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Crise faz alunos perderem 33% do ano letivo e serem aprovados
DO ENVIADO A TEGUCIGALPA
A crise política fez com que
os cerca de 1,1 milhão de alunos
da rede escolar pública hondurenha perdessem, em média,
66 dos 200 dias letivos -ou seja, 33% do ano escolar, segundo
dados oficiais. Mesmo assim, o
Ministério da Educação aprovou automaticamente todos
para a série seguinte.
Os vários dias sem aulas se
deveram principalmente às
constantes greves de professores. No primeiro semestre, antes da deposição de Manuel Zelaya, o problema era o atraso no
pagamento dos salários. Depois
de 28 de junho, os docentes
passaram a participar ativamente das marchas contra o
governo interino.
O segundo motivo foi a antecipação do final do ano letivo
em cerca de um mês, do dia 16
de novembro para o dia 17 de
outubro. O governo interino
alegou que precisava das escolas com bastante antecipação
para preparar as eleições. Foi
nessa época que decretou a
aprovação automática.
"O resultado é um baixíssimo
nível de aprendizado", afirma
Esmilda Montoya, especialista
em educação do escritório regional da Unicef (agência da
ONU para a infância). "As
crianças só puderam ver 70%
do conteúdo. Elas vão para a série seguinte com muito poucas
expectativas de sucesso."
Montoya afirma que o único
precedente desse tipo ocorreu
em 1988, quando o furacão
Mitch devastou Honduras.
"Naquela época, o rendimento
foi muito baixo, e temo que isso
irá ocorrer de novo. Temos de
voltar à governabilidade do sistema educativo, porque estamos muito afetados pelas greves. As crianças estão pagando
muito caro por qualquer crise."
Outro problema para o sistema educacional hondurenho
neste ano foi o congelamento
da ajuda internacional em represália ao governo interino.
Cerca de US$ 2,9 milhões deixaram de ser usados em 2009
em vários programas, paralisando, por exemplo, a capacitação de professores para lidar
com alunos com deficiência.
Também foi cortado um financiamento do Banco Mundial para melhorar o sistema de
informática do sistema educacional, para que Honduras
aperfeiçoe o deficiente levantamento de estatísticas.
Segundo Montoya, com ou
sem crise política, a educação
hondurenha tem graves problemas. Ela cita casos de escolas rurais em que um só professor é obrigado a dar aula para
uma turma com alunos de seis
séries diferentes. Também nas
zonas rurais, algumas unidades
funcionam apenas três dias por
semana, com um nível muito
baixo de aprendizado.
Por outro lado, a funcionária
da Unicef afirma que o salário
do professor da rede pública
hondurenha (US$ 400 para iniciantes) é um dos melhores da
América Latina. Quando não
atrasa.
(FM)
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