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MULTIMÍDIA
Österreichischer Rundfunk - de Viena
Jornalistas acusam Viena de ferir liberdade de imprensa
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
Ameaças de demissão contra
jornalistas avessos às políticas do
governo, pressão sobre o conteúdo de matérias veiculadas feita
por autoridades e campanhas de
intimidação tornaram-se comuns
na Áustria desde que o Partido da
Liberdade (PL), que já foi presidido pelo líder de extrema direita
Joerg Haider, passou a fazer parte
da coalizão governamental, em 4
de fevereiro deste ano.
O que não passava de suspeita
sem provas foi confirmado à Folha por dois jornalistas da rede de
rádio e televisão austríaca ÖRF
(Österreichischer Rundfunk),
que pediram para não serem
identificados por temerem represálias dos partidos que formam a
coalizão no poder em Viena -PL
e Partido do Povo, do chanceler
(premiê) Wolfgang Schuessel.
Há alguns dias, toda a redação
da rede votou a favor de uma resolução na qual denunciava a situação atual. "A pressão dos partidos do governo atingiu proporções insuportáveis nos últimos
dias, ela inclui até tentativas de intimidação direta de alguns jornalistas", afirmava a resolução.
O estopim da crise, segundo os
jornalistas da ÖRF, foi a abertura
de um inquérito preliminar contra vários líderes do PL, incluindo
Haider, que teriam obtido informações confidenciais sobre adversários políticos por meio de
simpatizantes dentro da polícia e
de espionagem informática.
Haider refutou a acusação na
última quarta e afirmou ter-se beneficiado "de boas informações,
mas não de dossiês secretos".
Citado na resolução dos jornalistas, Peter Westenthaler, líder do
PL no Parlamento, ameaçou "fazer com que os redatores de esquerda e de extrema esquerda sejam demitidos" da televisão, em
entrevista concedida ao jornal
conservador "Die Presse".
Na última quinta, os Verdes,
partido de oposição, anunciaram
sua intenção de depositar amanhã no Parlamento uma moção
de desconfiança contra Dieter
Boehmdorfer -atual ministro da
Justiça, ex-advogado e amigo pessoal de Haider-, que está sob
suspeita de ter tido acesso a dados
computadorizados confidenciais,
pertencentes à polícia, sobre adversários políticos do ex-cliente.
A influência do governo sobre a
ÖRF, que detém o monopólio em
matéria de TV aberta (com ÖRF1
e ÖRF2) e domina as rádios do
país, é antiga. Sua estrutura conta
até com um diretório de 35 membros nomeados pelos partidos representados no Parlamento.
Entretanto, conforme relato de
um dos jornalistas ouvidos pela
Folha, desde que a coalizão conservadora assumiu o poder, as intervenções deixaram de ser sutis e
passaram a ser agressivas, com a
clara intenção de intimidar os jornalistas, ferindo, assim, a liberdade de imprensa na Áustria.
Ingerência
Várias formas de ingerência governamental têm ocorrido, de
acordo com os dois funcionários
da ÖRF. Ligações para a diretoria
da redação e influência sobre o
conteúdo dos programas veiculados são comuns.
Especula-se nos corredores da
rede, segundo eles, que alguns deputados recebam, com horas de
antecedência, o texto do jornal da
noite para ter a possibilidade de
vetar comentários desfavoráveis.
Até mesmo o correio eletrônico
dos funcionários está sob suspeita
de monitoramento por parte dos
partidos no poder em Viena.
O diretor-geral da rede, Gerhard Weis, por sua vez, disse que,
frequentemente, se vê obrigado a
dar "direito de resposta" a membros do governo, que acreditam
ter sido ofendidos por um convidado de um programa exibido
pela rede, para que eles possam
dar ao público sua versão dos fatos, sem que os jornalistas tenham
o direito de lhes fazer perguntas.
A consequência dessas pressões
é, para ambos os jornalistas entrevistados pela Folha, a autocensura. Assim, os próprios funcionários da rede preferem não correr o
risco de se indispor com as autoridades e evitam assuntos ou comentários considerados subversivos pelo poder central.
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