São Paulo, quinta, 30 de julho de 1998

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COMENTÁRIO
Caso abala imagem do ex-premiê González

CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial

Antes mesmo de a Suprema Corte espanhola condenar o ex-ministro do Interior, José Barrionuevo, seu partido (o PSOE -Partido Socialista Operário Espanhol) já tentava armar uma barricada para evitar que o escândalo ferisse mortalmente seu líder histórico, o ex-premiê Felipe González.
Vai ser difícil. Primeiro, porque os fatos que levaram à condenação de Barrionuevo ocorreram durante o prolongado reinado de González (82/96) e é pouco verossímil que o primeiro-ministro pudesse ficar alheio à ação ilegal de seus auxiliares diretos.
Segundo, porque já chega a 12 o número de funcionários e policiais ou ex-policiais condenados no chamado caso GAL (Grupos Antiterroristas de Libertação).
A sequência de condenações parece indicar que a Justiça espanhola não tem dúvidas de que as operações eram de fato ilegais.
Não resta, assim, ao PSOE outra alternativa se não a de semear a desconfiança no aparelho judicial, como o fez ontem mesmo o secretário-geral do partido, Joaquín Almunia, ao afirmar que "não se pode confiar na Justiça".
Não é a toa que um dos mais duradouros líderes políticos espanhóis, Jordi Pujol, presidente do governo da Catalunha (norte do país), peça agora moderação à classe política, para evitar que o episódio se transforme em crise institucional.
Afinal, quando um partido do porte do PSOE desconfia da Justiça, o país fica claramente a um passo de enfrentar uma crise institucional.
A única arma de defesa do PSOE e de González é a confissão feita tempos atrás por um dos envolvidos (José Maria Ansón, ex-diretor do conservador matutino ABC) de que ele e o diretor do jornal "El Mundo" (Pedro J. Ramírez) promoveram uma conspiração para abalar o poder de González.
O difícil vai ser provar que a Justiça, ao punir duramente funcionários socialistas graduados, como Barrionuevo, é parte da conspiração.



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