São Paulo, terça, 31 de março de 1998

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Acusações de pedofilia vêm dos anos 50

da Reportagem Local

As suspeitas de pedofilia (abuso sexual de menores) já rondam o alemão Paul Schaefer desde os anos 50, quando ele fundou, na Alemanha, a Missão Social Privada, com o objetivo de abrigar crianças que haviam ficado órfãs durante a Segunda Guerra Mundial ou cujos pais não tinham condições de educá-las.
Fundada em 54, a instituição cresceu rapidamente, mas, em 56, um dos pais denunciou o abuso sexual de seu filho por Schaefer.
Diante da acusação, ele deixou a Alemanha. Em 61, obteve autorização para emigrar para o Chile e instalar uma colônia alemã.
Inicialmente, ele trouxe 12 crianças alemãs. Outros grupos chegaram depois. Desde sua fundação, a Colonia Dignidad se isolou do resto do país, rodeada por cercas de arame farpado e por uma aura de mistério que permanece até hoje.
"É difícil classificar a colônia. Algumas características se assemelham às de uma organização paramilitar, outras lembram uma seita, mas não uma seita religiosa", afirmou à Folha o jornalista chileno Marcelo Araya, 42.
"É um grupo de pessoas que vive em torno de um líder carismático, com muita ascendência e poder mental, e que se utiliza do terror para manter seu domínio", diz.
Araya acaba de escrever o livro "Procura-se: Paul Schaefer, Salvador ou Demônio da Colonia Dignidad?" (editora Cesoc, 1998), que será lançado hoje no Chile.
Segundo Araya, cerca de 340 pessoas vivem dentro da colônia, separados por sexo e por faixa etária. As crianças são criadas em grupo, separadas dos pais. "Fiquei impressionado ao ver que as crianças não parecem reconhecer seus pais e vice-versa. Não há uma estrutura familiar", disse.
Há cerca de dez anos, Schaefer criou um internato e ofereceu vagas para crianças chilenas vindas de famílias pobres.
No início, os pais podiam ver os filhos, mas depois as visitas foram proibidas. A partir de 95, começaram a surgir as primeiras denúncias de abuso sexual, feitas por essas crianças que não eram provenientes da comunidade.
Em 96, quando 20 crianças já haviam relatado experiências de abuso, a prisão de Schaefer foi decretada. Também existem denúncias, não-confirmadas, de que a Colonia Dignidad teria colaborado com a repressão política ocorrida no Chile durante o regime militar do general Augusto Pinochet (1973-90).
"Diversos presos políticos afirmam ter sido levados, com vendas nos olhos, para um lugar longe de Santiago, bem mais frio, onde dizem ter ouvido pessoas falando em alemão", diz Araya.
Por fim, existem suspeitas de que o regime de trabalho na colônia é excessivamente duro e de que seus membros sofrem castigos físicos. Segundo Araya, os membros não podem deixar livremente a colônia. (OD)



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