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POLÔNIA
O líder e ex-presidente Lech Walesa ficou sozinho
Sindicato Solidariedade completa 20 anos com disputas internas
PIOTR ADAMSKI
DO "EL PAÍS", EM VARSÓVIA
Há 20 anos, encontrar numa
mesma mesa membros da nascente oposição e do poder comunista parecia um milagre. Hoje,
reunir os protagonistas da assinatura histórica dos acordos de
Gdansk seria impossível.
O ex-presidente Lech Walesa
(1990-1995), os sindicalistas Anna
Walentynowicz e Andrzej Gwiazda, seus assessores e os representantes do comunismo, Mieczyslaw Jagielski e Tadeusz Fiszbach,
estão separados por desavenças
políticas inconciliáveis e, em alguns casos, por ódio mortal.
As contínuas lutas internas, as
calúnias trocadas entre os líderes
e um exercício desastroso do poder durante os últimos três anos
transformaram o sindicato Solidariedade (1 milhão de associados, um décimo do que possuía
em 1980) e Walesa (apenas 4%
das intenções de voto para a Presidência da Polônia) em pouco
mais do que uma triste sombra de
seus tempos de glória.
O Solidariedade era um sindicato independente, o primeiro a ser
reconhecido em um regime do
chamado socialismo real. Os grevistas do estaleiro de Gdansk
(norte) conseguiram do governo
comunista o direito de greve, e
seu movimento minou o poder
comunista na Polônia, o que contribuiu para a derrocada do bloco
soviético.
Lech Walesa
Nos últimos meses houve conflito até para decidir quem seria
convidado para a cerimônia do
20º aniversário do sindicato. A lista de convidados oficiais, feita pela atual cúpula do Solidariedade,
brilha pela ausência do nome de
Adam Michnik, um dos intelectuais que apoiaram os trabalhadores na greve de 1980 e um dos
mais famosos líderes da antiga
oposição aos comunistas.
É uma incógnita ainda a participação do próprio Lech Walesa,
que acusa o atual líder do sindicato, Marian Krzaklweski, de "ter se
apropriado" indevidamente das
cerimônias. "Não podemos imaginar sua ausência durante as festividades", disse o organizador.
Krzaklweski e Walesa têm travado uma guerra na atual campanha presidencial. Parece que já
não há quem queira Walesa, e não
é a primeira vez que ele luta contra seus antigos aliados.
Uma das vítimas iniciais de sua
insaciável ânsia de poder foi Anna
Walentynowicz, cujo desnudamento foi o estopim da greve. Teria sido ela também a pessoa que
impediu o fim da mobilização.
Após quatro dias de protesto, as
autoridades polonesas atenderam
às reivindicações.
Walesa decidiu concorrer ao
primeiro mandato em junho de
1990. Todos que se opuseram foram convertidos em inimigos
mortais. Acabou isolado em 1992.
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