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Ataque a site do Vaticano revela táticas usadas por hackers

Por NICOLE PERLROTH e JOHN MARKOFF

SAN FRANCISCO - O movimento de hackers conhecido como Anonymous vem lançando ataques na internet contra organizações muito conhecidas, como a Sony e uma rede de televisão americana. Em agosto, o grupo escolheu como alvo o Vaticano.

A campanha contra o Vaticano envolveu centenas de pessoas. Um grupo central angariou apoio ao ataque, usando YouTube, Twitter e Facebook. Outros membros procuraram pontos de vulnerabilidade no site do Vaticano e, quando a busca não resultou em nada, convocaram recrutas amadores para inundar o site de visitas, na esperança de que ficasse paralisado, de acordo com uma firma de segurança de computadores.

Apesar de ter fracassado, o ataque fornece um raro vislumbre das táticas de recrutamento, reconhecimento e guerra do misterioso coletivo de hackers.

Tendo chamado a atenção pela primeira vez em 2008, com um ataque à Igreja da Cientologia, o Anonymous já lançou centenas de outros ataques desde então, escolhendo como alvos organizações que vê como inimigas, como órgãos policiais, empresas de segurança na internet e adversários do site WikiLeaks, que vaza documentos confidenciais.

O ataque do Anonymous ao Vaticano é detalhado em um relatório da Imperva, empresa de segurança de computadores com sede em Redwood City, na Califórnia.

Embora a Imperva não tenha mencionado o Vaticano em seu relatório, duas pessoas informadas sobre a investigação confirmaram ter sido esse o alvo do ataque. A Imperva tinha sido contratada pela equipe de segurança do Vaticano para bloquear o ataque.

O ataque foi denominado Operação Fariseu, numa alusão à seita de judeus radicais cujos membros Jesus tachou de hipócritas. Foi organizado por hackers na América do Sul e no México e seu timing foi planejado para coincidir com a visita do papa Bento 16 a Madri, em agosto de 2011, no Dia Mundial da Juventude.

De acordo com mensagens divulgadas no YouTube por uma figura do Anonymous usando uma máscara de Guy Fawkes, o objetivo dos hackers era perturbar o evento e chamar a atenção aos abusos sexuais de crianças por membros do clero católico.

Os hackers passaram semanas divulgando a mensagem através de seu próprio web site e de redes sociais como Twitter e Flickr. A página deles no Facebook pedia que voluntários descarregassem softwares gratuitos de ataque e "impedissem o abuso infantil".

Então teve início a fase de reconhecimento. Um grupo de uma dúzia de hackers habilidosos passou três dias vasculhando o site feito pela igreja para o Dia Mundial da Juventude, usando softwares de scaneamento para procurar brechas comuns de segurança.

Nada foi encontrado. Então os hackers recorreram à abordagem da força bruta: uma chamada negação distribuída de serviço, ou DDoS (Distributed Denial of Service), no qual um site é bombardeado de pedidos de dados, até ficar paralisado. Mesmo ativistas pouco habilidosos podiam participar acessando o site a partir de seus computadores ou smartphones.

"O Anonymous é um punhado de gênios cercado por uma multidão de idiotas", disse o escritor Cole Stryker, que já pesquisou o movimento. "Você tem quatro ou cinco sujeitos que realmente sabem o que estão fazendo e milhares de pessoas que divulgam os ataques ou usam seus computadores para participar num ataque DDoS."

Hackers envolvidos no ataque ao Vaticano disseram, através de uma conta do Twitter ligada à campanha, que o esforço de dois dias conseguiu reduzir a performance do site e tornar a página indisponível "em vários países".

A Imperva negou que a performance do site tenha sido afetada, dizendo que o Vaticano, diferentemente da Sony e de outros alvos de hackers, investiu na infraestrutura necessária para repelir tanto as invasões quanto os ataques em grande escala.

Os ataques que foram ameaçados contra a Bolsa de Nova York e o Facebook no fim do ano passado aparentemente não deram certo. Mas os hackers parecem ter reconquistado ímpeto em janeiro, depois de autoridades federais terem fechado o popular site de partilha de arquivos Megaupload.

Em retaliação, hackers ligados ao Anonymous derrubaram temporariamente dezenas de sites, incluindo os do FBI, da Casa Branca e do Departamento de Justiça dos EUA. Eles conseguiram até mesmo espionar uma teleconferência entre o FBI e a Scotland Yard.

Em dado momento, o Anonymous prometeu "fechar a internet no dia 31 de março", atacando servidores que realizem funções de distribuição para a internet. "O Anonymous é uma ideia, um movimento global de protesto de ativistas nas ruas e hackers na rede", disseram os hackers por meio da conta do Twitter. "Qualquer pessoa pode ser Anonymous, porque somos uma ideia sem líderes. Defendemos a liberdade e promovemos o conhecimento livre."

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