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Para analistas, Campbell sai agora
para evitar desgaste no futuro
DE LONDRES
A demissão de Alastair Campbell, principal assessor do premiê
britânico, Tony Blair, está sendo
considerada como uma das primeiras consequências da disputa
com a BBC em torno de uma reportagem que acusava o governo
de ter exagerado um dossiê contra
o Iraque para justificar a guerra.
Campbell é identificado com o
que os britânicos chamam de
"spin", isto é, fazer com que alguma coisa pareça ser melhor do
que realmente é. E o "spin" está
na raiz da queda recorde de confiança dos britânicos no governo.
Campbell é uma das pessoas do
governo mais conhecidas do público e tornou-se personagem
central na briga com a BBC, assumindo uma linha dura e exigindo
uma retratação da rede de TV. Para analistas, ele cometeu o pecado
mortal para um "spin doctor"
-o especialista em "spin"-, ao
se tornar, ele próprio, a notícia.
"Quando um "spin doctor" passa a ser tão conhecido quanto seu
chefe, é o momento de sair", disse
o editor de política do "Guardian", Michael White. "Não há
dúvida de que Campbell se tornou um passivo para o governo",
disse Alan Bolton, editor de política da TV Sky.
Para Tim Fletcher, ex-editor do
"Independent on Sunday", o fato
de a confiança no governo ter caído mostra que ele não vinha fazendo um bom trabalho. Segundo ele, a maioria dos britânicos
acha que Campbell era um manipulador.
Até agora, as informações surgidas no inquérito que investiga a
morte de David Kelly, fonte da reportagem da BBC, inocentaram
Campbell da principal acusação
feita pelo repórter da BBC, Andrew Gilligan, a de que ele teria
comandado o suposto exagero do
dossiê contra o Iraque.
No entanto, segundo Michael
Cockerell, que fez uma biografia
de Campbell, a decisão de sair
agora foi uma ação preventiva,
porque, "em qualquer outro momento ele pareceria culpado".
Campbell era agressivo na condução de suas relações com a mídia, não deixava qualquer notícia
sem resposta imediata e muitos o
criticam por ter alimentado os
jornais tablóides, normalmente
sensacionalistas, com histórias
que eram de interesse do governo.
Para analistas, porém, Campbell é carismático, e Blair vai sentir
muito a sua falta. Polly Toynbee,
colunista do "Guardian", considera que muito poucos na posição dele teriam a sua resistência e,
apesar de todas as críticas, a mídia
gostava dos seus briefings, especialmente por causa de seu estilo
teatral.
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