São Paulo, Sexta-feira, 30 de Julho de 1999
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JUSTIÇA
Em decisão histórica, presidente terá de pagar US$ 90.686 por dizer que não teve relações sexuais com Lewinsky
Juíza multa Bill Clinton por mentir

RENATO FRANZINI
de Nova York

Numa decisão sem precedentes na história dos EUA, uma juíza federal multou ontem o presidente Bill Clinton em US$ 90.686 por ele ter dado falso testemunho sobre seu relacionamento com a ex-estagiária da Casa Branca Monica Lewinsky.
Foi a primeira sanção legal desse gênero sofrida por um presidente dos EUA nos exercícios das funções executivas.
A juíza Susan Webber Wright, de Arkansas (centro-sul dos EUA), considerou que Clinton deu "respostas falsas, que induzem ao erro e evasivas e que tinham como objetivo obstruir o processo judicial" em testemunho feito sob juramento.
A decisão de punir o presidente foi divulgada em 12 de abril. Ontem, foi divulgada a punição.
O advogado de Clinton, Robert Bennett, não recorreu da decisão e disse ontem que o presidente pagaria a multa com dinheiro de um fundo criado para a sua defesa. "Aceitamos o julgamento e vamos obedecê-lo", afirmou.
O falso testemunho foi dado em janeiro de 1998, no julgamento civil em que a ex-funcionária pública Paula Jones acusava o presidente de tê-la assediado sexualmente em 1991. Na época, Clinton era governador de Arkansas e ela, funcionária do Estado.
Os advogados de Jones convocaram o presidente para depor sobre Monica Lewinsky porque sua atitude no caso (manter relações com uma subordinada) teria relação com o caso de Jones.
A juíza considerou que Clinton "desrespeitou a corte" ao dizer "nunca ter tido relações sexuais" com Lewinsky. Um exame posterior de DNA no vestido da ex-estagiária identificou esperma do presidente.
"As sanções são impostas não só para deter outros que possam pensar em copiar a má conduta do presidente, mas também para compensar a acusadora ao requerer que o presidente pague a ela por gastos causados por ter deliberadamente ignorado ordens do tribunal", disse a juíza.
Dos US$ 90.686, US$ 1.202 referem-se à viagem da juíza a Washington para tomar o depoimento de Clinton. Outros US$ 89.484 irão para Jones.
A firma de advocacia que representou Jones havia pedido US$ 437.825. John W. Whitehead e o Rutherford Institute, que também auxiliaram Jones, haviam pedido US$ 58.533,03 para o pagamento de contas relacionadas ao processo. A defesa de Clinton queria pagar US$ 33.737.
Ela considerou que os advogados não deveriam ser ressarcidos de todos seus gastos com o processo porque as partes já haviam chegado a um acordo. Em novembro, Clinton concordou em pagar US$ 850 mil para que Jones retirasse a acusação.
Clinton já havia embarcado no avião que o levaria para uma conferência na Europa quando a decisão foi divulgada, pela manhã. Até as 20h30 de ontem (horário de Brasília), a Casa Branca não havia comentado o caso.


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