|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Nova lei americana recebe críticas da ONU e de ONGs
Especialistas vêem na medida sancionada ontem por Bush um "convite aos maus-tratos"
"É um dos maiores retrocessos na legislação na história dos EUA", afirma Human Rights Watch; Anistia promete campanha
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DE NOVA YORK
Da ONU a Londres e Bagdá,
as reações contra a lei aprovada
pelo Senado americano que dá
ao presidente George W. Bush
o poder de definir o que é tortura soaram em uníssono.
Entidades de direitos humanos e o investigador das Nações
Unidas contra a tortura, Manfred Nowak, disseram ver "violação de convenções internacionais", um "convite aos
maus-tratos" e o "aumento da
vulnerabilidade" do país a ataques terroristas.
"Temo que, com a nova lei, os
métodos de interrogatório não
mudem. Bush já disse que os
métodos duros vão continuar, e
essa é a minha preocupação",
afirmou Nowak.
A nova lei dá a Bush o direto
de definir, secretamente, se
quiser, quais procedimentos
poderão ser usados no interrogatório de presos acusados de
terrorismo, mandar prender
quem ele definir como "combatente inimigo", por quanto
tempo julgar necessário e sem
direito a contestação.
"É um dos maiores retrocessos na legislação na história dos
EUA. Imaginávamos que depois de Guantánamo, de Abu
Ghraib e das prisões secretas, o
governo tivesse aprendido que
maus-tratos e tortura não tornam o país mais seguro", avalia
Reed Brody, especialista jurídico do grupo Human Rights
Watch.
A Anistia Internacional,
ONG de defesa dos direitos humanos, divulgou nota em que
diz lamentar que o Senado dos
EUA tenha dado seu respaldo à
"aprovação de violações de direitos humanos cometidos pelos EUA na guerra contra o terrorismo". "A AI fará campanha
para revogar esta lei e espera
que a constitucionalidade desta
legislação seja questionada nos
tribunais", afirma a nota.
Em editorial na edição de hoje, o jornal britânico "Financial
Times" disse que os "EUA devem aprender que tortura gera
terrorismo", e o francês "Le
Monde" viu na lei "autorização
para a CIA usar métodos que
desrespeitam tanto a legislação
americana quanto a Convenção
de Genebra".
A aprovação da lei, que foi
sancionada ontem por Bush,
veio acompanhada da seguinte
declaração do presidente: "Os
críticos são influenciados pela
propaganda do inimigo, no sentido de que os terroristas nos
atacam porque os estamos provocando. Não se cria terrorismo ao combatê-lo. O Iraque
não é a razão pela qual os terroristas estão em guerra contra
nós. Estão em guerra porque
odeiam tudo que os EUA significam".
"Aplaudo o Congresso por
aprovar uma legislação que dotará nossos homens e mulheres
uniformizados das ferramentas
necessárias para proteger nosso país e ganhar a guerra contra
o terrorismo", completou.
Grampo
Em mais uma decisão que favorece Bush, a Câmara aprovou
projeto de lei que dá ao presidente a prerrogativa de mandar
grampear telefones por 90 dias,
mesmo sem autorização judicial. Na prática, o projeto legaliza rotina que o governo já vinha
adotando, como foi revelado no
início do ano pelo "New York
Times". A medida ainda precisa
do endosso dos senadores.
Ontem, o Senado aprovou
por unanimidade mais US$ 70
bilhões para as ações militares
do Iraque e do Afeganistão,
dentro de um orçamento militar recorde de US$ 448 bilhões.
Em vídeo divulgado na internet ontem, uma voz atribuída
ao número dois da rede terrorista Al Qaeda, Ayman al Zawahiri, chama Bush de "mentiroso" e "charlatão" e diz que ele
fracassou na guerra ao terror. A
autenticidade do vídeo não pôde ser confirmada.
Com agências internacionais
Texto Anterior: Raúl Castro nega democratização em Cuba Próximo Texto: EUA: Senado aprova construção de muro na fronteira com México Índice
|