São Paulo, sexta-feira, 31 de maio de 2002

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JAPÃO

Premiê, que já foi idolatrado, vê sua popularidade despencar de 91% para 40%

Encanto acaba e apoio a Koizumi cai

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
ENVIADO ESPECIAL A YOKOHAMA

O primeiro-ministro do Japão, Junichiro Koizumi, 59, já foi quase uma unanimidade em seu país. Era o homem que tiraria o Japão do atoleiro, da estagnação econômica que o atinge há uma década.
Logo que assumiu o posto, em abril de 2001, começou a ser idolatrado. Viu seu rosto ser estampado em camisetas, guardanapos, leques e outras bugigangas mais.
Mas isso faz parte do passado. Hoje, as camisetas e demais adereços que restaram com o rosto de Koizumi estão encalhados.
O comerciante Makoto Umehara, 54, de Yokohama, conta que chegava a vender "de 20 a 30 utensílios por dia com a foto de Koizumi". Hoje, os poucos que restaram não encontram saída.
"Achavam que ele seria a solução, que iria implantar reformas, fazer a economia crescer, mas não é o que está acontecendo", disse à Folha. "Hoje estão todos decepcionados. Ele está há mais de um ano no poder, e as coisas não mudaram nada. A impressão é que ele fala bem, mas lhe falta conteúdo. Entre a teoria e a prática há uma distância enorme. Foi aí que o povo se enganou."
Em abril de 2001, quando se tornou líder do Partido Liberal-Democrático (PLD) e virou premiê, pesquisas lhe davam 79% de popularidade. Subiu pouco a pouco -em junho, chegou a 86%; em agosto, a 91%. Mas parou por aí.
De lá para cá, desce ladeira abaixo. Pesquisa para o "Yomiuri Shimbun", um dos principais jornais do Japão, indica que o número de pessoas que se sentem desapontadas com Koizumi, pela primeira vez desde que ele assumiu o cargo, supera o das que estão satisfeitas. O apoio ao premiê, hoje, não passaria dos 40%.
Uma das maiores reclamações, diz a pesquisa, é que o governo não consegue implantar reformas econômicas. As vendas no varejo japonês têm caído desde 1999. Só ano passado, o recuo foi de 6%.
Com os preços em queda -devido à queda na demanda-, as margens de lucro das empresas japonesas teriam caído. Resultado: elas reduziram a produção e cortaram gastos e empregos.
Quando assumiu o governo, Koizumi havia prometido uma série de reformas, das quais fazia parte o projeto de sanear o sistema bancário. Como dentro do próprio PLD o primeiro-ministro tem sofrido pressão contra as mudanças, acaba ficando na estaca zero: só na base da promessa.
Para piorar o quadro, o governo tem sido envolvido numa série de escândalos políticos, incluindo denúncias de corrupção contra políticos próximos de Koizumi.
Há críticas também em relação à política externa. No incidente da "invasão" de guardas chineses no Consulado do Japão em Shenyang (China) -eles chegaram a passar pelo portão da missão diplomática para conter norte-coreanos que tentavam pedir asilo- , a mídia não perdoou o primeiro-ministro. Para a imprensa, ele demonstrou pouca força na discussão com Pequim.
Para os brasileiros que vivem no Japão -cerca de 260 mil-, a queda na popularidade do governo era mais do que esperada.
"Nós [estrangeiros] somos os primeiros a sentir os problemas. Hoje existem mais de 3 milhões de desempregados, o que mostra que não está fácil conseguir emprego. Se já é difícil para o japonês, imagine a situação do brasileiro", reclamou Ângelo Ishii, 37, que mora há 11 no Japão.
"O setor da construção até melhorou um pouco por causa da Copa [construção de sete novos estádios], mas isso já passou, e agora a situação está ruim novamente", comentou Mário Kawaguchi, 39, há quatro anos no Japão. "O jeito é fazer bico."



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