São Paulo, quinta-feira, 31 de março de 2011

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Ditador da Síria desafia manifestantes

Bashar Assad atribui atos antigoverno a "complô estrangeiro", contradiz aliados e não suspende estado de emergência

Discurso foi o 1º desde o início dos protestos, há 11 dias; enfurecida, oposição promete fazer novas manifestações

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

No primeiro discurso público desde o início dos protestos na Síria, o ditador Bashar Assad atribuiu os atos a uma "conspiração estrangeira" e, diferentemente do que prometiam seus aliados, não suspendeu o estado de emergência vigente desde 1963.
A fala de Assad enfureceu ativistas, que o acusaram de desafiar a comunidade internacional e prometeram novas manifestações. Estima-se que, nos últimos 11 dias, ao menos 60 tenham morrido devido à repressão de protestos; oposicionistas estimam as mortes em mais de cem.
Sorridente, Assad, que está no poder desde 2000 -sucedendo ao pai, Hafez Assad, que governou por 29 anos-, discursou para um Parlamento que o interrompia frequentemente para aplausos.
O ditador alegou apoiar reformas, mas afirmou que elas não podem ser feitas por "modismo". "Quando elas só refletem uma onda que está passando pela região, podem ser destrutivas", disse, em clara referência às revoltas que derrubaram governos na Tunísia e no Egito.
Assad não deu, porém, nenhum sinal de que pretenda mudar o sistema de partido único. O ditador afirmou, ainda, que sua prioridade é melhorar a vida dos sírios.
"Lidar com o sofrimento da lei de emergência é algo que pode esperar; o que não pode esperar é o tratamento de uma criança cujo pai não possui recursos", declarou Assad, fortemente aplaudido pelo Parlamento governista.
Na saída, houve tumulto em torno de seu carro após uma mulher se aproximar com as mãos levantadas. Ela foi detida por seguranças.

REAÇÃO DOS EUA
Assad atribuiu a "grande conspiração" de que, segundo ele, a Síria é vítima a países "próximos e distantes", sem nomear nenhum deles.
A Síria faz ferrenha oposição aos EUA na região. Mark Toner, porta-voz do Departamento de Estado americano, classificou como "decepcionante" a fala do ditador.
Depois do discurso, houve novo protesto na cidade portuária de Latikia, no sul. Moradores disseram ter visto tropas do governo atirando, e uma testemunha declarou à rede CNN que houve conflito com ao menos 16 mortes.
No sul da Síria se concentram tribos muçulmanas sunitas, que se ressentem da elite governista, de origem alauíta (ligada aos xiitas).


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