|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JAPÃO
Premiê, que já foi idolatrado, vê sua popularidade despencar de 91% para 40%
Encanto acaba e apoio a Koizumi cai
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
ENVIADO ESPECIAL A YOKOHAMA
O primeiro-ministro do Japão, Junichiro Koizumi, 59, já foi quase uma unanimidade em seu país.
Era o homem que tiraria o Japão do atoleiro, da estagnação econômica que o atinge há uma década.
Logo que assumiu o posto, em abril de 2001, começou a ser idolatrado. Viu seu rosto ser estampado em camisetas, guardanapos,
leques e outras bugigangas mais.
Mas isso faz parte do passado.
Hoje, as camisetas e demais adereços que restaram com o rosto de
Koizumi estão encalhados.
O comerciante Makoto Umehara, 54, de Yokohama, conta que
chegava a vender "de 20 a 30 utensílios por dia com a foto de Koizumi". Hoje, os poucos que restaram não encontram saída.
"Achavam que ele seria a solução, que iria implantar reformas,
fazer a economia crescer, mas não
é o que está acontecendo", disse à
Folha. "Hoje estão todos decepcionados. Ele está há mais de um
ano no poder, e as coisas não mudaram nada. A impressão é que
ele fala bem, mas lhe falta conteúdo. Entre a teoria e a prática há
uma distância enorme. Foi aí que
o povo se enganou."
Em abril de 2001, quando se tornou líder do Partido Liberal-Democrático (PLD) e virou premiê,
pesquisas lhe davam 79% de popularidade. Subiu pouco a pouco
-em junho, chegou a 86%; em
agosto, a 91%. Mas parou por aí.
De lá para cá, desce ladeira abaixo. Pesquisa para o "Yomiuri
Shimbun", um dos principais jornais do Japão, indica que o número de pessoas que se sentem desapontadas com Koizumi, pela primeira vez desde que ele assumiu o
cargo, supera o das que estão satisfeitas. O apoio ao premiê, hoje,
não passaria dos 40%.
Uma das maiores reclamações,
diz a pesquisa, é que o governo
não consegue implantar reformas
econômicas. As vendas no varejo
japonês têm caído desde 1999. Só
ano passado, o recuo foi de 6%.
Com os preços em queda -devido à queda na demanda-, as
margens de lucro das empresas
japonesas teriam caído. Resultado: elas reduziram a produção e
cortaram gastos e empregos.
Quando assumiu o governo,
Koizumi havia prometido uma
série de reformas, das quais fazia
parte o projeto de sanear o sistema bancário. Como dentro do
próprio PLD o primeiro-ministro
tem sofrido pressão contra as mudanças, acaba ficando na estaca
zero: só na base da promessa.
Para piorar o quadro, o governo
tem sido envolvido numa série de
escândalos políticos, incluindo
denúncias de corrupção contra
políticos próximos de Koizumi.
Há críticas também em relação
à política externa. No incidente da
"invasão" de guardas chineses no
Consulado do Japão em Shenyang (China) -eles chegaram a
passar pelo portão da missão diplomática para conter norte-coreanos que tentavam pedir asilo- , a mídia não perdoou o primeiro-ministro. Para a imprensa,
ele demonstrou pouca força na
discussão com Pequim.
Para os brasileiros que vivem no
Japão -cerca de 260 mil-, a
queda na popularidade do governo era mais do que esperada.
"Nós [estrangeiros] somos os
primeiros a sentir os problemas.
Hoje existem mais de 3 milhões
de desempregados, o que mostra
que não está fácil conseguir emprego. Se já é difícil para o japonês, imagine a situação do brasileiro", reclamou Ângelo Ishii, 37,
que mora há 11 no Japão.
"O setor da construção até melhorou um pouco por causa da
Copa [construção de sete novos
estádios], mas isso já passou, e
agora a situação está ruim novamente", comentou Mário Kawaguchi, 39, há quatro anos no Japão. "O jeito é fazer bico."
Texto Anterior: América Latina: Justiça peruana aprova extradição de Fujimori Próximo Texto: Nem a Copa salva índices econômicos Índice
|