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entrevista
País precisa de novo modelo de democracia
ANDREA MURTA
DA REDAÇÃO
Se a nova Constituição do
Equador poderá levar mais
estabilidade política ao país,
ela é também um risco para a
sua democracia, afirma Michael Shifter, vice-presidente da organização sediada
nos EUA Diálogo Interamericano. Leia a seguir trechos
da entrevista que ele concedeu à Folha, por telefone, de
Washington.
FOLHA - A redação da nova
Constituição poderá levar mais
estabilidade ao Equador?
MICHAEL SHIFTER - Sim, mas
também poderá minar a democracia. Pode haver uma
grande concentração de poder no Executivo, o que é certamente uma das intenções
da Assembléia Constituinte.
A curto prazo, isso traria um
cenário mais estável, mas
também poderá produzir um
sistema com uma Presidência muito forte -o que acabaria gerando demandas por
maior participação de alguns
grupos. Mas tudo depende
do que vai emergir deste processo. Eu acho que o Equador está bem posicionado
para a conquista da estabilidade sob Correa.
FOLHA - O fechamento do Congresso é um problema?
SHIFTER - Dada a baixíssima
popularidade dos legisladores, era inevitável que isso
acontecesse. O antigo sistema não era mais viável. A
grande pergunta é: o que vai
substituir o modelo atual do
Equador? Todos os atores
políticos tradicionais serão
derrubados? É bom que o
presidente tenha muito
apoio, mas ao mesmo tempo
é um risco muito grande.
FOLHA - Como o sr. avalia o projeto de Constituição que será
analisado na Assembléia?
SHIFTER - Conceitualmente,
é muito bom, mas há muitas
questões indefinidas.
Não se sabe qual será o
grau de autonomia das regiões nem qual será o papel
das Forças Armadas, ou o
que poderá contrabalançar o
poder do Estado. Eles querem reduzir a força dos partidos políticos, mas o que vai
substituí-los? Está muito
claro o que os equatorianos
rejeitam, mas não se sabe
qual é a alternativa.
FOLHA - Um dos pontos principais da nova Carta é afastar o país
da linha neoliberal. Esse é um caminho positivo para o Equador?
SHIFTER - Sendo o Equador
um produtor de petróleo, é
legítimo que o povo busque
uma maior participação nos
lucros. Mas esse nacionalismo será complicado, porque
eles não têm uma economia
forte o suficiente para arriscar a perda de investimentos
estrangeiros. Alguns investidores devem estar preocupados nesse momento com a
falta de segurança para o jogo
econômico. Não é um problema o Estado ter maior
controle, mas, quanto maior
for sua intervenção, mais vai
afastar investimentos.
FOLHA - Como o sr. compara o
estilo de governo de Correa e de
outros líderes esquerdistas latinos, como Hugo Chávez (Venezuela) e Evo Morales (Bolívia)?
SHIFTER - Talvez possamos
dizer que ele não tenta "personalizar" tanto a política
quanto Chávez, mas pode ser
que isso ocorra apenas porque Correa não está há tanto
tempo no poder. O processo
atual será um verdadeiro teste. A situação no Equador é
única, não há dúvida. Mas há
semelhanças. Equador, Bolívia e Venezuela rejeitam elites políticas tradicionais,
mobilizam novos atores sociais e fazem pressão por novas Constituições.
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