São Paulo, quinta-feira, 30 de junho de 2005

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ORIENTE MÉDIO

Ex-militar cuja empresa foi contratada para organizar a saída israelense diz que é contra e prevê confrontos

"Gerente" da retirada de Gaza ataca plano

MICHEL GAWENDO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DA REGIÃO DE ESHKOL (GAZA)

"Se eu ainda estivesse no Exército, sairia do meu cargo por causa do plano de retirada de Gaza", disse ontem à Folha Tzika Foghel, que até o ano passado era o chefe do comando sul do Exército israelense e que agora, como profissional de logística, foi escolhido pelo governo para coordenar operações civis durante o plano do premiê Ariel Sharon.
"Vou cumprir minha função como planejador profissional. Mas eu sou "laranja'", disse ele, em referência à cor usada pelos simpatizantes dos colonos em protestos contra a retirada.
"Os comandantes vão sofrer com os muitos soldados que vão se recusar a cumprir ordens de tirar os assentamentos. Eu estou aliviado por não ter de enfrentar esse problema", afirmou Foghel, em uma tenda na região desértica da fronteira entre Israel e Gaza.
Entre suas funções estão a montagem do centro de mídia estrangeira que funcionará durante a retirada e a coordenação das rotas para milhares de carros de jornalistas, moradores, veículos militares e caminhões com a mudança dos colonos nas estradas de mão dupla da região de Eshkol.
Foghel afirma ser contra a retirada porque acha que, sem a presença militar de Israel, os grupos terroristas palestinos vão assumir o controle de Gaza.
"A Autoridade Nacional Palestina não terá nenhum poder lá. E o Exército de Israel vai ter de voltar a agir em Gaza", disse. "Esse plano resulta de interesses econômicos sobre Sharon, e nosso governo não tem visão de longo prazo. Os políticos, como sempre, estão pensando só no curto prazo."
"Estamos simplesmente fechando o portão [de Gaza] e jogando a chave fora. Isso só daria certo se os egípcios participassem. Só os países árabes sabem lidar com o terrorismo. Só árabes sabem lidar com árabes", disse.
As comunidades agrícolas da região de Eshkol, onde cada família tem seu negócio privado e os serviços de cultura, educação e saúde são compartilhados, estão se preparando para ataques palestinos após a retirada, programada para começar em 15 de agosto.
"Estamos construindo abrigos contra disparos de foguetes Qassam e novas cercas ao redor das comunidades", disse Uri Naamati, administrador do conselho regional local. "Temos de estar preparados para o período logo após o plano", afirmou.
Uma dessas comunidades, chamada Kerem Shalom, que faz limite na fronteira com Gaza, vai erguer um muro de concreto para se proteger de disparos a partir do território palestino. O custo estimado é de US$ 40 milhões.
Mas Naamati ressalta os ganhos econômicos com a chegada de até 8.000 jornalistas à região entre meados de julho e setembro.
"Temos 12 mil quartos disponíveis em hotéis e hospedarias, e todas as acomodações estarão tomadas. Os restaurantes e mercados vão fazer mais negócios. Também vamos ter muitos empregos, pelo menos durante dois meses", afirmou, em encontro com jornalistas convidados para conhecer os serviços da região.
Entre as 29 comunidades que formam o conselho, nove foram formadas por colonos retirados de assentamentos judaicos do Sinai em 1982, quando o território foi devolvido ao Egito como parte de um acordo de paz.
Agora, Naamati quer receber colonos de Gaza. Ele autorizou a construção de casas temporárias para 200 famílias -ou cerca de 900 dos 8.000 judeus que, por enquanto, moram no território costeiro espremidos entre 1,3 milhão de palestinos.
A infra-estrutura de saneamento e comunicação está pronta sob o terreno arenoso da comunidade de Ievul, em meio a plantações de figo-da-índia com irrigação artificial e estufas. "Quero que os colonos de Gaza venham. São pessoas com alto nível de educação, muito produtivas", disse Naamati.


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