.
A RU-486, também conhecida como mifepristone, ainda não existe no Brasil. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, nenhum fabricante entrou ainda com pedido para registrá-la. A pílula poderia ser usada nos casos em que a lei brasileira permite o aborto: para interromper uma gravidez proveniente de estupro e para salvar a vida da mãe.
Segundo as autoridades norte-americanas, a aprovação da pílula "é o resultado de uma avaliação cuidadosa das provas científicas relacionadas à segurança e à eficácia do medicamento".
A RU-486 provoca o aborto ao bloquear um hormônio necessário à sustentação da gravidez. Pela legislação norte-americana, a pílula deve ser acompanhada, dois dias depois, por um outro medicamento, o misoprostol, que causa contrações uterinas. A mulher precisa retornar ao médico duas semanas mais tarde para saber se a gravidez foi realmente interrompida, porque existe o risco de um aborto incompleto.
A lei norte-americana diz que a pílula só pode ser usada nos primeiros 49 dias após a última menstruação. Junto com o medicamento, as mulheres vão receber um panfleto alertando para a possibilidade de efeitos colaterais, como sangramento forte, náusea e vômito.
As autoridades norte-americanas exigem também que os médicos que receitarem a pílula saibam identificar com precisão há quanto tempo a mulher está grávida e se a gravidez é tubária ou não. Eles também precisam saber como agir em caso de sangramento forte ou de um aborto incompleto. Já ocorreram casos, na Europa, em que o sangramento foi tão grave que as mulheres precisaram de transfusão de sangue.
O grupo sem fins lucrativos The Population Council, que tem os direitos de comercialização da pílula do aborto nos EUA, disse que o medicamento estará no mercado dentro de um mês. Ele será vendido com o nome de Mifeprex pelo laboratório Danco, criados especialmente para a distribuição da pílula.
"As mulheres dos Estados Unidos terão agora acesso a métodos de aborto não cirúrgicos como em outros países da Europa", afirmou a porta-voz do The Population Council, Sandra Waldman. Segundo ela, a aprovação da pílula dará maior privacidade às mulheres e aos médicos, que hoje enfrentam protestos, às vezes violentos, de ativistas antiaborto em frente às clínicas que oferecem esse serviço. O acesso das mulheres ao aborto também deve aumentar, especialmente nas áreas rurais, onde não há clínicas.
A RU-486 não deve ser confundida com a "pílula do dia seguinte", vendida no Brasil com o nome de Postinor-2. A "pílula do dia seguinte" não é abortiva. Ela apenas evita a gravidez e é um método legal. A Postinor-2 pode ser comprada em qualquer farmácia e tomada no dia seguinte a uma relação para evitar a gravidez.


Colaborou a Redação

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