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CHILE
Em entrevista ao "El Mercurio", cabo, hoje na reserva, diz ter presenciado morte de presos em 73 e sua exumação, em 78
Militar relata execuções na era Pinochet
DA REDAÇÃO
Um cabo aposentado do Exército chileno admitiu ontem ter
presenciado o assassinato -e
posterior exumação- de assessores e seguranças do presidente
Salvador Allende, logo após o golpe de Estado comandado pelo general Augusto Pinochet, em 1973.
Em entrevista ao diário "El Mercurio", Eliseo Cornejo Escobedo,
hoje com 62 anos, afirmou que, à
época, era um militar de baixa patente que estava apenas seguindo
ordens e disse não ter tido participação direta nem na morte nem
na exumação dos corpos.
Ele afirmou ter conduzido um
veículo com 21 prisioneiros, detidos no palácio de La Moneda logo
após o golpe, para a base militar
de Peldehue (20 km ao norte de
Santiago), onde testemunhou sua
execução e seu enterro em uma
vala comum.
"Eles os tiravam do veículo um
de cada vez, como eu disse ao juiz,
e os executavam sem vendar seus
olhos", disse Escobedo ao diário
chileno. "Havia um imenso buraco... e eles os jogavam lá."
Exumação
Na quarta-feira da semana passada, Escobedo e outros quatro
ex-oficiais foram indiciados pelo
juiz Juan Carlos Urrutia, responsável pela investigação sobre o paradeiros de vários profissionais e
seguranças que trabalhavam com
o presidente Allende -que se
matou durante o golpe, em 11 de
setembro de 1973.
Segundo o cabo, cinco anos depois, em 1978, seus superiores lhe
ordenaram que identificasse o local da sepultura.
Os militares teriam usado uma
escavadeira até que o primeiro
corpo fosse encontrado, quando,
então, continuaram o trabalho
usando pás ou as próprias mãos,
afirmou Escobedo.
Pesadelos
"Os corpos estavam praticamente inteiros. A terra estava tão
compacta que não chegou a entrar oxigênio ali, o que acabou por
preservá-los", disse Escobedo.
"Mas, à medida que os corpos
apareciam, eles se decompunham
rapidamente. Para suportar o
cheiro, foi distribuído álcool aos
homens", afirmou.
"Os militares os colocaram em
sacos para que não se desfizessem. Em seguida, embarcaram
em um helicóptero. É tudo o que
sei", disse Escobedo.
O cabo da reserva também afirmou que, mais tarde, passou a ter
pesadelos e teve de se submeter a
tratamento psiquiátrico.
A entrevista de Escobedo é o
mais detalhado testemunho sobre
esse caso já publicado no Chile e
ocorre quando o governo apresenta uma proposta para resolver
a questão dos direitos humanos
que deve coincidir com o aniversário de 30 anos do golpe.
O general Augusto Pinochet governou o Chile até 1990, promovendo a abertura econômica do
país. Nesse período, 3.197 pessoas
morreram ou desapareceram, segundo relatório da Comissão de
Verdade e Reconciliação, criada
em 1990.
Segundo o Exército chileno, militares e funcionários do governo
também morreram em enfrentamentos com terroristas de esquerda.
Em 1998, Pinochet foi preso em
Londres, quando o juiz espanhol
Baltasar Garzón pediu a extradição do ex-ditador para julgá-lo
por crimes contra a humanidade
cometidos durante seu regime.
Em 2000, o Reino Unido decidiu
libertá-lo. Pinochet voltou ao Chile e, em dezembro do mesmo ano,
foi preso, acusado de co-autoria
no caso "Caravana da Morte"
-uma missão que percorreu o
país e fuzilou sumariamente 75
presos políticos em outubro de
1973, pouco depois de ter assumido o poder.
Em 2001, a acusação de "autoria
intelectual" foi rebaixada para
"acobertamento" dos crimes, o
que levou a Justiça a ordenar a liberdade provisória de Pinochet,
que cumpria prisão domiciliar.
Com agências internacionais
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