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São Paulo, domingo, 22 de junho de 2003


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GESTÃO

Nos EUA, 56% não conhecem os objetivos das firmas

Funcionários atuam "às cegas" na empresa

EDSON VALENTE
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Olhe bem para seu time de funcionários e pergunte a si mesmo: é possível passar boa parte da vida em um mesmo emprego sem saber exatamente quais são os valores e objetivos da empresa?
Pesquisa sobre produtividade no ambiente de trabalho, concluída em abril pela consultoria FranklinCovey com trabalhadores dos Estados Unidos, mostra que sim. Só 44% dos 11 mil entrevistados conheciam as metas das firmas.
Como consequência disso, ocupam 49% de seu tempo de trabalho com tarefas desligadas das prioridades organizacionais.
Mas o problema não está restrito ao mercado norte-americano. "Sentimos ausência de foco aqui também", diz Paulo Kretly, presidente da FranklinCovey Brasil.
"O brasileiro é até mais comprometido do que o norte-americano, mas, devido à falta de organização, tem baixa produtividade." Ou seja, ficar até as 22h no escritório pode ser um hábito nas empresas locais, mas o grande número de horas trabalhadas não significa um bom desempenho.
"É preciso melhorar o gerenciamento do tempo", afirma Kretly. "As pessoas usam palmtop, computador, várias agendas, mas acabam se complicando ainda mais."
Em razão dos enxugamentos nas empresas, a redistribuição de tarefas pode deixar a equipe ainda mais perdida. Mais de 40% dos entrevistados na pesquisa se queixaram do acúmulo de atividades.

Ausência de clareza
A maior preocupação dos consultores não é com empregados, mas com patrões. Diz respeito à pouca transparência dos objetivos corporativos. Segundo Gilberto Guimarães, diretor da BPI, a grande maioria dos trabalhadores não sabe o que é esperado dela.
"Acabam fazendo coisas que os mantêm ocupados e evitam que levem broncas, o que, em geral, é o único feedback [retorno] que recebem [da chefia]. A culpa é dos líderes e gerentes", explica.
Ele completa: "Isso acontece em todos os países. Na maioria das empresas não há acesso a resultados. Os diretores comemoram na sala de reuniões, mas os trabalhadores ficam sem saber por quê".
Para Marcelo Mariaca, diretor-presidente da Mariaca & Associates, as empresas dos EUA divulgam mais a sua missão e os seus valores organizacionais porque boa parte é de capital aberto e "tende a ser mais transparente, publicando relatórios anuais".
"Já as brasileiras, a maioria de capital fechado, são mais herméticas, principalmente as pequenas. São hábitos antigos. Calculo que apenas entre 5% e 7% dos empregados no Brasil conheçam claramente as metas das empresas em que atuam", completa.
"Não dá para se comprometer com algo que não se sabe o que é", resume Renato Gutierrez, gerente da Deloitte Touche Tohmatsu.
E o comprometimento vem caindo, diz José Hipólito, da Growth Consultoria. "Antes as pessoas passavam um tempo maior da vida na mesma empresa. Hoje deslocam o comprometimento para a própria carreira. Às empresas cabe alinhar seus objetivos com os dos empregados."



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