São Paulo, quarta-feira, 30 de agosto de 2000


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POLÔNIA
O líder e ex-presidente Lech Walesa ficou sozinho
Sindicato Solidariedade completa 20 anos com disputas internas

PIOTR ADAMSKI
DO "EL PAÍS", EM VARSÓVIA

Há 20 anos, encontrar numa mesma mesa membros da nascente oposição e do poder comunista parecia um milagre. Hoje, reunir os protagonistas da assinatura histórica dos acordos de Gdansk seria impossível.
O ex-presidente Lech Walesa (1990-1995), os sindicalistas Anna Walentynowicz e Andrzej Gwiazda, seus assessores e os representantes do comunismo, Mieczyslaw Jagielski e Tadeusz Fiszbach, estão separados por desavenças políticas inconciliáveis e, em alguns casos, por ódio mortal.
As contínuas lutas internas, as calúnias trocadas entre os líderes e um exercício desastroso do poder durante os últimos três anos transformaram o sindicato Solidariedade (1 milhão de associados, um décimo do que possuía em 1980) e Walesa (apenas 4% das intenções de voto para a Presidência da Polônia) em pouco mais do que uma triste sombra de seus tempos de glória.
O Solidariedade era um sindicato independente, o primeiro a ser reconhecido em um regime do chamado socialismo real. Os grevistas do estaleiro de Gdansk (norte) conseguiram do governo comunista o direito de greve, e seu movimento minou o poder comunista na Polônia, o que contribuiu para a derrocada do bloco soviético.

Lech Walesa
Nos últimos meses houve conflito até para decidir quem seria convidado para a cerimônia do 20º aniversário do sindicato. A lista de convidados oficiais, feita pela atual cúpula do Solidariedade, brilha pela ausência do nome de Adam Michnik, um dos intelectuais que apoiaram os trabalhadores na greve de 1980 e um dos mais famosos líderes da antiga oposição aos comunistas.
É uma incógnita ainda a participação do próprio Lech Walesa, que acusa o atual líder do sindicato, Marian Krzaklweski, de "ter se apropriado" indevidamente das cerimônias. "Não podemos imaginar sua ausência durante as festividades", disse o organizador.
Krzaklweski e Walesa têm travado uma guerra na atual campanha presidencial. Parece que já não há quem queira Walesa, e não é a primeira vez que ele luta contra seus antigos aliados.
Uma das vítimas iniciais de sua insaciável ânsia de poder foi Anna Walentynowicz, cujo desnudamento foi o estopim da greve. Teria sido ela também a pessoa que impediu o fim da mobilização. Após quatro dias de protesto, as autoridades polonesas atenderam às reivindicações.
Walesa decidiu concorrer ao primeiro mandato em junho de 1990. Todos que se opuseram foram convertidos em inimigos mortais. Acabou isolado em 1992.


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