São Paulo, sexta-feira, 30 de novembro de 2007

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entrevista

País precisa de novo modelo de democracia

ANDREA MURTA
DA REDAÇÃO

Se a nova Constituição do Equador poderá levar mais estabilidade política ao país, ela é também um risco para a sua democracia, afirma Michael Shifter, vice-presidente da organização sediada nos EUA Diálogo Interamericano. Leia a seguir trechos da entrevista que ele concedeu à Folha, por telefone, de Washington.  

FOLHA - A redação da nova Constituição poderá levar mais estabilidade ao Equador? MICHAEL SHIFTER - Sim, mas também poderá minar a democracia. Pode haver uma grande concentração de poder no Executivo, o que é certamente uma das intenções da Assembléia Constituinte. A curto prazo, isso traria um cenário mais estável, mas também poderá produzir um sistema com uma Presidência muito forte -o que acabaria gerando demandas por maior participação de alguns grupos. Mas tudo depende do que vai emergir deste processo. Eu acho que o Equador está bem posicionado para a conquista da estabilidade sob Correa.

FOLHA - O fechamento do Congresso é um problema?
SHIFTER -
Dada a baixíssima popularidade dos legisladores, era inevitável que isso acontecesse. O antigo sistema não era mais viável. A grande pergunta é: o que vai substituir o modelo atual do Equador? Todos os atores políticos tradicionais serão derrubados? É bom que o presidente tenha muito apoio, mas ao mesmo tempo é um risco muito grande.

FOLHA - Como o sr. avalia o projeto de Constituição que será analisado na Assembléia?
SHIFTER -
Conceitualmente, é muito bom, mas há muitas questões indefinidas. Não se sabe qual será o grau de autonomia das regiões nem qual será o papel das Forças Armadas, ou o que poderá contrabalançar o poder do Estado. Eles querem reduzir a força dos partidos políticos, mas o que vai substituí-los? Está muito claro o que os equatorianos rejeitam, mas não se sabe qual é a alternativa.

FOLHA - Um dos pontos principais da nova Carta é afastar o país da linha neoliberal. Esse é um caminho positivo para o Equador?
SHIFTER -
Sendo o Equador um produtor de petróleo, é legítimo que o povo busque uma maior participação nos lucros. Mas esse nacionalismo será complicado, porque eles não têm uma economia forte o suficiente para arriscar a perda de investimentos estrangeiros. Alguns investidores devem estar preocupados nesse momento com a falta de segurança para o jogo econômico. Não é um problema o Estado ter maior controle, mas, quanto maior for sua intervenção, mais vai afastar investimentos.

FOLHA - Como o sr. compara o estilo de governo de Correa e de outros líderes esquerdistas latinos, como Hugo Chávez (Venezuela) e Evo Morales (Bolívia)?
SHIFTER -
Talvez possamos dizer que ele não tenta "personalizar" tanto a política quanto Chávez, mas pode ser que isso ocorra apenas porque Correa não está há tanto tempo no poder. O processo atual será um verdadeiro teste. A situação no Equador é única, não há dúvida. Mas há semelhanças. Equador, Bolívia e Venezuela rejeitam elites políticas tradicionais, mobilizam novos atores sociais e fazem pressão por novas Constituições.


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