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O CLIENTE É O CHEF
Restaurantes flexibilizam menu e tentam ganhar adeptos com pratos que tenham "a cara do consumidor "
Fast food quer cliente mestre-cuca
CARLOS BRAZIL
FREE-LANCE PARA A FOLHA
O cliente agora é o chef. Oferecer ao consumidor liberdade não
só de escolha mas também de
montagem dos pratos virou estratégia de empreendedores no concorrido setor de alimentação.
É o que alguns analistas apontam como reflexo de uma tendência mais ampla, a da "customização" -quando o prestador dá a
oportunidade de o cliente escolher e personalizar o produto ou o
serviço que está adquirindo.
"A tendência geral é oposta à de
massificação", avalia Zilla Patrícia
Bendit, professora de marketing e
assessora de desenvolvimento
institucional da FGV-SP (Fundação Getulio Vargas de São Paulo).
"Trata-se da flexibilização da
oferta para atender melhor", diz o
consultor de marketing do Sebrae-SP (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São
Paulo) Gustavo Carrer Azevedo.
A rede de restaurantes Spoleto é
um dos exemplos bem-sucedidos
de aposta nesse filão. A idéia nasceu em 97, com uma loja-laboratório montada no Rio de Janeiro.
Durante dois anos os sócios-fundadores, Eduardo Ourivio e Mário Chady, testaram soluções no
segmento do "crie-seu-prato".
No formato atual, o cliente define massas, saladas e carpaccios
com ingredientes, acompanhamentos e molhos à sua escolha.
Em 99, iniciaram o processo de
ampliação da rede por meio do
sistema de franquias. Ao final daquele ano, eram cinco lojas. Hoje,
pouco mais de três anos depois, já
são 58 unidades -12 próprias e
46 franqueadas, espalhadas em
dez Estados e no Distrito Federal.
"Hoje se valoriza mais o que cada indivíduo quer, o que o cliente
quer", afirma Chady. A expectativa da rede é chegar, até o final deste ano, a 85 unidades no país.
Cérebro
No restaurante Ghiottone, em
Moema (zona sul), a estratégia ganhou o nome de "massa interativa": um balcão refrigerado com
20 ingredientes em média, dez tipos de massa e seis molhos básicos fica à disposição para combinações diversas. "O cliente dá a
receita. É o cérebro do cliente com
a mão do cozinheiro", resume o
proprietário, Renan Siqueira, 30.
A atração, utilizada no jantar, é
retirada do cardápio no almoço.
"Se um cliente que já conhece o
sistema pede, nós fazemos, mas
estamos priorizando o almoço
executivo, que é uma opção mais
rápida e mais competitiva", diz.
Além de exigir mais tempo e mais
envolvimento do cliente, a interação custa mais (R$ 18, contra cerca de R$ 10 do almoço executivo).
Às terças-feiras, o restaurante
ainda tem o espaço "Cuoco Galante" (cozinheiro elegante), em
que o próprio cliente põe a mão
na massa: veste avental e vai à cozinha preparar o próprio prato.
"Mas as pessoas ainda não aceitaram a idéia, ficam tímidas."
Ter um cardápio com pizzas inventadas pelos clientes -e batizadas com nomes e apelidos dos
criadores- foi a tática da Alho no
Azeite Pizzas, aberta na zona norte em abril. O restaurante incentiva o cliente a preencher uma ficha
e sugerir ingredientes para uma
nova pizza. "Foram 120 sugestões
até agora", conta o dono, Marcelo
Malta, 33, que está montando um
banco de dados dos clientes.
O menu, que já tem 12 receitas
com nomes de amigos de Malta,
deve ganhar em breve a primeira
pizza sugerida: carne seca com
purê de abóbora -criação da
meteorologista Márcia Maria Gomes Costa, 35. "Achei uma boa
idéia. É um jeito de inovar e aproveitar as sugestões", afirma ela.
De olho no fogão
O preparo dos pratos diante dos
olhos do consumidor é outro chamariz de quem adota a estratégia
da personalização. Exemplo disso
são os restaurantes Ráscal, do
grupo Viena. Apesar de a rede de
cinco lojas ter como foco principal o serviço de bufê self-service,
também investe no preparo de
massas e pratos rápidos pelo chef,
posicionado no centro do restaurante, em contato com os clientes.
Segundo a rede, a iniciativa de
pôr o chef no centro do salão deu
tão certo que será estendida às
unidades da Viena Delicatessen
(com 13 restaurantes), que pertence ao mesmo grupo. O serviço,
diz a rede, faz com que o prato seja entregue ao consumidor no
ponto desejado e com um ar de
exclusividade no atendimento.
Custos e riscos
Em relação às despesas do serviço "customizado", as redes que
adotam essa estratégia afirmam
não haver aumento em comparação com os demais formatos,
mesmo os de serviço à la carte. Para elas, o planejamento de distribuição, armazenamento e preparo dos alimentos permite um controle eficiente dos custos.
Os empresários também descartam o risco de "banalização",
como muitos especialistas dizem
ter ocorrido com os restaurantes
de comida vendida por peso. "O
problema é que os restaurantes
que adotaram o sistema de quilo
entraram na briga apenas dos
preços, sem se preocupar mais
profundamente com a qualidade
dos produtos e dos serviços", diz
Luis Felipe Cunha Campos, diretor comercial e sócio da Spoleto.
Colaborou Bruno Lima, free-lance para
a Folha
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