São Paulo, quarta-feira, 29 de novembro de 2000

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PERU
Total já descoberto no país em contas do ex-braço direito de Fujimori é de US$ 70 mi; seu paradeiro continua incerto
Montesinos tem mais US$ 22 mi na Suíça


DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

A Justiça suíça anunciou ontem o bloqueio de US$ 22 milhões em cinco novas contas bancárias ligadas ao ex-chefe do serviço secreto peruano Vladimiro Montesinos.
No início do mês, o governo suíço já havia anunciado o bloqueio de US$ 48 milhões em contas bancárias no país ligadas a Montesinos, ex-braço direito de Alberto Fujimori, destituído da Presidência do Peru na semana passada.
Montesinos é acusado ainda de possuir outros milhões de dólares em contas na Argentina, no Uruguai, no Panamá, nos Estados Unidos e nas Ilhas Cayman, entre outros.
Segundo um comunicado público divulgado ontem pela Justiça do distrito de Zurique, o dinheiro encontrado nas contas procede, "com quase total segurança", de comissões por vendas de armas entre Rússia e Peru.
A juíza encarregada do caso, Cornelia Cova, diz que o papel exato de Montesinos nessas operações ainda não está claro. Os investigadores procuram agora estabelecer provas da origem ilícita do dinheiro. Segundo Cova, já foram examinadas 17 contas em sete bancos diferentes.
Montesinos foi o pivô da crise política que culminou com o pedido de renúncia de Fujimori, feito em Tóquio, no Japão, e sua posterior destituição pelo Congresso, por "incapacidade moral".
Fujimori permanece no Japão. O governo do país diz que está verificando se ele tem direito à cidadania japonesa, mas diz que ele ainda não a solicitou.
A divulgação de um vídeo no qual Montesinos aparece supostamente pagando US$ 15 mil a um parlamentar eleito pela oposição para votar com o governo, em setembro, levou Fujimori a anunciar eleições antecipadas.
Montesinos viajou ao Panamá, onde pediu asilo, mas teve o pedido negado e retornou ao Peru quase um mês depois, recrudescendo a crise. Montesinos permanece em lugar desconhecido desde então. Ele teve sua prisão decretada, sob acusação de lavagem de dinheiro, tráfico de influência, fraude fiscal, tortura e assassinato.
O ministro do Interior do Peru, Ketín Vidal, afirmou que desconhece o paradeiro de Montesinos, mas que "todas as medidas" serão tomadas para localizá-lo, sem especificar quais são essas medidas.

Mudanças
O governo de transição do Peru, encabeçado pelo presidente Valentín Paniagua, tomou como uma de suas tarefas prioritárias a institucionalização das Forças Armadas e a dissolução do rastro da estrutura de influências montada por Montesinos para controlar a cúpula militar do país.
O ministro da Defesa, o general da reserva Walter Ledesma, anunciou na noite de anteontem a designação do comandante-geral da Força Aérea, Pablo Carbone, como novo presidente do Comando Conjunto das Forças Armadas. A nomeação rompeu a tradição dos dez anos da gestão de Fujimori, período no qual o cargo sempre ficava nas mãos do comandante-geral do Exército.
Além disso, Ledesma anunciou que o general Juan Yanqui, chefe do Comando de Instrução do Exército, ligado a Montesinos, foi passado à reserva. Outros 12 generais próximos a Montesinos haviam sido passados à reserva na semana passada, enquanto o general Carlos Tafur, que havia sido afastado em setembro por Fujimori, foi nomeado comandante-geral do Exército.
Segundo opositores de Fujimori, Montesinos criou uma rede de influências nas Forças Armadas, no Poder Judiciário, no Ministério Público, no Congresso e no sistema eleitoral para assegurar a permanência de Fujimori no poder. A oposição teme que a influência de Montesinos se mantenha, mesmo com ele na clandestinidade, e pedem um total expurgo nas Forças Armadas.

Candidatos
O ouvidor-geral do Peru, Jorge Santistevan, anunciou ontem sua renúncia ao cargo, para poder concorrer à Presidência nas eleições de abril de 2001.
Santistevan e o economista Alejandro Toledo são os únicos candidatos declarados até agora. Toledo recusou-se a disputar o segundo turno da eleição presidencial de maio contra Fujimori depois que grupos internacionais apontaram indícios de fraudes.


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