São Paulo, domingo, 29 de novembro de 2009

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Crise faz alunos perderem 33% do ano letivo e serem aprovados

DO ENVIADO A TEGUCIGALPA

A crise política fez com que os cerca de 1,1 milhão de alunos da rede escolar pública hondurenha perdessem, em média, 66 dos 200 dias letivos -ou seja, 33% do ano escolar, segundo dados oficiais. Mesmo assim, o Ministério da Educação aprovou automaticamente todos para a série seguinte.
Os vários dias sem aulas se deveram principalmente às constantes greves de professores. No primeiro semestre, antes da deposição de Manuel Zelaya, o problema era o atraso no pagamento dos salários. Depois de 28 de junho, os docentes passaram a participar ativamente das marchas contra o governo interino.
O segundo motivo foi a antecipação do final do ano letivo em cerca de um mês, do dia 16 de novembro para o dia 17 de outubro. O governo interino alegou que precisava das escolas com bastante antecipação para preparar as eleições. Foi nessa época que decretou a aprovação automática.
"O resultado é um baixíssimo nível de aprendizado", afirma Esmilda Montoya, especialista em educação do escritório regional da Unicef (agência da ONU para a infância). "As crianças só puderam ver 70% do conteúdo. Elas vão para a série seguinte com muito poucas expectativas de sucesso."
Montoya afirma que o único precedente desse tipo ocorreu em 1988, quando o furacão Mitch devastou Honduras. "Naquela época, o rendimento foi muito baixo, e temo que isso irá ocorrer de novo. Temos de voltar à governabilidade do sistema educativo, porque estamos muito afetados pelas greves. As crianças estão pagando muito caro por qualquer crise."
Outro problema para o sistema educacional hondurenho neste ano foi o congelamento da ajuda internacional em represália ao governo interino. Cerca de US$ 2,9 milhões deixaram de ser usados em 2009 em vários programas, paralisando, por exemplo, a capacitação de professores para lidar com alunos com deficiência.
Também foi cortado um financiamento do Banco Mundial para melhorar o sistema de informática do sistema educacional, para que Honduras aperfeiçoe o deficiente levantamento de estatísticas.
Segundo Montoya, com ou sem crise política, a educação hondurenha tem graves problemas. Ela cita casos de escolas rurais em que um só professor é obrigado a dar aula para uma turma com alunos de seis séries diferentes. Também nas zonas rurais, algumas unidades funcionam apenas três dias por semana, com um nível muito baixo de aprendizado.
Por outro lado, a funcionária da Unicef afirma que o salário do professor da rede pública hondurenha (US$ 400 para iniciantes) é um dos melhores da América Latina. Quando não atrasa. (FM)


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