São Paulo, quarta-feira, 31 de julho de 2002

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Mary Robinson critica EUA e diz que gostaria de seguir em cargo da ONU

DA REDAÇÃO

A comissária de direitos humanos da ONU, Mary Robinson, 57, disse que estava disposta a continuar no comissariado, mas as pressões dos EUA para sua saída eram demasiadas. Ela passará seu cargo em setembro para o brasileiro Sérgio Vieira de Mello, 54.
Segundo ela, as coisas mudaram desde que disse ao secretário-geral da ONU, Kofi Annan, no início de 2001, que gostaria de ficar apenas até 2002.
"As coisas ficaram muito mais difíceis para os direitos humanos. E eu não sou dessas pessoas que simplesmente dão as costas e fogem dos problemas", afirmou.
"Se eu tivesse insistido, poderia ter ficado. Mas parece que houve uma grande resistência por parte de um país", acrescentou.
Annan chegou a dizer, em conversas particulares, que se ressentia da indecisão de Robinson, ora querendo sair, ora querendo ficar no comissariado. A escolha do comissário para os direitos humanos é de responsabilidade dos secretário-geral da ONU. Apesar disso, a influência das potências mundiais é enorme.
A segunda pessoa a ocupar o cargo -criado em 1994-, a irlandesa Robinson fez duras críticas à Rússia, por causa das ações na Tchetchênia, e desagradou à China, por causa de comentários sobre a situação do Tibete.
O pior atrito da comissária, porém, foi com Washington, por criticar o modo como os prisioneiros feitos no Afeganistão estavam sendo tratados na base americana de Guantánamo, em Cuba.
Ela também questionou o uso de tribunais militares para julgar esses prisioneiros.
"Eu entendo que os EUA estejam traumatizados pelos ataques de 11 de setembro e que tenham se colocado numa situação de guerra. Por esse motivo mesmo eles não colocaram tanta ênfase nos direitos humanos. Porém, era meu trabalho dizer que os padrões de direitos humanos teriam de ser aplicados mesmo em uma hora como essa", afirmou.
Por ter sido presidente da Irlanda, Robinson crê ter podido fortalecer o cargo nos cinco anos em que esteve à frente do alto comissariado. Quanto ao brasileiro, ela disse que Vieira de Mello, um funcionário de carreira das Nações Unidas, agregará outros talentos.
"Ele trará habilidades que eu não tenho, contatos dentro do sistema da ONU. E ele terá a vantagem que eu não tive, a de assumir um comissariado mais forte", disse. O mandato do comissário é de quatro anos, renovável uma vez.


Com agências internacionais


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