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AMÉRICA LATINA
Paraguai detém o ex-general após seu anunciado retorno ao país, onde é acusado de golpismo e assassinato
Oviedo volta, jura inocência e é preso
Jorge Saenz/Associated Press
![](../images/e3006200401.jpg) |
O ex-general Lino César Oviedo (centro) é escoltado pela polícia ao desembarcar no Paraguai |
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A FOZ DO IGUAÇU E A ASSUNÇÃO
Sob um forte esquema de segurança e de marketing, o ex-general Lino Oviedo, 60, desembarcou
ontem no Paraguai após um exílio
de cinco anos. Condenado a dez
anos por uma tentativa de golpe e
acusado de ligação com o assassinato do vice-presidente Luis María Argaña, em 1999, ele saiu preso
do avião, vindo do Brasil.
Nas últimas semanas, após
anunciar a data de sua volta, o ex-general concedeu entrevistas negando as acusações e afirmando
confiar na renovada Corte Suprema de Justiça, que recentemente
trocou seis de seus nove juízes.
A estratégia de marketing atingiu o ápice ontem, durante a curta
viagem, em vôo comercial, entre
Foz do Iguaçu (PR), cidade fronteiriça onde Oviedo estava morando, e a capital paraguaia.
Patrocinados por um vereador
de Ciudad del Este, cerca de 200
manifestantes paraguaios aguardavam o ex-general no acesso ao
aeroporto de Foz com bandeiras,
música típica e duas enormes pinturas -numa delas, Oviedo está
ao lado de um leão.
No inevitável discurso, realizado em guarani, de cima de uma
camionete, o ex-general, envolto
na bandeira paraguaia, voltou a
alegar inocência e deixou claras as
suas pretensões políticas: "No futuro, serei presidente do Paraguai", disse, segundo traduziu
uma simpatizante à Folha. O ex-general foi ovacionado.
"Se este homem pisar no Paraguai, será presidente", disse o motorista Mario Roa, 47.
Já no aeroporto, um humorista
da TV paraguaia entregou a Oviedo o troféu "Cagada da Semana",
simbolizado por uma pequena
privada pintada de ouro.
A estátua ficou cerca de cinco
segundos nas mãos de Oviedo, de
onde foi tirada por um assessor.
Sem perder a pose, ele agradeceu
a "manifestação democrática".
"Ele ganhou o prêmio porque
vai se entregar a uma Justiça que
não vai lhe dar um tratamento
justo. Isso é uma cagada", disse
Julián Croco, que realizou a cerimônia em nome do popular programa "Terceiro Olho".
O momento mais tenso ocorreu
durante a checagem de documentos da Polícia Federal. O agente se
negou a liberar o ex-general sob a
alegação de que ele teria de entregar um salvo-conduto.
Assustado, Oviedo disse que tinha direito de ir e vir porque "era
um cidadão do Mercosul" e pediu
que o policial entrasse em contato
com o governo.
O impasse só foi resolvido alguns minutos depois. Segundo
um advogado de Oviedo, houve
um equívoco por parte do agente.
Durante o vôo, aplausos quando o avião cruzou o rio Paraná e
ao chegar ao aeroporto de Assunção. Quase todas as poltronas estavam ocupadas em torno de
Oviedo -sua mulher, políticos
paraguaios, amigos e a imprensa
-alguns jornalistas tiveram a
passagem paga pelo ex-general.
Quatro agentes da Polícia Nacional paraguaia ocupavam a primeira fileira.
No aeroporto, esperavam na
pista e na saída do túnel de desembarque cerca de 14 policiais
fortemente armados e oficiais do
Exército. Depois de cerca de 30
minutos de empurra-empurra e
algum impasse, Oviedo foi escoltado sem algemas até uma ambulância. Em seguida, embarcou
num helicóptero até o presídio
militar Viñas Cué, em Assunção.
"Foi um verdadeiro seqüestro",
disse o senador Alejandro Velázquez Ugarte, da Unace (União
Nacional dos Cidadãos Éticos),
partido de oposição fundado por
Oviedo que tem a terceira maior
bancada no Congresso.
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