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São Paulo, domingo, 14 de setembro de 2003


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Pequeno negócio enfrenta dificuldades para remunerar várias famílias e gera disputas por patrimônio

Família precisa se profissionalizar

FREE-LANCE PARA A FOLHA

Com a morte do empreendedor, em vez de um dono, o negócio passa a ter dois, três ou mais sócios, dependendo do número de herdeiros. Mas a empresa que sustentava uma família não fatura o suficiente para manter duas ou três na geração seguinte.
O fenômeno é chamado pulverização societária e é a causa de muitos conflitos na hora de dar continuidade ao empreendimento. Com ele, surge a falta de liquidez: um quer tocar a empresa, outro quer vender sua parte, mas não há dinheiro para a transação.
"O melhor negócio do mundo não resiste a uma briga de família ou a uma encrenca de sócios", afirma Renato Bernhoeft, consultor de empresas familiares.
De acordo com ele, os herdeiros devem se programar para que a empresa não seja a única fonte de renda dos envolvidos. "É ilusão pensar que um negócio pequeno manterá várias famílias", declara.

Testamento
O ideal é que, em vida, o empresário planeje a sucessão. O processo -que deve ser feito às claras, com a participação de todos os interessados, para evitar surpresas na hora de abrir o testamento- serve para definir quem fica com cada um dos bens e quem assumirá a administração, definindo direitos e obrigações.
"É muito problemático ficar sozinho em uma empresa com todos esperando que você realize algo e pague os dividendos. O administrador não consegue resistir à pressão, e o caixa da empresa não consegue gerar dinheiro para remunerar toda a família e seus apêndices", aponta o advogado Ordélio Azevedo Sette.
Quando a questão é levada à Justiça, diz ele, a consequência costuma ser a dissolução da sociedade. "Todos perdem, inclusive o que ajuizou o processo, porque não há dinheiro para pagar."
A profissionalização é outro caminho para minimizar conflitos e, ao contrário do que se pensa, diz Bernhoeft, não significa que a empresa deva deixar de ser familiar. Ele explica: é preciso profissionalizar a família (para que ela seja capaz de administrar ou controlar a administração de terceiro), a sociedade (fazendo acordo societário para definir direitos e obrigações dos sócios) e a empresa (mantendo nela profissionais competentes, parentes ou não).

De pai para filho
Flávio Alves da Silva, 28, diz que começou a atuar na distribuidora do pai, a Só W.Diesel Comércio de Parafusos e Peças, há 11 anos e passou por todos os departamentos. Há um ano, assumiu a diretoria-geral. "Meu pai não participa mais dos novos projetos, mas sempre dá conselhos."
O músico Emilio Carrera, 52, ex-pianista do grupo Secos e Molhados e dono da produtora musical Piano, conta que se surpreendeu ao perceber no filho Gabriel, 24, a continuação de seu trabalho. "É uma empresa muito pessoal. Não via outra pessoa capaz de gerenciá-la. A descoberta do talento dele me emociona muito", diz.
Já Mário Marcondes dos Santos, 27, afirma que a mãe, pensando em se aposentar, transferiu a maior parte dos negócios -entre eles o hospital veterinário Sena Madureira- para os três filhos e a nora. Ficou com a área financeira, mas desligou-se dos departamentos comercial, médico e administrativo. "Ela diz que depende de mim e que se aposenta quando eu me sentir pronto."



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