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São Paulo, quinta-feira, 30 de janeiro de 2003

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Leia o discurso de Bush ao Congresso

Jakub Mosur - 28.jan.2003/Associated Press
Telão em San Francisco mostra o discurso de Bush ao Congresso


Leia a seguir a íntegra do discurso do presidente dos EUA, George W. Bush, sobre o Estado da União, proferido anteontem no Congresso americano.
 
Senhor presidente do Congresso, vice-presidente Cheney, parlamentares e distintos cidadãos, todos os anos, por lei e por tradição, nós nos reunimos aqui para fazer um balanço do Estado da União. Neste ano, reunimo-nos neste recinto com a profunda consciência dos dias decisivos que temos pela frente.
Os senhores e eu servimos ao nosso país numa época de grande significado. Durante esta sessão do Congresso, temos o dever de reformar programas domésticos que são vitais para nosso país, temos a oportunidade de salvar milhões de vidas no exterior de uma doença terrível. Vamos trabalhar em prol de uma prosperidade que seja largamente compartilhada e vamos responder a cada perigo e a cada inimigo que ameaçar a população americana.
Nestes dias de esperança e de ajuste de contas, podemos estar confiantes.
Nos últimos dois anos, vimos o que pode ser realizado quando trabalhamos em conjunto.
Para elevar os padrões de nossas escolas públicas, realizamos uma reforma histórica do ensino que, agora, precisa ser levada a cada escola e a cada sala de aula, para que cada criança na América saiba ler, escrever e ter sucesso na vida.
Para proteger nosso país, reorganizamos nosso governo e criamos o Departamento da Segurança Interna, que está se mobilizando contra as ameaças de uma nova era.
Para tirar nossa economia da recessão, decretamos a maior redução de impostos em uma geração.
Para reafirmar a integridade das empresas americanas, aprovamos reformas intransigentes e estamos cobrando a responsabilidade de empresários e executivos criminosos.
Alguns podem chamar a isso de um bom histórico. Eu o chamo de um bom começo. Nesta noite peço à Câmara e ao Senado que se juntem a mim nos próximos passos ousados no sentido de servir a nossos concidadãos.
Nossa primeira meta é clara: precisamos de uma economia que cresça em ritmo suficiente para que consiga empregar todos os homens e as mulheres que buscam trabalho.
Depois da recessão, dos ataques terroristas, dos escândalos em grandes empresas e das quedas das Bolsas, nossa economia está se recuperando. Mas ela não está crescendo em ritmo e com força suficientes.
Com o desemprego em alta, nosso país precisa de que mais pequenas empresas sejam abertas, mais companhias invistam e se expandam, de que mais empregadores preguem em suas portas placas dizendo: ""Precisa-se de funcionário".
Empregos são criados quando a economia cresce; a economia cresce quando os americanos têm mais dinheiro para gastar e investir, e a melhor e mais justa maneira de garantir que os americanos tenham esse dinheiro é não tirar tudo deles em impostos, para começar.
Estou propondo que as reduções no Imposto de Renda previstas para 2004 e 2006 sejam transformadas em permanentes e efetivas neste ano.
E, sob meu plano, assim que eu tiver aprovado a lei, esse dinheiro adicional vai começar a aparecer nos contracheques dos funcionários.
Em lugar de reduzir gradativamente a taxa sobre o casamento, devemos fazê-lo agora.
Em lugar de elevar gradativamente o crédito por filho até a marca de US$ 1.000, deveríamos enviar os cheques às famílias americanas agora, já.
Essa redução dos impostos se destina a todos os que pagam Imposto de Renda. Ela vai ajudar nossa economia de maneira imediata. Neste ano, 92 milhões de americanos vão guardar, em média, quase US$ 1.000 de seu dinheiro. Uma família de quatro pessoas com renda anual de US$ 40 mil verá seu Imposto de Renda federal cair de US$ 1.178 por ano para US$ 45.
E nosso plano vai melhor a situação básica de mais de 23 milhões de pequenas empresas.
Vocês, o Congresso, já aprovaram todas essas reduções e as prometeram para os anos futuros.
Se esse corte nos impostos será bom para os americanos dentro de três, cinco ou sete anos, é ainda melhor para os americanos hoje.
Também devemos fortalecer a economia, dando tratamento igual aos investidores em nossas leis tributárias. É justo taxar os lucros de uma empresa. Não é justo fazer o acionista pagar um segundo imposto sobre os mesmos lucros.
Para fortalecer a confiança dos investidores e ajudar os quase 10 milhões de cidadãos de terceira idade que recebem receitas sob a forma de dividendos, peço a vocês que ponham fim à injusta taxação dupla dos dividendos.
Impostos mais baixos e investimentos maiores vão ajudar a economia a se expandir. Mais empregos significam mais contribuintes e uma receita maior para nosso governo.
A melhor maneira de fazer frente ao déficit e avançar em direção a um Orçamento equilibrado é encorajar o crescimento econômico e mostrar alguma disciplina de gastos em Washington.
Precisamos trabalhar juntos para financiar apenas nossas prioridades mais importantes. Vou enviar a vocês um Orçamento que prevê um aumento de 4% nos gastos discricionários no ano que vem, mais ou menos a mesma proporção em que se prevê que cresça a renda familiar média. E esse é um ponto de referência bom para nós. Os gastos federais não devem subir mais do que a renda das famílias americanas.
Uma economia em crescimento e uma ênfase dada às prioridades essenciais serão cruciais para o futuro da Seguridade Social. Enquanto continuamos a trabalhar juntos para manter a Seguridade Social confiável, devemos oferecer aos trabalhadores mais jovens uma chance de investir em contas de aposentadoria que eles irão controlar e das quais serão donos.
Nossa segunda meta é a saúde de alta qualidade e que esteja ao alcance do bolso de todos os americanos.
O sistema americano de medicina é um modelo de perícia e inovação, com descobertas feitas num ritmo que está acrescentando bons anos às nossas vidas. Para muitas pessoas, entretanto, a assistência médica custa mais do que elas podem pagar, e muitas não contam com nenhuma cobertura médica.
Esses problemas não serão resolvidos com um sistema de saúde nacionalizado que dita as coberturas. Em lugar disso, precisamos buscar um sistema no qual todos os americanos tenham um bom seguro-saúde e escolham seus próprios médicos e em que os cidadãos de terceira idade e os americanos de baixa renda recebam a ajuda de que precisam.
Em lugar de burocratas e advogados, precisamos colocar médicos, enfermeiras e pacientes de volta no controle da medicina americana. A reforma da saúde precisa começar pelo Medicare, que é o compromisso duradouro de uma sociedade que se preocupa com seus cidadãos. Precisamos renovar esse compromisso, proporcionando aos idosos acesso à medicina preventiva e aos novos medicamentos que estão transformando a saúde na América. Os idosos que estiverem satisfeitos com o sistema Medicare atual devem poder manter sua cobertura como está. E, como vocês, parlamentares, seus funcionários de gabinete e outros funcionários federais, todos os idosos devem ter o direito de optar por um plano de saúde que cubra medicamentos receitados por médicos.
Meu Orçamento vai dedicar US$ 400 bilhões adicionais para a reforma e fortalecimento do Medicare ao longo dos próximos dez anos. Os líderes de ambos os partidos políticos falam há anos em reforçar o Medicare. Exorto os membros deste novo Congresso a colocar a proposta em prática neste ano.
Para melhorar nosso sistema de saúde, precisamos fazer frente a uma das principais causas do aumento de seus custos: a ameaça constante de que médicos e hospitais sejam alvo de processos infundados na Justiça. Em razão do excesso de ações litigiosas, todo mundo paga mais pela saúde, e muitas regiões da América estão perdendo ótimos médicos. Ninguém, nunca, foi curado de doenças por um processo jurídico leviano. Exorto o Congresso a aprovar a reforma da legislação de responsabilidade legal dos médicos.
Nossa terceira meta consiste em promover a independência energética de nosso país e, ao mesmo tempo, melhoras dramáticas no ambiente.
Enviei aos senhores um plano energético abrangente para a promoção de eficiência e conservação energéticas, para o desenvolvimento de tecnologias mais limpas e a produção de mais energia no lar. Enviei-lhes uma legislação de céus limpos que torna obrigatória uma redução de 70% no índice de poluição do ar provocada por usinas de força nos próximos 15 anos. Enviei-lhes uma iniciativa relativa a florestas saudáveis, visando a prevenir os catastróficos incêndios florestais que devastam comunidades inteiras, matam a fauna e queimam milhões de acres de florestas valiosas. Exorto a vocês que aprovem essas medidas, para o bem de nosso meio ambiente e de nossa economia. Mais ainda, peço a vocês que dêem o passo crucial de proteger nosso ambiente de um modo que as gerações anteriores a nós não poderiam sequer ter imaginado.
O maior avanço ambiental de todos neste século virá não em consequência de infindáveis processos na Justiça ou de regulamentos de comando e controle, mas por meio de tecnologia e inovações. Estou propondo hoje que seja destinado US$ 1,2 bilhão para o financiamento de pesquisas, para que os EUA possam liderar o mundo no desenvolvimento de automóveis limpos, movidos a hidrogênio.
Uma simples reação química entre o hidrogênio e o oxigênio gera energia que pode ser usada para mover um carro, produzindo apenas água, não gases tóxicos de escapamento.
Com um novo compromisso nacional a esse respeito, nossos cientistas e engenheiros vão superar obstáculos, levando esses carros do laboratório ao showroom, de tal maneira de que o primeiro carro dirigido por uma criança nascida de hoje possa ser movido a hidrogênio e não gerar poluição nenhuma. Unam-se a mim nesta inovação importante para tornar o nosso ar muito mais limpo e o nosso país, muito menos dependente de fontes externas de energia.
Nossa quarta meta consiste em aplicar a compaixão da América aos problemas mais profundos do país. Para muitos em nosso país -os sem-teto, os órfãos, os dependentes-, a necessidade é grande. No entanto existe um poder -um poder capaz de operar maravilhas- na bondade, no idealismo e na fé da população americana.
Os americanos fazem o trabalho da compaixão diariamente: ao visitar presos, fornecer abrigos a mulheres vítimas de violência, levar companheirismo a idosos solitários. Essas boas obras merecem nossos elogios, merecem nosso apoio pessoal e, quando é apropriado, merecem a assistência do governo federal.
Exorto a vocês que aprovem tanto minha iniciativa baseada na fé quanto a Lei de Serviço do Cidadão, para incentivar atos de compaixão capazes de transformar a América em um coração e uma alma.
No ano passado, convoquei meus concidadãos a participar no USA Freedom Corps [algo como brigada da liberdade dos EUA", que está recrutando dezenas de milhares de novos voluntários em todo o país. Nesta noite, peço ao Congresso e ao povo americano que direcionem o espírito da prestação de serviço e os recursos do governo ao atendimento das necessidades de alguns de nossos cidadãos mais vulneráveis: meninos e meninas que têm de crescer sem orientação ou atenção e crianças que precisam passar pelos portões de uma prisão para receber um abraço de seus pais ou mães.
Proponho a criação de uma iniciativa de US$ 450 milhões para levar mentores a mais de 1 milhão de estudantes secundaristas carentes e filhos de presos. O governo apoiará o treinamento e o recrutamento dos mentores, mas serão os homens e mulheres da América que vão preencher esse papel. Um mentor, uma pessoa, é capaz de transformar uma vida para sempre, e peço a você que seja essa pessoa.
Outra causa de desesperança é a dependência de drogas. A dependência expulsa da vida dos dependentes a amizade, a ambição e a convicção moral, reduzindo toda a riqueza da vida a um único desejo destrutivo. Nós, como governo, estamos combatendo as drogas ilegais, cortando o fornecimento delas e reduzindo a demanda por meio de programas educativos antidrogas. Para os já dependentes, porém, a luta contra as drogas é uma luta por suas próprias vidas.
Inúmeros americanos que buscam tratamento não conseguem encontrá-lo. Por isso, proponho hoje um novo programa de US$ 600 milhões para ajudar outros 300 mil americanos a receber tratamento ao longo dos próximos três anos.
Nosso país é abençoado com programas de recuperação que fazem um trabalho espantoso. Um deles é encontrado na Igreja do Local de Cura, em Baton Rouge, Louisiana. Um homem que segue o programa da igreja disse: ""Deus opera milagres na vida das pessoas, e você nunca acha que pode ser com você". Vamos levar essa mensagem de esperança a todos os americanos que lutam contra a dependência de drogas. O milagre da recuperação é possível e pode acontecer com você.
Ao cuidar das crianças que precisam de mentores e dos homens e mulheres dependentes que precisam de tratamento, estamos construindo uma sociedade mais aberta às pessoas, uma cultura que valoriza cada vida. E, nesse trabalho, não devemos passar por cima dos mais fracos entre nós. Peço a vocês que protejam os bebês no próprio momento de seu nascimento e acabem com a prática do aborto.
E, como nenhuma vida humana deve ser iniciada ou concluída como objeto de um experimento, peço a vocês que determinem um padrão elevado para a humanidade e aprovem uma lei contra toda e qualquer clonagem humana.
As qualidades de coragem e compaixão que nos esforçamos para fomentar na América também determinam nossa conduta no exterior. A bandeira americana representa mais do que apenas nosso poderio e nossos interesses. Nossos fundadores dedicaram este país à causa da dignidade humana, aos direitos de cada pessoa e às possibilidades de cada vida.
Essa convicção nos leva a sair pelo mundo para socorrer os aflitos, defender a paz e frustrar os desígnios dos homens maus.
No Afeganistão, ajudamos a libertar um povo oprimido e vamos continuar a ajudá-lo a garantir a segurança de seu país, reconstruir sua sociedade e educar todas as suas crianças, meninos e meninas.
No Oriente Médio, vamos continuar a buscar a paz entre um Israel seguro e uma Palestina democrática.
No mundo inteiro, a América alimenta os famintos. Mais de 60% da assistência alimentar internacional chega como doação da população dos EUA.
À medida que nosso país desloca tropas e constrói alianças para tornar nosso mundo mais seguro, devemos também lembrar a missão que, como país abençoado, temos de tornar este mundo melhor.
Hoje, no continente africano, quase 30 milhões de pessoas são portadoras do vírus da Aids, incluindo 3 milhões de crianças com menos de 15 anos. Há países africanos inteiros em que mais de um terço da população adulta é portadora da doença. Mais de 4 milhões de pessoas precisam de tratamento medicamentoso imediato. No entanto, em todo o continente, apenas 50 mil soropositivos, nada mais, recebem os medicamentos de que precisam.
Como o diagnóstico de Aids é visto como sentença de morte, muitos contaminados não procuram tratamento. Quase todos que o fazem são rejeitados.
Um médico na zona rural da África do Sul descreveu sua frustração dizendo: ""Não temos remédios. Muitos hospitais dizem às pessoas: "Você tem Aids. Não podemos ajudá-lo. Vá para casa e morra"". Numa era de medicamentos milagrosos, ninguém deveria ser obrigado a ouvir tais palavras.
A Aids pode ser prevenida. Os medicamentos anti-retrovirais podem estender a vida dos pacientes por muitos anos. E o custo dessas drogas caiu de US$ 12 mil ao ano para menos de US$ 300 ao ano, o que coloca uma possibilidade tremenda a nosso alcance.
Senhoras e senhores, em poucos momentos a história já nos ofereceu uma oportunidade maior de fazer tanto por tantas pessoas. Enfrentamos e vamos continuar a enfrentar o HIV e a Aids em nosso próprio país. E, para fazer frente à crise grave e urgente no exterior, proponho hoje a adoção de um Plano de Emergência de Alívio da Aids, uma obra de misericórdia que supere todos os esforços internacionais atuais para ajudar a população da África.
Esse plano abrangente vai prevenir 7 milhões de casos novos de contaminação com o HIV, vai proporcionar a pelo menos 2 milhões de pessoas tratamento com medicamentos que prolongam suas vidas e vai fornecer atendimento humano a milhões de soropositivos e de crianças deixadas órfãs pela Aids.
Peço ao Congresso que dedique US$ 15 bilhões ao longo dos próximos cinco anos, incluindo quase US$ 10 bilhões em dinheiro novo, para virar a maré contra a Aids nos países da África e do Caribe mais atingidos pelo flagelo.
Este país poderá liderar o mundo no trabalho de poupar inocentes de um flagelo da natureza.
E este país está liderando o mundo no confronto e na derrota do terrorismo, um flagelo criado pelo homem.
Há dias em que nossos concidadãos não ouvem notícias sobre a guerra contra o terror. Nunca há um dia em que eu não seja informado de uma nova ameaça ou não receba informações sobre operações em andamento, ou, ainda, dê uma ordem nesta guerra global contra uma rede dispersa de assassinos.
A guerra segue em frente, e nós a estamos vencendo. Já prendemos ou enfrentamos de outra maneira vários comandantes-chave da Al Qaeda. Entre eles figuram um homem que dirigiu a logística e o financiamento dos ataques de 11 de setembro, o chefe das operações da Al Qaeda no golfo Pérsico, que planejou os bombardeios de nossas embaixadas na África oriental e do navio USS Cole, um chefe de operações da Al Qaeda no Sudeste Asiático, um ex-diretor dos campos de treinamento da Al Qaeda no Afeganistão, um agente-chave da Al Qaeda na Europa, um importante líder da Al Qaeda no Iêmen.
Ao todo, mais de 3.000 suspeitos de terrorismo já foram presos em muitos países. E muitos outros tiveram um destino diferente. Digamos apenas que já deixaram de ser um problema para os Estados Unidos e nossos amigos e aliados.
Estamos cooperando estreitamente com outros países para prevenir outros ataques. A América e os países da coalizão já trouxeram à tona e frustraram conspirações terroristas tendo como alvo a embaixada americana no Iêmen, a embaixada americana em Cingapura, uma base militar saudita, navios no estreito de Ormuz e no estreito de Gibraltar. Já desbaratamos células da Al Qaeda em Hamburgo, Milão, Madri, Londres e Paris, sem falar em Buffalo, Nova York.
Colocamos os terroristas para correr. Nós os estamos mantendo assim, fugindo. Um a um, os terroristas estão aprendendo o significado da justiça americana.
Enquanto combatemos essa guerra, vamos nos lembrar de onde ela começou: aqui, em nosso próprio país. Este governo está tomando medidas sem precedentes para proteger nossa população e defender nossa pátria.
Intensificamos a segurança nas fronteiras e nos portos de entrada no país, posicionamos mais de 50 mil agentes federais treinados nos aeroportos, começamos a vacinar as tropas contra a varíola e estamos colocando em funcionamento a primeira rede nacional de sensores precoces para detectar possíveis ataques biológicos.
E neste ano, pela primeira vez, estamos começando a colocar em campo uma defesa para proteger nosso país contra mísseis balísticos.
Agradeço ao Congresso por respaldar essas medidas. Peço a vocês hoje que somem à nossa segurança futura um grande esforço de pesquisa e produção para resguardar nossa população contra o bioterrorismo. É o Projeto Escudo Biológico.
O Orçamento que enviarei a vocês vai propor que seja rapidamente disponibilizada uma verba de quase US$ 6 bilhões para a produção de vacinas e tratamentos eficazes contra agentes como o antraz, a toxina botulínica, o Ebola e a peste bubônica. Precisamos supor que nossos inimigos possam usar essas doenças como arma e precisamos agir antes de sermos confrontados com o perigo.
Desde 11 de setembro, nossos organismos policiais e de informações vêm cooperando mais estreitamente do que nunca para rastrear e frustrar os esforços dos terroristas. O FBI está melhorando sua capacidade de analisar informações e está se transformando para fazer frente a novas ameaças.
Nesta noite estou instruindo os diretores do FBI, da CIA, da Segurança Interna e do Departamento da Defesa a desenvolver um Centro de Integração de Ameaças Terroristas, visando fundir e analisar todas as informações sobre ameaças num único local.
Nosso governo precisa dispor das melhores informações possíveis, e nós as utilizaremos para garantir que as pessoas certas estejam nos lugares certos para proteger nossos cidadãos.
Nossa guerra contra o terror é uma disputa de vontades na qual a perseverança é poder. Nos escombros das torres gêmeas, no muro ocidental do Pentágono e num campo da Pensilvânia, este país fez uma promessa, e nós renovamos essa promessa nesta noite. Seja qual for a duração desta luta e sejam quais forem as dificuldades, não permitiremos a vitória da violência nos assuntos dos homens; o rumo da história será determinado por pessoas livres.
Hoje, o maior perigo na guerra contra o terror, o perigo mais grave diante da América e do mundo, é aquele formado pelos regimes fora-da-lei que buscam e possuem armas nucleares, químicas e biológicas.
Esses regimes podem usar tais armas para chantagem, terror e assassinatos em massa. Eles podem dar ou vender essas armas a aliados terroristas, que as utilizariam sem a menor hesitação.
A ameaça é nova, mas o dever da América é conhecido.
Durante todo o século 20, pequenos grupos de homens tomaram controle de grandes países, construíram Exércitos e arsenais e saíram para dominar os fracos e intimidar o mundo. Em cada caso, suas ambições de crueldade e morte não conheciam limites. Em cada um desses casos, as ambições do hitlerismo, do militarismo e do comunismo foram derrotadas pela vontade dos povos livres, pela força das grandes alianças e pelo poderio dos Estados Unidos da América.
Agora, neste século, a ideologia do poder e da dominação voltou a aparecer e busca obter as maiores armas do terror. Mais uma vez, este país e nossos amigos são tudo o que se interpõe entre um mundo de paz e um mundo de caos e alarme constantes. Mais uma vez, somos chamados a defender a segurança de nossa população e as esperanças de toda a humanidade. E aceitamos essa responsabilidade.
A América está fazendo um esforço amplo e determinado para fazer frente a esses perigos.
Convocamos a ONU para cumprir o previsto em sua carta e reafirmar sua exigência de que o Iraque se desarme. Apoiamos fortemente a Agência Internacional de Energia Atômica em sua missão de rastrear e controlar as armas nucleares em todo o mundo. Trabalhamos em conjunto com outros governos para garantir a segurança dos materiais nucleares na antiga União Soviética e para reforçar os tratados globais que proíbem a produção e o embarque de tecnologias de mísseis e armas de destruição em massa.
Em todos esses esforços, porém, o objetivo da América é mais do que seguir um processo. É alcançar um resultado: o fim das ameaças terríveis ao mundo civilizado.
Todo os países livres têm interesse em prevenir ataques repentinos e catastróficos, e estamos pedindo a eles que se unam a nós. Muitos o estão fazendo.
No entanto o caminho deste país não depende das decisões de outros. Seja qual for a ação necessária, onde uma ação for necessária, eu defenderei a liberdade e a segurança da população americana.
Ameaças diferentes pedem estratégias distintas. No Irã, continuamos a ver um governo que reprime seus cidadãos, busca armas de destruição em massa e apóia o terror. Também vemos cidadãos iranianos desafiando intimidações e a morte por erguerem suas vozes em nome da liberdade, dos direitos humanos e da democracia. Os iranianos, como todas as pessoas, têm o direito de escolher seu próprio governo e de determinar seu próprio destino, e os Estados Unidos apóiam suas aspirações de viver em liberdade.
Na península coreana, um regime opressor governa um povo que convive com o medo e a fome. Durante toda a década de 90, os Estados Unidos recorreram a negociações constantes para impedir que a Coréia do Norte obtivesse armas nucleares. Agora sabemos que o regime estava enganando o mundo e desenvolvendo essas armas, o tempo todo. E hoje o regime norte-coreano está utilizando seu programa nuclear para incitar o medo e buscar concessões.
A América e o mundo não se deixarão chantagear.
A América está cooperando com os países da região -Coréia do Sul, Japão, China e Rússia- para encontrar uma solução pacífica e mostrar ao governo norte-coreano que armas nucleares lhe trarão apenas isolamento, estagnação econômica e carências contínuas. O regime norte-coreano encontrará respeito no mundo e chances de recuperação para seu povo apenas quando der as costas a suas ambições nucleares.
Nosso país e o mundo precisam aprender a lição dada pela península coreana e não permitir que uma ameaça ainda maior surja no Iraque. Um ditador brutal, dono de um histórico de agressões brutais, com vínculos com o terrorismo e dono de grande riqueza potencial, não será autorizado a dominar uma região vital e ameaçar os Estados Unidos.
Há 12 anos, Saddam Hussein enfrentou a perspectiva de se tornar a última baixa de uma guerra que ele próprio iniciara e perdera. Para poupar-se, ele concordou em destruir todas as armas de destruição em massa de seu país. Ao longo dos 12 anos seguintes, ele violou esse acordo sistematicamente. Buscou obter armas químicas, biológicas e nucleares mesmo enquanto os inspetores estavam em seu país.
Até hoje, nada o restringiu em sua busca por essas armas: nem as sanções econômicas, nem o isolamento do Irã em relação ao mundo civilizado e nem mesmo os ataques com mísseis de cruzeiro contra suas instalações militares.
Há quase três meses, o Conselho de Segurança da ONU deu a Saddam Hussein sua chance final de fazer o desarmamento. Em lugar disso, ele vem demonstrando desprezo total pela ONU e pela opinião do mundo.
Os 108 inspetores de armas da ONU não foram enviados para conduzir uma ""caça ao tesouro" por materiais escondidos num país do tamanho da Califórnia. O trabalho dos inspetores é verificar se o regime iraquiano está fazendo o desarmamento.
Cabe ao Iraque mostrar exatamente onde está escondendo suas armas proibidas, abrir essas armas para o mundo ver e destrui-las, conforme lhe for mandado. Não aconteceu nada desse tipo.
Em 1999, a ONU concluiu que Saddam Hussein possuía materiais para fabricar armas biológicas em quantidade suficiente para produzir mais de 25 mil litros de antraz, doses suficientes para matar vários milhões de pessoas. Ele ainda não mostrou ou explicou o que foi feito desses materiais. Não ofereceu prova alguma de que os tenha destruído.
A ONU concluiu que Saddam Hussein possuía materiais suficiente para produzir mais de 38 mil litros de toxina botulínica, o suficiente para sujeitar milhões de pessoas à morte por parada respiratória. Ele não mostrou ou explicou o que foi feito desse material. Não ofereceu prova alguma de que o tenha destruído.
Nossos agentes de inteligência estimam que Saddam Hussein possuía materiais suficientes para produzir até 500 toneladas dos gases sarin, mostarda e VX. Em quantidades dessa ordem, esses gases tóxicos poderiam matar incontáveis milhares de pessoas. Saddam Hussein não explicou ou mostrou o que foi feito desses materiais. Não ofereceu prova alguma de que os tenha destruído.
Os serviços de inteligência americanos indicam que Saddam Hussein possuía mais de 30 mil ogivas capazes de ser carregados com agentes químicos. Recentemente os inspetores de armas da ONU encontraram 16 delas, apesar da recente declaração do Iraque negando sua existência. Saddam Hussein não mostrou ou explicou o que foi feito das 29.984 ogivas remanescentes. Ele não ofereceu prova alguma de que as tenha destruído.
Por meio de três desertores iraquianos, sabemos que o Iraque, no final dos anos 90, possuía vários laboratórios móveis de armas biológicas. Estes eram projetados para produzir agentes de guerra biológica e podem ser deslocados de um lugar a outro para fugir dos inspetores. Saddam Hussein não revelou ou mostrou essas instalações. Ele não ofereceu prova alguma de que as tenha destruído.
A AIEA confirmou, nos anos 90, que Saddam Hussein tinha um programa avançado de desenvolvimento de armas nucleares, que ele possuía o desenho de uma arma nuclear e estava trabalhando sobre cinco métodos diferentes de enriquecimento de urânio para produzir uma bomba.
O governo britânico ficou sabendo que Saddam Hussein recentemente buscou obter quantidades significativas de urânio da África. Nossas fontes de inteligência nos dizem que ele procurou adquirir tubos de alumínio reforçados, adequados para a produção de armas nucleares. Saddam Hussein não ofereceu nenhuma explicação digna de crédito sobre essas atividades. Fica claro que ele tem muito o que esconder.
O ditador do Iraque não está se desarmando. Pelo contrário, está enganando. Sabemos por fontes de inteligência, por exemplo, que milhares de agentes de segurança iraquianos estão trabalhando para esconder documentos e materiais dos inspetores da ONU, fazendo a faxina em locais de inspeção e monitorando os próprios inspetores.
Representantes iraquianos acompanham os inspetores para poder intimidar as testemunhas. O Iraque está impedindo a realização dos vôos de vigilância com aviões U-2 solicitados pela ONU. Agentes de inteligência iraquianos estão se fazendo passar pelos cientistas que os inspetores deveriam entrevistar. Os cientistas de fato foram instruídos pelo governo iraquiano quanto ao que devem dizer.
Fontes de inteligência indicam que Saddam Hussein ordenou que sejam mortos, juntamente com seus familiares, os cientistas que cooperarem com os inspetores da ONU no desarmamento do Iraque.
Ano após ano, Saddam Hussein tem se dado a um trabalho muito grande, gastado valores enormes e assumido grandes riscos para fabricar e manter armas de destruição em massa. Por quê? A única explicação possível, o único uso possível que ele poderia ter para essas armas seria o de dominar, intimidar ou atacar.
Com armas nucleares ou um arsenal repleto de armas químicas e biológicas, Saddam Hussein poderia retomar suas ambições de conquista no Oriente Médio e criar devastação mortal naquela região.
Este Congresso e a população americana precisam reconhecer outra ameaça. Evidências obtidas por fontes de inteligência, comunicações secretas e declarações de pessoas que hoje se encontram detidas revelam que Saddam Hussein ajuda e protege terroristas, incluindo integrantes da Al Qaeda. Secretamente, e sem deixar impressões digitais, ele poderia entregar aos terroristas uma de suas armas escondidas ou ajudá-los a desenvolver suas próprias.
Antes de 11 de setembro, muitos no mundo acreditavam que fosse possível conter Saddam Hussein. Mas armas químicas, vírus letais e redes terroristas que atuam na sombra não são facilmente contidos. Imaginem aqueles 19 sequestrados munidos de outras armas e outros planos, desta vez armados por Saddam Hussein. Levaria apenas um tubo de ensaio, uma lata, um engradado introduzidos neste país para provocar um dia de horror diferente de qualquer coisa que já vimos.
Faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para assegurar que esse dia nunca chegue.
Alguns já disseram que não devemos agir até a ameaça ser iminente. Desde quando terroristas e tiranos anunciam suas intenções com antecedência? Se se permitir que esta ameaça surja de maneira repentina e plena, todas as ações, as palavras e as recriminações chegariam tarde demais. Confiar na sanidade e na capacidade de restrição própria de Saddam Hussein não é uma estratégia e não é uma opção.
O ditador que está montando as armas mais perigosas do mundo já as utilizou contra povoados inteiros, deixando milhares de seus próprios conterrâneos mortos, cegos ou desfigurados.
Refugiados iraquianos nos contam como são obtidas as confissões forçadas: pela tortura de crianças enquanto seus pais são obrigados a assistir. Grupos internacionais de defesa dos direitos humanos já catalogaram outros métodos utilizados nas câmaras de tortura do Iraque: eletrochoques, queimadura com ferros em brasa, pingar ácido sobre a pele, mutilação com serras elétricas, cortar fora a língua das vitimas, estupro. Se isso não é o mal, então o mal não possui significado.
Hoje tenho uma mensagem a transmitir ao povo bravo e oprimido do Iraque: seu inimigo não está cercando seu país, ele está governando-o. E o dia em que ele e seu regime forem removidos do poder será o dia de sua libertação.
O mundo esperou 12 anos para o Iraque se desarmar. A América não aceitará a ameaça grave e crescente contra nosso país, nossos amigos e aliados. Os Estados Unidos vão pedir ao Conselho de Segurança da ONU que se reúna em 5 de fevereiro para analisar os fatos relativos ao desafio ao mundo manifestado hoje pelo Iraque. O secretário de Estado, Colin Powell, vai apresentar informações sobre os programas ilegais de armas do Iraque, suas tentativas de esconder essas armas dos inspetores e seus vínculos com grupos terroristas.
Vamos realizar uma consulta, mas que não haja nenhum mal-entendido: se Saddam Hussein não se desarmar completamente para a segurança de nossa população e para a segurança do mundo, vamos liderar uma coalizão para desarmá-lo.
Hoje envio uma mensagem aos homens e mulheres que vão manter a paz, membros das Forças Armadas americanas. Muitos de vocês estão se reunindo no Oriente Médio ou na região, e é possível que momentos cruciais os aguardem pela frente. Nessas horas, o êxito de nossa causa vai depender de vocês. O treinamento que receberam os preparou. Sua honra irá guiá-los. Vocês crêem na América, e a América crê em vocês.
Enviar americanos para a batalha é a decisão mais profunda que um presidente pode tomar. As tecnologias da guerra mudaram. Os riscos e os sofrimentos da guerra não. Para os americanos bravos que suportarem esse risco, nenhuma vitória será livre de tristeza. Este país combate com relutância porque nós conhecemos o custo da guerra e porque antevemos com pesar os dias de luto que sempre chegam depois.
Buscamos a paz. Lutamos pela paz. E, às vezes, a paz precisa ser defendida. Um futuro vivido à mercê de ameaças terríveis não representa paz alguma. Se a guerra for imposta a nós, vamos combater com toda a força e o poderio das Forças Armadas americanas, e vamos vencer.
Como nós e nossos parceiros de coalizão estamos fazendo no Afeganistão, vamos levar aos iraquianos alimentos, medicamentos, provisões e liberdade.
Muitos desafios, tanto no exterior quanto em nosso próprio país, chegaram numa só temporada. Em dois anos, a América passou de um sentimento de invulnerabilidade para a consciência do perigo, da divisão acirrada em assuntos menores para a calma unidade em torno das grandes causas. E seguimos adiante com confiança, porque esse chamado da história foi lançado ao país certo.
Os americanos somos um povo resoluto, um povo que já reagiu positivamente a todos os testes que o tempo lhe propôs. A adversidade revelou o verdadeiro caráter de nosso país ao mundo e a nós mesmos.
A América é um país forte e honrado no uso de nossa força. Exercemos o poder sem conquista, e nos sacrificamos em nome da liberdade de estranhos.
Os americanos somos um povo livre, que sabe que a liberdade é o direito de cada ser humano e o futuro de cada nação. A liberdade que prezamos não é a dádiva da América ao mundo, mas a dádiva de Deus à humanidade.
Nós, americanos, temos fé em nós mesmos, mas não apenas em nós mesmos. Não afirmamos ter conhecimento de tudo o que a Providência nos reserva, mas podemos confiar nela, depositando nossa confiança no Deus amoroso que está por trás de toda a vida e de toda a história.
Que Ele possa nos guiar agora, e que Deus continue a abençoar os Estados Unidos da América.
Obrigado.

Tradução de Clara Allain


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