São Paulo, quarta-feira, 30 de junho de 2004

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AMÉRICA LATINA

Paraguai detém o ex-general após seu anunciado retorno ao país, onde é acusado de golpismo e assassinato

Oviedo volta, jura inocência e é preso

Jorge Saenz/Associated Press
O ex-general Lino César Oviedo (centro) é escoltado pela polícia ao desembarcar no Paraguai


FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A FOZ DO IGUAÇU E A ASSUNÇÃO

Sob um forte esquema de segurança e de marketing, o ex-general Lino Oviedo, 60, desembarcou ontem no Paraguai após um exílio de cinco anos. Condenado a dez anos por uma tentativa de golpe e acusado de ligação com o assassinato do vice-presidente Luis María Argaña, em 1999, ele saiu preso do avião, vindo do Brasil.
Nas últimas semanas, após anunciar a data de sua volta, o ex-general concedeu entrevistas negando as acusações e afirmando confiar na renovada Corte Suprema de Justiça, que recentemente trocou seis de seus nove juízes.
A estratégia de marketing atingiu o ápice ontem, durante a curta viagem, em vôo comercial, entre Foz do Iguaçu (PR), cidade fronteiriça onde Oviedo estava morando, e a capital paraguaia.
Patrocinados por um vereador de Ciudad del Este, cerca de 200 manifestantes paraguaios aguardavam o ex-general no acesso ao aeroporto de Foz com bandeiras, música típica e duas enormes pinturas -numa delas, Oviedo está ao lado de um leão.
No inevitável discurso, realizado em guarani, de cima de uma camionete, o ex-general, envolto na bandeira paraguaia, voltou a alegar inocência e deixou claras as suas pretensões políticas: "No futuro, serei presidente do Paraguai", disse, segundo traduziu uma simpatizante à Folha. O ex-general foi ovacionado.
"Se este homem pisar no Paraguai, será presidente", disse o motorista Mario Roa, 47.
Já no aeroporto, um humorista da TV paraguaia entregou a Oviedo o troféu "Cagada da Semana", simbolizado por uma pequena privada pintada de ouro.
A estátua ficou cerca de cinco segundos nas mãos de Oviedo, de onde foi tirada por um assessor. Sem perder a pose, ele agradeceu a "manifestação democrática".
"Ele ganhou o prêmio porque vai se entregar a uma Justiça que não vai lhe dar um tratamento justo. Isso é uma cagada", disse Julián Croco, que realizou a cerimônia em nome do popular programa "Terceiro Olho".
O momento mais tenso ocorreu durante a checagem de documentos da Polícia Federal. O agente se negou a liberar o ex-general sob a alegação de que ele teria de entregar um salvo-conduto.
Assustado, Oviedo disse que tinha direito de ir e vir porque "era um cidadão do Mercosul" e pediu que o policial entrasse em contato com o governo.
O impasse só foi resolvido alguns minutos depois. Segundo um advogado de Oviedo, houve um equívoco por parte do agente.
Durante o vôo, aplausos quando o avião cruzou o rio Paraná e ao chegar ao aeroporto de Assunção. Quase todas as poltronas estavam ocupadas em torno de Oviedo -sua mulher, políticos paraguaios, amigos e a imprensa -alguns jornalistas tiveram a passagem paga pelo ex-general. Quatro agentes da Polícia Nacional paraguaia ocupavam a primeira fileira.
No aeroporto, esperavam na pista e na saída do túnel de desembarque cerca de 14 policiais fortemente armados e oficiais do Exército. Depois de cerca de 30 minutos de empurra-empurra e algum impasse, Oviedo foi escoltado sem algemas até uma ambulância. Em seguida, embarcou num helicóptero até o presídio militar Viñas Cué, em Assunção.
"Foi um verdadeiro seqüestro", disse o senador Alejandro Velázquez Ugarte, da Unace (União Nacional dos Cidadãos Éticos), partido de oposição fundado por Oviedo que tem a terceira maior bancada no Congresso.


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