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São Paulo, terça-feira, 30 de dezembro de 2003

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Bebê de 6 meses é resgatado após 72 horas

DA REDAÇÃO

Uma garotinha de seis meses foi resgatada ontem com vida nos escombros da cidade iraniana de Bam. Ela sobreviveu protegida pelos braços da mãe, morta durante o terremoto de sexta-feira.
O episódio provocou inesperada euforia, em meio ao luto e aos milhares de cadáveres que as equipes de resgate iranianas e estrangeiras retiram das ruínas da cidade histórica iraniana.
O bebê se chama Nassin e estava excepcionalmente saudável, apesar do período de 72 horas sem se alimentar ou ingerir líquidos, disse à agência de notícias Reuters o chefe de uma equipe de resgate.
Os pais e os irmãos de Nassin morreram com o desabamento da casa em que moravam. Mas a bebê foi a única sobrevivente porque, no momento em que o solo começou a tremer e as paredes a tombarem como folhas de cartolina, ela foi protegida pelos braços de sua mãe.
Depois de abraçá-la, a mãe virou-se para o chão e transformou o próprio corpo em escudo contra o teto que despencava.
Nassin chorava ao ser retirada ontem das ruínas. Estava enrolada num xale. Sobre ela, o corpo de sua mãe, já decomposto.
Ainda ontem uma garota de 12 anos também foi resgatada debaixo das ruínas de sua casa. Ela estava enfraquecida pela desnutrição e com uma perna fraturada.
No sábado uma outra criança foi encontrada com vida por uma equipe austríaca de resgate, que utilizou cães farejadores para localizá-la. O garoto morreu em seguida, em parte pela gravidade dos ferimentos, em parte porque foi sufocado por parentes que correram para abraçá-lo.

"Linha de montagem"
O jornal "The Independent" descreve a rotina das equipes de coveiros que trabalham em Bam e cidades vizinhas. "É uma operação parecida com a de uma linha de montagem industrial", diz o jornal britânico.
Os túmulos coletivos são abertos por tratores. Em seguida trabalhadores com máscaras para se proteger do odor cada vez mais forte da putrefação atiram os cadáveres para dentro das valas.
Outros tratores então se encarregam de tapá-las, levantando uma poeira amarelada e partindo para a abertura e o fechamento das valas seguintes. Uma das extremidades da vala ainda é preenchida de mortos enquanto a outra extremidade já é coberta de terra.
Os cadáveres chegam ao local reservado ao sepultamento na carroçaria de caminhões, empilhados em caminhonetes ou no assento traseiro de automóveis particulares.
Não há a possibilidade de alinhar os cadáveres no fundo da sepultura. Eles são empilhados. Chegam normalmente envoltos por lençóis ou mantas de lã. Exalam um cheiro fortíssimo.
Os coveiros são quase todos voluntários, do Crescente Vermelho Iraniano ou de uma milícia islâmica. Ao lado deles trabalham equipes de religiosos que dão conta sumariamente do ritual islâmico de sepultamento.
Os cadáveres deveriam ter o rosto, as costas e as mãos lavados. Mas não há água. Os mulás limpam o rosto com areia, ou às vezes nem isso conseguem fazer em razão da quantidade de mortos. Uma vala com 40 cadáveres começa a ser coberta. Mais adiante aguardam sepultamento alguma dezenas de crianças.


Com agências internacionais


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