São Paulo, sexta-feira, 31 de agosto de 2007

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Ex-premiê do Paquistão marca dia da volta

Ditador do país diz que haverá eleição em menos de dois meses, mas não revela quando deixará farda

DA REDAÇÃO

O ex-primeiro-ministro do Paquistão Nawaz Sharif, que vive no exílio desde 2000, anunciou ontem que voltará ao país no dia 15 de setembro, "para iniciar a jornada contra o ditador" Pervez Musharraf. Sharif lidera o terceiro maior partido do país, o PML-N, oriundo da Liga Muçulmana. A volta do ex-premiê pode dividir a facção principal da Liga (PML-Q), que controla 200 das 342 cadeiras parlamentares e hoje apóia o general Musharraf.
A oposição do PML-Q gerou um impasse nas negociações entre Musharraf e a ex-premiê Benazir Bhutto, que também vive no exílio. Após reunião com políticos do PML-Q contrários ao acordo com Musharraf anunciado na véspera por Benazir, o líder do partido negou ontem que haja uma aliança. "O que há são diálogos com vários partidos, inclusive o PPP [de Benazir]", disse.
Musharraf ecoou a negativa do consenso. O general não revelou quando pretende deixar o Exército -condição legal para que seja reconduzido ao cargo de presidente pelo Parlamento- e tampouco garantiu a retirada da cláusula constitucional que proíbe a eleição de ex-premiês.
A ausência de Sharif e Bhutto -que, depostos por golpes, não chegaram a completar seus mandatos- seria uma reviravolta no panorama eleitoral. Mas a manutenção do dispositivo, que pode ser derrubado pela Suprema Corte, não dependerá só da escolha do general, cuja aprovação é de apenas 25%, segundo pesquisa da principal TV paquistanesa.
Políticos do PML-Q chamaram de "oportunista" o empenho do principal articulador político de Musharraf, o ministro Rashid Ahmed -que coordenou campos de treinamento de guerrilheiros islâmicos nos anos 80- em articular uma aliança com o laico PPP.
Perguntado como um governo que se referia a Bhutto como "um risco para a segurança nacional" negocia hoje um acordo, o ministro disse que as negociações estavam sendo feitas sob doutrina da necessidade.
Após ter criticado a aproximação de Bhutto e do governo, Sharif adotou ontem um tom mais diplomático. Disse que, apesar das divergências, tem boas relações com a líder do PPP e concentrou suas críticas em Musharraf. Segundo Sharif, é preciso remover os dispositivos constitucionais pós-golpe, que desequilibraram a relação entre os três Poderes.
Ele evitou comentar o tempo em que se denominava "líder dos fiéis" e quando, no governo, aumentou os próprios poderes. Também relembrou suas "boas relações" com o Ocidente -que, no seu governo, impôs sanções ao Paquistão por desenvolver armas nucleares.

Eleição prometida
Musharraf pronunciou-se ontem sobre a mais bizarra das incertezas políticas do país -a ausência de calendário eleitoral às vésperas do limite legal para o pleito legislativo, já que o mandato do atual Parlamento termina em outubro. "As eleições gerais e presidenciais serão realizadas normalmente, entre 15 de setembro e 15 de outubro", afirmou. O general não disse, porém, se o próximo presidente será escolhido pelo atual Congresso, onde tem maioria, ou pelo próximo.


Com "Financial Times" e agências internacionais

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