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São Paulo, sábado, 30 de agosto de 2003

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Para analistas, Campbell sai agora para evitar desgaste no futuro

DE LONDRES

A demissão de Alastair Campbell, principal assessor do premiê britânico, Tony Blair, está sendo considerada como uma das primeiras consequências da disputa com a BBC em torno de uma reportagem que acusava o governo de ter exagerado um dossiê contra o Iraque para justificar a guerra.
Campbell é identificado com o que os britânicos chamam de "spin", isto é, fazer com que alguma coisa pareça ser melhor do que realmente é. E o "spin" está na raiz da queda recorde de confiança dos britânicos no governo.
Campbell é uma das pessoas do governo mais conhecidas do público e tornou-se personagem central na briga com a BBC, assumindo uma linha dura e exigindo uma retratação da rede de TV. Para analistas, ele cometeu o pecado mortal para um "spin doctor" -o especialista em "spin"-, ao se tornar, ele próprio, a notícia.
"Quando um "spin doctor" passa a ser tão conhecido quanto seu chefe, é o momento de sair", disse o editor de política do "Guardian", Michael White. "Não há dúvida de que Campbell se tornou um passivo para o governo", disse Alan Bolton, editor de política da TV Sky.
Para Tim Fletcher, ex-editor do "Independent on Sunday", o fato de a confiança no governo ter caído mostra que ele não vinha fazendo um bom trabalho. Segundo ele, a maioria dos britânicos acha que Campbell era um manipulador.
Até agora, as informações surgidas no inquérito que investiga a morte de David Kelly, fonte da reportagem da BBC, inocentaram Campbell da principal acusação feita pelo repórter da BBC, Andrew Gilligan, a de que ele teria comandado o suposto exagero do dossiê contra o Iraque.
No entanto, segundo Michael Cockerell, que fez uma biografia de Campbell, a decisão de sair agora foi uma ação preventiva, porque, "em qualquer outro momento ele pareceria culpado".
Campbell era agressivo na condução de suas relações com a mídia, não deixava qualquer notícia sem resposta imediata e muitos o criticam por ter alimentado os jornais tablóides, normalmente sensacionalistas, com histórias que eram de interesse do governo.
Para analistas, porém, Campbell é carismático, e Blair vai sentir muito a sua falta. Polly Toynbee, colunista do "Guardian", considera que muito poucos na posição dele teriam a sua resistência e, apesar de todas as críticas, a mídia gostava dos seus briefings, especialmente por causa de seu estilo teatral.


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