|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Acusações de pedofilia vêm dos anos 50
da Reportagem Local
As suspeitas de pedofilia (abuso
sexual de menores) já rondam o
alemão Paul Schaefer desde os
anos 50, quando ele fundou, na
Alemanha, a Missão Social Privada, com o objetivo de abrigar
crianças que haviam ficado órfãs
durante a Segunda Guerra Mundial ou cujos pais não tinham condições de educá-las.
Fundada em 54, a instituição
cresceu rapidamente, mas, em 56,
um dos pais denunciou o abuso
sexual de seu filho por Schaefer.
Diante da acusação, ele deixou a
Alemanha. Em 61, obteve autorização para emigrar para o Chile e
instalar uma colônia alemã.
Inicialmente, ele trouxe 12 crianças alemãs. Outros grupos chegaram depois. Desde sua fundação, a
Colonia Dignidad se isolou do resto do país, rodeada por cercas de
arame farpado e por uma aura de
mistério que permanece até hoje.
"É difícil classificar a colônia. Algumas características se assemelham às de uma organização paramilitar, outras lembram uma seita, mas não uma seita religiosa",
afirmou à Folha o jornalista chileno Marcelo Araya, 42.
"É um grupo de pessoas que vive
em torno de um líder carismático,
com muita ascendência e poder
mental, e que se utiliza do terror
para manter seu domínio", diz.
Araya acaba de escrever o livro
"Procura-se: Paul Schaefer, Salvador ou Demônio da Colonia Dignidad?" (editora Cesoc, 1998), que
será lançado hoje no Chile.
Segundo Araya, cerca de 340
pessoas vivem dentro da colônia,
separados por sexo e por faixa etária. As crianças são criadas em
grupo, separadas dos pais. "Fiquei
impressionado ao ver que as
crianças não parecem reconhecer
seus pais e vice-versa. Não há uma
estrutura familiar", disse.
Há cerca de dez anos, Schaefer
criou um internato e ofereceu vagas para crianças chilenas vindas
de famílias pobres.
No início, os pais podiam ver os
filhos, mas depois as visitas foram
proibidas. A partir de 95, começaram a surgir as primeiras denúncias de abuso sexual, feitas por essas crianças que não eram provenientes da comunidade.
Em 96, quando 20 crianças já haviam relatado experiências de
abuso, a prisão de Schaefer foi decretada. Também existem denúncias, não-confirmadas, de que a
Colonia Dignidad teria colaborado com a repressão política ocorrida no Chile durante o regime militar do general Augusto Pinochet
(1973-90).
"Diversos presos políticos afirmam ter sido levados, com vendas
nos olhos, para um lugar longe de
Santiago, bem mais frio, onde dizem ter ouvido pessoas falando
em alemão", diz Araya.
Por fim, existem suspeitas de
que o regime de trabalho na colônia é excessivamente duro e de que
seus membros sofrem castigos físicos. Segundo Araya, os membros não podem deixar livremente
a colônia.
(OD)
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|