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São Paulo, domingo, 08 de junho de 2003


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NEGÓCIO EM FOCO

Agências apostam no turismo pedagógico, mas lidar com jovens requer logística maior

Viagem escolar segue rumo ao lucro

MARIA HELENA MARTINS
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Uma nova modalidade de turismo, o pedagógico, vem chamando a atenção das principais operadoras do país. São viagens cuja finalidade é ensinar biologia, geografia, história e outras ciências.
A idéia é complementar o aprendizado feito em sala de aula com roteiros que variam de acordo com a necessidade da escola que promove a excursão. A filosofia é a do "aprender e se divertir", mas o negócio é coisa séria.
Pesquisa sobre o setor turístico realizada pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) no ano passado em 112 municípios constatou que 5% do total do turismo doméstico tem motivação religiosa ou educacional.
Esse pode ser um nicho interessante, afirma o professor de administração e ex-ministro do Turismo Caio Luiz de Carvalho, mas as agências precisam de diferencial. "É preciso inovar, senão o produto fica saturado e morre", diz.
Na opinião do professor de turismo da USP (Universidade de São Paulo) e coordenador da pesquisa da Fipe, Wilson Rabalty, o turismo pedagógico representa um "modismo" que tende a crescer, porque traz "atrativos para atender a outro tipo de público".
A rede Tia Augusta começou a trabalhar com destinos históricos há cinco anos. "Agora, esse serviço equivale a 40% do faturamento", calcula Alipio Camanzano, diretor comercial da operadora.
O cenário em 2002 e no início de 2003 foi difícil para o setor. Mas tudo indica que o resto do ano será favorável, diz Camanzano. "Desde março estamos negociando vários contratos com escolas."

Especificidades
Tecnicamente, o processo de logística das viagens pedagógicas é mais complicado do que o de uma viagem normal, já que envolve o controle de muitas crianças.
Gustavo Mello de Almeida, superintendente da GWA Turismo, contrata seguranças para acompanhar as viagens com menores de idade. "Imagine se um ônibus fura o pneu ou quebra em uma marginal. É preciso ficar atento à proteção dos jovens. Nós exigimos isso das escolas", explica.
Os cuidados adicionais, porém, encarecem a viagem. Um passeio de um dia, por exemplo, de São Paulo até o aquário de Santos custa em média R$ 50 por aluno.
A Apel Turismo, especializada nesse nicho, tem a mesma preocupação. "Antes de tudo vamos até o local, elaboramos um projeto para as escolas e não fechamos contrato sem ter antes a definição da programação", diz Almenor Tacla, diretor da agência. A expectativa de crescimento da empresa até o ano que vem é de 20%.
José Zunquim, dono da operadora Ambiental -que também trabalha com esse segmento-, emprega "um adulto para cada grupo de quatro alunos", por questões de segurança. "Nunca tivemos problemas", afirma.

Formação
Os profissionais que trabalham nas agências especializadas em turismo pedagógico são geralmente formados em biologia, geografia ou história. Às vezes, as próprias empresas são dirigidas por esses profissionais, como no caso da Caminhar Saídas Culturais, da empresária e professora de geografia Rosângela Simões.
De acordo com ela, houve nos últimos anos um grande aumento na procura por serviços com fins pedagógicos. São realizadas geralmente entre 15 e 20 excursões mensais, com uma média de 45 alunos por viagem. A expectativa de crescimento da empresa é de "pelo menos 10%" até 2004.
Os preços das excursões costumam variar bastante. A Ambiental, que promove saídas históricas, cobra conforme o tempo de permanência. O valor médio fica em torno de R$ 500 para uma excursão de ônibus que leve de dois a cinco dias. A agência faz quatro viagens do tipo por mês, levando cerca de 30 alunos por saída.
Para que a prática deslanche de vez, o superintendente da GWA Turismo, Gustavo Mello de Almeida, defende que haja mais investimentos e isenções tarifárias para o público jovem. "Hoje, uma criança com 12 anos de idade que viaja por uma companhia aérea paga tanto quanto um adulto", compara. Para ele, o Brasil deveria seguir o modelo norte-americano de descontos para estudantes.



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